Itabiritos amplia vida de minas da Vale

Berço das operações da Vale na década de 40, o Quadrilátero Ferrífero mineiro é uma das apostas da mineradora para ganhar eficiência e reduzir custos de produção em meio ao bombardeio de más notícias vindas da China e da queda do preço do minério de ferro aos menores níveis desde 2008. Até o fim do ano a empresa conclui na região o Projeto Itabiritos, que permitirá o aproveitamento de minérios pobres em ferro e estenderá em até 20 anos a vida útil de minas nos complexos de Itabira e Vargem Grande (MG). O investimento de US$ 5,5 bilhões é o segundo maior da Vale, atrás do S11D, em Carajás (PA).

Desde de 2010 a mineradora tem investido na construção e adaptação de quatro usinas de beneficiamento capazes de tornar rentável o itabirito compacto, um minério com até 40% de ferro e alto nível de contaminantes como a sílica, que reduz o valor da commodity. Nas últimas quatro décadas a Vale acumulou milhões de toneladas desse “patinho feio” em pilhas. Agora, graças à inovação no processamento – mais britagem, moagem e retirada de impurezas – ele atingirá, em média, teor de 68% de ferro, próximo ao de Carajás, o melhor do mundo.

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“Vínhamos sofrendo duas vezes: com a queda da produção e com o aumento do custo (de operação) dessas minas. Em dois a três anos não haveria viabilidade econômica. O direcionador é a manutenção das operações em Nova Lima e Itabira”, diz Carlos Miana, diretor de Projetos de Ferrosos Sudeste da Vale.

A usina Conceição de Itabiritos II entrou em operação em junho e até dezembro será a vez de Cauê Itabiritos. Ambas ficam no Complexo Itabira, assim como Conceição Itabiritos I, a primeira do projeto, inaugurada em 2013. Juntas, receberam aportes de US$ 3,9 bilhões. Outros US$ 1,6 bilhão foram investidos na planta de Vargem Grande, construída em uma área que abarca os municípios de Nova Lima, Rio Acima e Itabirito, na região metropolitana de Belo Horizonte. Em atividade desde novembro a usina opera a 50% de sua força.

As quatro usinas vão repor 39 milhões de toneladas de capacidade de minas da Vale que caminhavam para a exaustão, e adicionar 26 milhões de toneladas à sua produção anual. A maior parte (80%) será de pellet feeds, usados para fabricar pelotas. A produção nos complexos saltará 49%, para 90 milhões de toneladas em 2016. A vida da mina de Abóboras será prolongada de 2029 para 2050. A operação da planta de Vargem Grande já se refletiu nos números de produção do sistema Sul, que no segundo trimestre foi o mais alto desde 2007.

Os sistemas Sul e Sudeste, em Minas Gerais, concentram as minas mais antigas da Vale e respondem por mais de 50% da produção. A primeira operação de minério de ferro da empresa foi Cauê, em Itabira, inaugurada em 1942. A mina da Itabira Iron Ore Company foi incorporada à Companhia Brasileira de Mineração e Siderurgia, resultando na criação da então Companhia Vale do Rio Doce. O sistema Norte, em Carajás, só entrou em operação em 1985.

Redução

Com o caixa pressionado, a Vale se concentrou em grandes projetos de seu carro-chefe, mirando produtividade, qualidade e redução de custos. O maior deles é o S11D, em Carajás: US$ 16,4 bilhões. Em seguida vem Itabiritos, o principal dos sistemas Sul e Sudeste, onde a Vale reduz a produção em minas pouco competitivas. Em 2015, o corte será de 25 milhões a 30 milhões de toneladas.

No Itabiritos, a Vale calcula reduzir custos operacionais graças a menor movimentação nas minas, com menor gasto com caminhões, diesel e manutenção, já que as pilhas do compacto estão prontas para serem lavradas. Ao lado de projetos como N4WS, em Carajás, a Vale põe o início das operações em Conceição Itabiritos I e Vargem Grande entre os fatores-chave para a queda do custo de produção de seu minério entregue no porto a menos de US$ 20 no primeiro trimestre. A meta no ano é reduzi-lo em mais US$ 2, para US$ 17,8.

O Projeto Itabiritos também está dentro da estratégia de reduzir o preço médio de equilíbrio (entre despesas e receitas) de US$ 43 a tonelada para entre US$ 37 e US$ 41 em 2015. O diretor da Vale frisa que no atual cenário de concorrência acirrada, minérios de baixa qualidade não têm espaço ou dão margens negativas. Já os de alto teor têm um prêmio porque reduzem custos e a poluição das siderúrgicas, as maiores clientes da mineração.

Expansão

Para o analista Rodolfo Angele, do J.P. Morgan, o Projeto Itabiritos faz todo sentido. “Mineração é mina, logística e concentração industrial. A Vale já tinha os dois primeiros e precisava de um investimento marginal comparado a um projeto que começaria do zero”, diz. O analista explica que ainda que o beneficiamento do itabirito compacto seja mais caro, a Vale ganha no preço final de venda do mineiro. Isso porque o desconto decorrente do alto teor de sílica no minério dos complexos será atenuado. Em Conceição Itabiritos I, primeira planta a rodar, a presença de sílica havia caído de 11,2% para 2,1% de janeiro a agosto do ano passado.

Em 2014 a Vale apresentou a analistas, em visita a Itabira, estimativas para uma expansão futura do Itabiritos. Ela envolveria as minas de Mariana, Pico, Fábrica e Jangada, e orçamento de US$ 7,5 bilhões a US$ 10 bilhões no período de 2018 a 2022. Com o minério a US$ 50, a ideia fica na prateleira. O fim da primeira fase do Itabiritos será, aliás, um peso a menos no orçamento da Vale.

“Não é o momento, até porque a Vale tem projetos de custo baixíssimo entrando em operação na mina em Carajás. O Itabiritos é interessante, transforma um minério que era lixo em premium. É pena entrar em operação com preços tão baixos”, diz o analista Luiz Caetano, da Planner Corretora.

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