Tratando a água com a devida importância

Nestes dias de escassez voltamos nossa atenção para a água e a falta que ela nos faz, pelo menos alguns de nós, já que é menos frequente, embora não incomum, vermos pessoas varrendo a rua com água de mangueira!!! A água deveria de fato ser tema de preocupação frequente para os habitantes da metrópole de São Paulo. Isto porque vivemos em uma das poucas metrópoles do mundo que nasceu na cabeceira de uma bacia hidrográfica e não na sua foz.

Grandes cidades do mundo localizam-se na foz dos rios, já que grande disponibilidade de água é condição essencial para seu estabelecimento. São Paulo nasce na cabeceira do Tietê por razões geográficas e históricas. O rio Tietê nasce aqui, mas dirige-se para o rio Paraná, para desembocar no Oceano Atlântico lá na Bacia do Plata, entre o Uruguai e a Argentina. É uma longa volta, que por conta das interligações com as outras bacias hidrográficas brasileiras, possibilitou aos bandeirantes desbravar este País e tornou, mais tarde, São Paulo ponto de parada certo para os produtos que vinham do Interior e eram exportados pelo porto de Santos. E é assim que, contrariando o bom senso, a metrópole de São Paulo se estabelece na cabeceira de rios com pequena disponibilidade de água.

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Para se ter uma ideia do que isto significa vamos a alguns números. A ONU [Organização das Nações Unidas] classifica como autossustentáveis regiões que tenham a disponibilidade de água por habitante por ano de 2.500 m3/ hab.ano; pobre quem tem menos de 2.500 e mais que 1.500 e crítico quem tem menos de 1.500 m3/ hab.ano (1 m3 de água corresponde a uma caixa dágua de 1.000 litros). Considerando esta disponibilidade, o Estado de São Paulo tem 2.468 m3/ hab.ano e a Bacia do Alto Tietê, onde se localiza a região metropolitana de São Paulo, 201 m3/ hab.ano, ou seja, muito mais do que crítico. É claro que você não sente desta forma, porque capturamos água de outras bacias pelo Sistema Cantareira e assim trazemos para São Paulo água que deveria estar sendo usada pelo Sul de Minas e pelo Interior de nosso Estado, em um verdadeiro desvio de recurso.

Acrescente a este quadro outros problemas graves: 1. Cabeceiras de bacias hidrográficas são caracterizadas por um grande número de nascentes. Só a bacia da represa Billings possui 3.396 nascentes, com 1.106 localizadas em áreas urbanizadas. Nas áreas urbanizadas a impermeabilização do solo compromete a recarga das nascentes, muitas delas soterradas embaixo de construções, canalizadas embaixo das cidades, poluídas e contaminadas com esgoto doméstico ou outros efluentes; 2. É grande o volume de água perdido por vazamentos no sistema, antes de atingir o seu destino final; e 3. Ainda usamos água potável tratada para usos pouco nobres, como descargas e lavagem de quintais, roupas e automóveis, entre outros. Não temos sistemas para reutilizar a água em nossas casas ou captar a água de chuva para este tipo de uso.

Para tratar a ÁGUA com a importância que ela tem, conscientes das limitações que temos em nossa região, a preocupação com seu uso correto deveria orientar nossas ações ao longo do ano todo. Acreditar que o Brasil é o país da abundância da água, só porque temos o rio Amazonas é acreditar em uma miragem. Esta água está lá, mas não é acessível para nós. É claro que precisamos de ações públicas, que contenham o desperdício por vazamentos, que repensem as políticas adotadas em áreas de mananciais e que, realmente, passem a tratar estas áreas com a importância estratégica que elas têm para nossa região. Mas não podemos nos abstrair desta equação, já que como consumidores finais somos responsáveis pelo uso que fazemos da água. Repense seu uso! Veja como você pode gastar menos e restrinja o uso da água ao que for essencial. Comece você também a tratar a água com a importância que ela tem e esteja atento aos programas e políticas anunciados para o uso deste recurso tão precioso para nossa sobrevivência e das futuras gerações.

*Waverli Maia Matarazzo – Neuberger é coordenadora do Centro de Sustentabilidade e do curso de Gestão Ambiental da Universidade Metodista de São Paulo
 

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