Tecnologia inédita pode alavancar destinação do lixo eletrônico no ABC

Tratamento do lixo eletrônico tem ritmo lento. Foto: Arquivo Vertas

O consumo de aparelhos com novas tecnologias apresenta aumento expressivo. Apenas em agosto deste ano, o Brasil alcançou 268,44 milhões de linhas ativas de telefonia móvel, de acordo com a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). O mercado de tablets atingiu a marca de 3,1 milhões de unidades vendidas em 2012, crescimento de 171% em relação a 2011, segundo estudo da consultoria IDC. Como consequência, o descarte de aparelhos antigos também cresce de forma vertiginosa no País. Mas a destinação correta não segue o ritmo pelo menos no ABC para o desespero dos ambientalistas.

Apenas Santo André, Mauá e Ribeirão Pires possuem cooperativas responsáveis pelo desmonte e pela comercialização dos resíduos. Por outro lado, iniciativas privadas e universitárias avançam em tecnologias que podem ajudar a mimimizar o risco de degradação ambiental. A Fundação Santo André aposta em tecnologia inédita no Brasil, de tratamento de placas eletrônicas via plasma térmico. Trata-se de um reator (veja ilustração) que gera calor de 20.000°C e funde as placas, sendo possível separar os componentes químicos para melhor reaproveitamento.

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De acordo com Mário Garcia, diretor da Faculdade de Engenharia (FAENG) da Fundação Santo André, as peças do reator foram providenciadas para que os próprios alunos dos cursos de engenharia ambiental, eletrônica e de materiais construam o equipamento durante o curso. “Com essa tecnologia, as empresas e cooperativas poderão realizar o processo internamente, por meio de parcerias, com ganhos econômicos de produção, recebendo capacitação para executar a máquina”, afirma Garcia. 
A primeira fase do projeto, de caracterização do lixo eletrônico, já está em andamento. A previsão do engenheiro, dependendo das parcerias conquistadas, é de concluir a construção do reator piloto em 2014.

Passos lentos

O ABC possui apenas 25 pontos de coleta seletiva, sendo 16 em Santo André, 8 em Mauá e 1 em Ribeirão Pires. Os materiais são encaminhados às cooperativas de reciclagem dos municípios, responsáveis pelo desmonte e comercialização dos resíduos em diversas frações, uma vez que boa parte dos produtos é feita de recicláveis. No entanto, o manuseio dos aparelhos requer capacitação para não gerar contaminação das pessoas com os componentes químicos. Apenas a Cooperpires – Cooperativa de Ribeirão Pires – passou por capacitação promovida pela Universidade de São Paulo (USP), dentro do projeto Eco-Eletro, para separar itens provenientes do lixo eletrônico com segurança.

Em São Bernardo, o Ecoponto de Lixo Eletrônico da Cajuv (Coordenadoria de Ações para Juventude) iniciado em 2010 durou apenas seis meses. Atualmente, o município não dispõe de coletores , mas discute a regulamentação do Plano de Gestão. “As empresas, assim que obterem a licença de operação, deverão declarar os resíduos que descartam, como descartam e em qual local”, informa.

Diadema não realiza coleta seletiva especial para os eletrônicos, nem aponta projetos. Em São Caetano ainda pretende realizar estudos para implantação de pontos de descarte. “Este tipo de resíduo pertence à logística reversa, ou seja, o tratamento e a destinação final são de responsabilidade dos produtores, conforme prevê a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS)”.

Para Ângela Martins Baeder, bióloga e professora de Ciência e Educação Ambiental da Fundação, a capacitação das cooperativas pode ser uma iniciativa das empresas produtoras. “Precisa ser definida a responsabilidade de cada ator no processo de descarte , além de criar diálogo entre poder público, empresas e cooperativas”, diz. Baeder alerta que o descarte dos eletrônicos em aterros provoca contaminação do solo, com componentes químicos como mercúrio e chumbo. “Os elementos são cumulativos: permanecem no organismo e são disseminados ao longo da cadeia alimentar”, aponta.

Vertas gerancia e recicla resíduos tecnológicos

Localizada no bairro Capuava, em Mauá, a Vertas é uma das empresas que realiza a transformação do lixo eletrônico para que seja possível o retorno ao ciclo produtivo e não descartado inadequadamente. A coleta é feita em mais de 350 empresas que solicitam a retirada, e pode ser realizada também através de ação coletiva nos bairros. “Os próprios moradores podem reunir grande quantidade de aparelhos e agendar a retirada com a Vertas, que possui certificados que garantem procedimentos corretos de coleta”, diz José Cristovam, diretor da Vertas.

Ao chegar na empresa, o lixo eletrônico é triado e separado por modelo. Há rotina para cada material, com equipamentos de proteção individual (EPIs) e ferramentas adequadas para manipulação. As máquinas de reciclagem processam os materiais a seco. “Dessa forma garantimos grandes benefícios, tanto ambientais por não consumir água nem gerar efluentes, como na qualidade de processamento, que extrai matéria-prima de maior qualidade com melhor rendimento”, aponta Cristovam, que processa por mês 80 toneladas de lixo eletrônico contra 300 de capacidade.

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