Combate ao câncer do intestino não é prioridade no Brasil

Ingestão de fibras, frutas e vegetais ajuda na prevenção do câncer de intestino. Foto: Banco de Dados

Cólicas abdominais, sangramento nas fezes ou anal, fraqueza, anemia, perda de peso e mudança de hábito intestinal podem não ter relevância para muita gente, no entanto são alguns sintomas do câncer colorretal, do intestino grosso. A doença, cuja fase inicial é silenciosa, tem porcentagem de cura acima de 80% se diagnosticada precocemente. Porém, o desconhecimento é grande em relação ao tipo de câncer, cujas mortes saltaram de 10.321 mil em 2005 para 14.615 em 2012, alta de 41,60%, conforme o SUS (Sistema Único de Saúde).

A médica-cirurgiã Angelita Habr-Gama, fundadora e presidente da Associação Brasileira de Prevenção do Câncer de Intestino (Abrapreci), diz que o câncer em geral é tratado como tabu pela sociedade, que vê a doença como sinônimo de morte. Angelita diz que a falta de campanhas de prevenção ao câncer colorretal, em âmbito nacional, contribui para a desinformação da população em relação à doença. “A realização de exames preventivos, como o teste de sangue oculto nas fezes e a colonoscopia, possibilita o diagnóstico de tumores em fase inicial, bem como a retirada de lesões precursoras do tumor, os pólipos”, explica.

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Considerada uma das maiores especialistas em câncer de intestino no mundo, Angelita diz que o cenário é preocupante, e lembra que para 2014, o número estimado de novos casos de câncer colorretal no Brasil é de 32.600, dos quais 15.070 em homens e 17.530 em mulheres, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), órgão do Ministério da Saúde. “Esse tipo de câncer apresenta alta incidência, sendo o tumor mais frequente do trato gastrointestinal. Corresponde cerca de 13% de todos os casos de câncer no País”, afirma. No Sudeste, o câncer colorretal é o segundo com mais incidência, só perde para o de mama.

Desatenção do governo

O oncologista Daniel Gomes Cubero, diretor executivo do Centro de Estudos e Pesquisas de Hematologia e Oncologia da Faculdade de Medicina do ABC (CEPHO-FMABC), também confirma a inexistência de campanhas de prevenção à doença, e critica a postura do governo. “O número de casos de câncer colorretal é grande. As autoridades competentes deveriam prestar atenção. No Brasil, só há política de prevenção a outros tipos de câncer, como o de mama”, diz. Para o médico, o Ministério da Saúde poderia recomendar à população, por exemplo, exames de colonoscopia, uma vez a cada 10 anos.

Ao fazer comparativo com outros países, o médico diz que a situação no Exterior é diferente. Ao contrário do Brasil, outras nações realizam campanhas preventivas contra câncer colorretal. “Quando você desembarca no aeroporto de Chicago, nos Estados Unidos, há outdoor que incentiva a realização de exames de prevenção a essa doença. Talvez, aqui, a prioridade não seja essa ainda”, afirma.

O colorretal é o 3º tipo de câncer mais frequente entre pacientes da Faculdade de Medicina do ABC. Representa 15% de todos os casos novos atendidos. Das 1,5 mil consultas mensais, 180 são de pacientes com esse tipo de câncer. Por ano são cerca de 200 novos pacientes com esta patologia. Segundo Cubero, esse tumor é mais comum em pessoas acima de 50 anos. “Quanto mais velho, maior a chance de se desenvolver esse tipo de câncer, que raramente acomete jovens”, comenta.

Prevenção passa por mudança de hábitos

Pessoas obesas, sedentárias, fumantes e que fazem uso excessivo do álcool possuem maior risco de desenvolver o câncer colorretal. A prevenção da doença começa com mudança do estilo de vida, com alimentação saudável, principalmente rica em fibras, frutas e vegetais sem gorduras e calorias, prática regular de atividade física, não fumar e nem consumir bebidas alcoólicas. Além disso, procurar ajuda médica ao perceber algum dos sintomas da doença e fazer exames para detecção precoce de lesões no intestino, de acordo com Angelita Habr-Gama.

A especialista diz que o tratamento da doença é complexo e envolve diversas especialidades médicas. Entre as novidades no mercado para combater a doença estão novas drogas quimioterápicas e modalidades de radioterapia. Mas de acordo com Daniel Gomes Cubero, os tratamentos atuais custam 200 vezes mais que os da década de 1960. “Hoje estima-se que o paciente gaste cerca de R$ 20 mil por mês no Brasil”, calcula o oncologista da Faculdade de Medicina do ABC.

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