Segundo o Mapa da Inadimplência e Renegociação de Dívidas do Brasil, produzido pelo Serasa, o País cresceu em 16% no total de pessoas inadimplentes entre agosto de 2021 e o mesmo mês em 2024, passou de 62,25 milhões de inadimplentes para 72,46 milhões. Os dados preocupam os especialistas, que ressaltam a importância da educação financeira desde a base, não somente nas escolas mas dentro de casa, para que crianças, adolescentes, adultos e idosos tenham consciência de gastos a fim de evitar o endividamento.
Em entrevista ao RDtv, o coordenador do Centro de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão da Fundação Santo André, Lúcio Flávio Franco, afirma que quando falamos de educação financeira não falamos apenas das crianças ou da terceira idade, são de todas as pessoas envolvidas, que sabem o quanto ganham mas não gastam da melhor maneira.
Apesar da queda de consumidores endividados de junho para julho, sendo 78,5% (redução de 0,3 ponto percentual) das famílias brasileiras, conforme indica o PEIC (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), Franco destaca que ainda há um longo caminho a percorrer para a sociedade brasileira ter noções de consumo.
“Acredito que não haja um perfil de endividado, mesmo que as pesquisas indiquem que a maioria é mulher na faixa de 40 anos. A realidade é que todos são responsáveis pelos seus gastos, e da mesma maneira que o homem não teve educação financeira na infância, a mulher também não teve, e desse modo, entendemos a complexidade do problema”, comenta Franco.
Sobre o público mais novo, como crianças e adolescentes, o governo federal sancionou a Lei 9.649/2024 que prevê a inclusão de conteúdos relativos à educação financeira nas escolas municipais. A ação, por sua vez, é insuficiente e precisa de outros fatores para dar certo, segundo o docente.
Fatores de endividamento
Apesar de haver conteúdos sobre educação financeira nas redes sociais, Franco explica que as próprias mídias manipulam e contribuem com o consumismo desenfreado, isso por que, em sua maioria, apresenta descontos e tendências que engajam as pessoas a gastarem o dinheiro que não possuem, sugerindo o endividamento.
Outro fator chave é o cartão de crédito, que segundo ele, é gastar um dinheiro que não tem. A facilidade do transporte do item, além de smartphones atuais que possuem tecnologia de aproximação, favorecem comprar compulsivas e desenfreadas. “As bets também entram nessa equação, principalmente pois é gastar o dinheiro em lugar que não tem garantia de retorno, ou seja, como se fosse jogá-lo fora”, diz.
Como complemento das causas das redes sociais no consumo, o especialista destaca a necessidade social de viver em um padrão de vida que não se tem e que é insustentável. Em suas palavras, “é importante saber o quanto ganha para determinar o quanto pode gastar, de forma realista”, afirma.
Gestão financeira
Para Franco, há diversos modelos abordados por especialistas que auxiliam na gestão financeira, para organizar o que ganha e destina aos gastos, reservas e investimentos. Desse modo, sugere que antes de qualquer movimento, é importante que o consumidor coloque na ponta do lápis a sua renda e para onde é destinada. Assim, se separa: ganhos, gastos, sobras e investimentos.
A melhor forma de ter uma organização financeira eficiente, diz, é buscar conhecimento. “Somos bombardeados constantemente por informações que nos direcionam para compra e pouco se fala sobre a importância da educação financeira. Quando o boleto chega no fim do mês, é que percebemos se os gastos estão de acordo com a nossa realidade e caso não, precisamos buscar reverter a situação para evitar o crescimento das estatísticas”, comenta Franco.