
O Sindicato da Habitação (Secovi) realizou levantamento sobre os números de vendas de imóveis em fevereiro deste ano e o cenário revelou-se negativo. Toda a Região Metropolitana comercializou 486 unidades, uma queda de 17,9% em comparação com o mês anterior. Em 2014, o mesmo período registrou número 46,3% maior de vendas. De acordo com as imobiliárias do ABC, a realidade da região segue o mesmo padrão.
Um corretor da Imobiliária Funchal, em Diadema, que preferiu não se identificar à reportagem, afirma que tanto as vendas quanto as locações de imóveis tiveram retração de até 40% em comparação com o primeiro trimestre do ano passado. “Os valores estão muito elevados, os donos supervalorizam suas propriedades”, esclarece o corretor. “Até tentamos avisar que o imóvel está caro, mas às vezes corremos o risco de perder o cliente, então não podemos fazer nada. Esta crise se estende desde 2013.”
Alta taxa nos juros e redução dos créditos da Caixa Econômica Federal também são apontados como causas no esfriamento do mercado. “Hoje, para se comprar um imóvel de R$ 120 mil você precisa ter um salário de R$ 5 mil. Nessas condições, a tendência é que a situação piore. O m² em Diadema está em torno de R$ 5 mil, que é um valor elevado”.
Em Rio Grande da Serra, o corretor Alexandre Duarte, da Efraim Imobiliária, aponta que a taxa de juros faz afastar seu principal público alvo. “O nosso perfil de cliente são pessoas da classe C, que dependem dos créditos da Caixa Econômica Federal e dos baixos juros para comprar ou alugar.” Segundo Duarte, a imobiliária fechou menos contratos no primeiro trimestre, registrando cerca de 33% de queda. “O movimento só aumentou na segunda quinzena de março”.
Solução?
Robson Toneto, diretor de vendas da construtora MBigucci, aponta que empreendimentos mais econômicos ajudaram a elevar o número de negociações entre o primeiro trimestre de 2014 e 2015. “O condomínio que lançamos em fevereiro, no bairro da Pauliceia, em São Bernardo, teve boa recepção do público, resultando em um aumento de até 30% nas vendas em comparação com o mesmo período de 2014”, esclarece.
Segundo o diretor, para o fechamento dos negócios é necessário que os valores estejam abaixo dos R$ 300 mil. “Os apartamentos têm valor médio de R$ 230 mil, com dois ou três dormitórios e em torno de 45m². Os condomínios são como clubes, oferecendo outras comodidades”.
Para o corretor Alexandre Duarte, essa tendência de imóveis menores com preços baixos deverá ser seguida por cidades grandes como as do ABC. “O porém é que o preço precisa ser coerente, sempre. Se um comprador tiver de escolher entre um apartamento de 80 m² e um de 40 m², ele vai preferir o de 80 m². Não havendo compatibilidade entre o valor pago e a área do empreendimento, os negócios terão dificuldades”.
O corretor da Imobiliária Funchal acredita que deveria haver um limite de área para a construção dos apartamentos. “50 m² deveria ser limite, não dá para viver bem com sua família em espaço menor que esse”. Há críticas também, por parte do profissional, em relação à especulação imobiliária. “Esses valores poderão subir dentro de alguns anos e trazer problemas para o mercado, então eu não acho que essa seja a solução para a atual crise”.