Redução da merenda atinge 104 escolas de São Bernardo

Das 217 escolas municipais de São Bernardo, 104 vão sofrer cortes no fornecimento da merenda escolar, por conta de uma readequação adotada pela Prefeitura e informada aos pais de alunos na última quarta-feira, (4), por meio de nota oficial. A secretária de Educação, Cleuza Repulho, disse que a decisão visa eliminar desperdícios e foi tomada depois de dois anos de levantamentos junto às escolas, pais de alunos e especialistas em nutrição do município. Cleuza não soube, entretanto, informar quanto a Administração economizará em dinheiro.

“Até o final deste mês a gente vai saber o volume economizado. A decisão foi tomada porque boa parte dos alunos não consomem a alimentação distribuída. Porém, a readequação não afetará escolas de áreas mais vulneráveis economicamente”, afirmou.

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Mesmo com a decisão, a secretária garantiu que não haverá redução do valor investido na área. “São R$ 30 milhões do município e R$ 8 milhões do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação).

Segundo Vanessa Ângelo Garcia, nutricionista da Divisão de Alimentação Escolar, da Secretaria de Educação, houve um trabalho na cidade para avaliar o comportamento e as necessidades alimentares dos estudantes do ensino fundamental. Por meio de formulários distribuídos às merendeiras e aos próprios pais, a Administração passou a ter controle do número de alunos que aderiam ou não aos lanches e ao almoço.

O corte ficou estabelecido aos estabelecimentos de ensino onde a adesão à merenda era inferior a 30%. “Observamos também que os intervalos entre as refeições eram muito curtos. As crianças mal tinham acabado de tomar o café da manhã e já recebiam o lanche do intervalo. A orientação dos especialistas é de que intervalo ideal entre as refeições é de 3 horas”, explicou.

Quem acabou penalizado com a decisão foram os estudantes que aderiram à merenda, mas que, por estarem matriculados em uma das 104 escolas a sofrerem a readequação, também ficarão sem a alimentação. “Os pais serão avisados que precisarão servir o cadé da manhã ou o almoço”, disse Vanessa.

Obesidade

Vanessa também afirmou que no cruzamento de informações entre os formulários distribuidos para pais e merendeiras constatou-se que vários alunos repetiam na escola refeições que já haviam feito em casa. “Por conta disso, cerca de 20% dos estudantes estão obesos”, disse.

A nutricionista garantiu que as 1,4 mil crianças com dietas especiais atendidas pela Prefeitura, vão continuar recebendo a alimentação adequada. “A decisão não afeta elas. Todas têm laudos médicos, atestando problemas como obesidade, diabetes, entre outros problemas”, completou.

Denúncia

O vereador Júlio Fuzari protocolou no Ministério Público representação narrando o corte na merenda escolar das escolas municipais. O promotor de Justiça, Jairo Edward De Luca, disse que está sendo instaurado inquérito civil para apurar o fato com remessa, ainda nesta semana, de requisição de informações e esclarecimentos junto à Secretaria Municipal de Educação. “Caso se verifique ilegalidade na iniciativa do Poder Executivo, serão adotadas as providências cabíveis, que podem abranger termo de ajustamento de conduta ou mesmo a propositura de ação civil pública”, disse.

Reclamações

A reportagem do RD visitou na tarde desta quinta-feira (5) a escola Anita Magrini Guedes, em São Bernardo, e ouviu o que os pais dos alunos têm a dizer sobre o corte de café da manhã e almoço para os alunos das escolas municipais da cidade.

O metalúrgico Luiz Fernando Martins, 35, diz que ainda não é possível dizer nada antes da reunião que acontecerá no próximo sábado (7) entre a escola e os pais dos estudantes, mas relembra que se a medida realmente for tomada, a escola precisa permitir que os alunos levem lanches. “A escola não permite que as crianças levem lanche de casa. É permitido, no máximo, uma fruta”, conta Luiz.

A mãe Eliane Macedo de Almeida, 35, explica que sempre dá almoço às suas duas filhas e, segundo a auxiliar de enfermagem, se o corte foi feito, ela diz que pretende reclamar com políticos para que essa situação seja revista. Já o pintor Laécio Martins Coelho, 48, lamenta que às vezes não dá tempo de seus filhos almoçarem antes de irem à escola. “Muitas vezes a gente depende das refeições que são oferecidas pela escola”, afirma.

Inconformado, Jedaias de Jesus Neves, 38, deseja saber o motivo pelo qual as merendas estão sofrendo cortes e lembra que se é preciso conter gastos, há outras formas de fazer isso. “Nossas criancinhas não têm nada a ver com isso. Por que tirar a comida delas?”, questiona o metalúrgico.

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