Privatizações de aeroportos não vão resolver problemas, diz Iata

Privatizar aeroportos, seja vendendo os ativos ou realizando concessões, não resolverá como um passe de mágica as dificuldades enfrentadas pelo setor aéreo brasileiro. A avaliação é de Alexandre de Juniac, diretor geral e CEO da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês), que reúne mais de 280 empresas de todo o mundo. “Em geral, não somos favoráveis a privatizações. Recomendamos aos governos que tenham cuidado com esse processo”, disse o porta-voz, em evento promovido à imprensa.

A Iata tem feito fortes críticas ao modo com que as concessões aeroportuárias têm sido realizadas em todo o mundo – e o caso do Brasil não é diferente. Em junho, a entidade publicou um estudo com a consultoria McKinskey revelando que as privatizações no setor encareceram os serviços aos consumidores, elevaram custos às aéreas e não trouxeram ganhos de eficiência substanciais.

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O principal problema, na visão da associação de aéreas, está na modelagem das privatizações. Governos costumam estruturar os processos apressadamente e com uma visão extremamente de curto rápido, olhando para a venda ou concessão do ativo como meros geradores de caixa, diz a Iata. Assim, os responsáveis pelas concessões nem sempre escolhem as melhores regras e estratégias para garantir benefícios de longo prazo aos viajantes e às empresas que atuam nos terminais.

A declaração vem em um momento em que o País se prepara para realizar uma nova rodada de concessões aeroportuárias, seguindo com o processo iniciado em 2011 com o terminal de Natal (RN). O próximo leilão envolverá 12 aeroportos, divididos em três blocos regionais – Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste – e está marcado para o primeiro trimestre de 2019.

E a equipe econômica do novo presidente eleito, Jair Bolsonaro, já indicou que planeja engrossar a lista de terminais aeroportuários para concessão à iniciativa privada. Nos planos, estão Congonhas (SP) e Santos Dumont (RJ), considerados as “joias da coroa”.

Regulamentação

A Iata acredita que, no caso do Brasil, as preocupações do governo e de agentes do setor deveriam estar voltadas principalmente a questões regulatórias, e não tanto à infraestrutura aeroportuária – que, embora seja vital à indústria, não se mostra tão precária e saturada quanto em outros países da América Latina e do mundo.

Peter Cerdá, porta-voz da entidade para a região, elogia o trabalho de desregulamentação feito pela Anac nos últimos anos, mas lamenta que o Congresso brasileiro tente “matar” algumas das iniciativas. Um dos exemplos são as taxas cobradas para a marcação antecipada dos assentos, implementadas após a resolução 400, da Anac – há um projeto de lei contrário à medida.

Porém, Cerdá se diz otimista com as perspectivas para o próximo governo no âmbito regulatório. Ele observa que a nova equipe tem assumido posições “pró-mercado” e que pode acolher algumas das sugestões feitas pela entidade de aéreas.

*A jornalista viajou a convite da Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês)

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