Candidatos forasteiros ofuscam bandeiras regionais

Tiririca, por exemplo, teve mais de 90 mil votos na região e não fez nenhuma visita oficial neste período e não teve atuação destacada por estes eleitores.

Entra e sai eleição e o assunto se repete. Na região, todos entoam o discurso do regionalismo e da importância de eleger deputados estaduais e federais que estejam não só comprometidos com causas das sete cidades, como conheçam a realidade e as especificidades de cada município.

Na teoria é tudo muito bom, mas, na prática, não é isso que ocorre. Primeiro porque sem o voto distrital, o eleitor é bombardeado por todo tipo de postulante, alguns dos quais só se aproximam do eleitorado daqui (quase 2 milhões de pessoas) de quatro em quatro anos.

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Segundo, porque muitas vezes o pleito proporcional – deputado estadual e federal – fica em segundo plano diante das discussões e incursões majoritárias – presidente, governador e senador. Na prática, os tais forasteiros roubam a cena na contabilidade final das urnas. Em 2010, por exemplo, eles fizeram “a festa no ABC”.

Em São Bernardo, dos 10 deputados federais mais votados na cidade, quatro foram era forasteiros. Tiririca, o mais votado no pleito passado em todo o Brasil, teve 28.987 votos na maior cidade da região, sendo o terceiro mais lembrado no âmbito local. Além dele, figuraram entre os “10 mais” : Gabriel Chalita (12.690), Zarattini (7.860) e Devanir Ribeiro (6.233). Eles juntos obtiveram mais de 55 mil votos, ou seja, só o quarteto de forasteiros registrou a votação do deputado federal campeão de votos no município: Vicentinho (PT), que amealhou 56.732 sufrágios.

Em Santo André não foi muito diferente. Também quatro forasteiros protagonizaram o topo das votações. Tiririca foi o segundo mais lembrado com 19.954 votos. Depois figuraram Ota (16.524), Gabriel Chalita (15.557) e Arnaldo Faria de Sá (5.828). No reduto andreense também foram quase 60 mil votos neste quarteto, perto da votação de Vanderlei Siraque (66.529), o mais votado da cidade na corrida federal.

Em São Caetano a invasão foi ainda maior. Como a cidade historicamente não lança nomes “prata da casa”, o espaço fica ainda mais propício aos “de fora”. Dos 10 mais votados para federal, seis eram “forasteiros”. Gabriel Chalita foi o “estrangeiro” campeão com 4.503 votos. Logo na sequência apareceram Tiririca (3.829), Arnaldo Faria de Sá (2.974), José Anibal (1.848), Ota (1.777) e Delegado Protógenes (1.420). Juntos, eles tiveram mais de 10 mil votos, mais que o vencedor, Dib, que teve 9 mil sufrágios.

Em Diadema, sete candidatos forasteiros ficaram entre os 10 mais lembrados. Tiririca teve mais de 19 mil votos, seguido por Antonio Bulhões (3.954), Eli Correa Filho (3.532), Chalita (3.230), Arnaldo Faria de Sá (3.028), Marco Feliciano (2.778) e Jorge Tadeu (2.651). Juntos, obtiveram quase 40 mil votos, metade do registro computado pelo parlamentar mais votado, o ex-prefeito José de Fillipi.

Em Mauá, seis forasteiros se deram bem. Tiririca foi o segundo mais votado (12.934), seguido por Chalita (8.657), Antonio Bulhões ( 4.065), Vaz de Lima (3.629), Ota (3.481) e Marco Feliciano (3.282). Juntos, registraram mais de 35 mil votos, praticamente a votação do deputado federal mais lembrado na cidade, Helcio Silva, que obteve 39 mil sufrágios. 

Tiririca também foi destaque em Ribeirão e Rio Grande

Nas duas menores cidades da região, o deputado federal mais votado no pleito de 2010 também foi protagonista. Na primeira obteve 4.682 votos, sendo o segundo mais votado no município. Ao todo, quatro forasteiros ficaram entre os 10 mais votados.

Já em Rio Grande da Serra, o “palhaço” também foi o segundo mais lembrado com 1.953 votos. Na cidade, entre os campeões, três foram forasteiros da região.

Especialista diz que “caça” é natural

Segundo o professor de Ética da Unicamp, Roberto romano, a busca por voto fora do território de origem é natural, tendo em vista a necessidade de somar apoio para conseguir o quociente para se eleger. “Assim como políticos de fora buscam voto no ABC, gente do ABC também pede voto fora das sete cidades”, lembra o professor.

No entanto, o ponto “x” da questão é o comprometimento que o candidato tem com a região. “Se o candidato não é do local, mas visita com frequência e atende as demandas por meio de emendas, não tem problema. Agora quando o candidato só lembra da cidade na hora da eleição é que são elas”, observa.

Tiririca, por exemplo, teve mais de 90 mil votos na região e não fez nenhuma visita oficial neste período e não teve atuação destacada por estes eleitores.

Abstenções garantiam mais um nome do ABC

Se todos os eleitores aptos ao voto que deixaram de comparecer às urnas, tivessem ido e votado em um nome da região, o ABC teria, no mínimo, mais um deputado. Ao todo, 274,6 mil pessoas se abstiveram do pleito de 2010.

A cidade campeã proporcionalmente foi rio Grande da Serra. Na menor cidade do ABC em termos populacionais, 16,5% (5, 3 mil eleitores) se ausentaram. Em números absolutos, Santo André foi a vencedora com o registro de 85 mil eleitores ausentes (15%). Na sequência aparecem Ribeirão Pires 15,3% (13 mil), Diadema 14,25% (44,5 mil), São Bernardo 14% (78,6 mil), Mauá 13,6% (38,8 mil) e São Caetano 8,5% (9,4 mil).

Esse ano a expectativa é de uma abstenção ainda maior por conta dos movimentos que tomaram conta das ruas no ano passado e deixaram as pessoas, ou boa parte delas, mais distante da discussão política”, disse Rosângela Giembynski, representante da ONG voto Consciente.

Região terá 2 milhões de eleitores

Esse é o número de pessoas aptas ao voto no dia 5 de outubro. Por cidade, São Bernardo lidera com 594, 6 mil (era 560,9 em 2010), seguida por Santo André com 561,7 mil (era 546,7 em 2010), Diadema com 324,9 mil (era 312,3 em 2010), Mauá com 299,4 (era 284 em 2010), São Caetano com 124,2 mil (era 111,4 em 2010), Ribeirão Pires com 88,9 mil (era 85,1 em 2010) e Rio Grande da Serra com 33,6 mil (era 32,1 em 2010).

Se pegar o número total de eleitores e a linha de corte que se projeta por partido ou coligação para eleger um deputado, de cara a região teria potencial de sair com 7 deputados federais numa linha de corte de 300 mil, hipoteticamente.

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