Desafio da política econômica: inflação x crescimento

Com a inflação do mês de junho apurado pelo IBGE, o IPCA acumulado em 12 meses alcançou 6,70%, superando o teto da meta do Banco Central, que é de 6,5% de inflação anual. Nos últimos 33 meses, somente em maio e junho de 2012 a inflação acumulada em 12 meses ficou abaixo de 5%, seguindo uma trajetória ascendente até os dias de hoje.

Embora a inflação venha desacelerando nos últimos meses, neste 1º semestre de 2013 a inflação acumulada no Brasil já soma 3,14%. O Banco Central terá de continuar a aplicar uma política monetária mais restritiva se quiser que a inflação neste ano diminua ao menos para o mesmo patamar do ano passado, quando acumulou 5,84%.
O mais preocupante neste cenário não são os fatores que sofrem alterações de preços pontuais, como os produtos agrícolas no primeiro semestre, mas sim os determinantes da trajetória ascendente do nível de preços. Em grande parte este processo é reflexo do modelo de crescimento econômico implantado pelo governo, centrado especialmente no estímulo ao consumo, por meio dos programas de distribuição de renda, expansão do crédito, e redução da taxa de juros.

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A composição do PIB de 2012 deixa claro este modelo. O pífio desempenho de apenas 0,9% do PIB, o segundo menor da América Latina, foi composto por um crescimento de 3,1% no consumo das famílias e 3,2% no consumo do governo. Ao mesmo tempo, os investimentos apresentaram uma retração de 4%, enquanto as exportações aumentaram 0,5% e as importações 0,2%.

Nos últimos anos, enquanto os determinantes da expansão de consumo se ampliaram na economia brasileira, o ritmo dos investimentos não foi suficiente para dar sustentabilidade ao fluxo de demanda, provocando uma diminuição no ritmo de ampliação da capacidade produtiva da economia, afetando negativamente a capacidade de oferta. É justamente este desequilíbrio entre a aceleração da demanda e a rigidez existente para a expansão da oferta que tem imprimido uma trajetória ascendente ao nível de preços.

O desafio posto para a equipe econômica do governo consiste na adoção de medidas que possibilitem a desaceleração da inflação, mas de preferência sem desestimular a atividade econômica.

Esta equação é bastante complicada. De um lado o Banco Central já deu indícios de que deverá aumentar novamente a taxa básica de juros nas próximas reuniões do Copom. O intuito destas ações é ampliar o custo e restringir o fluxo de crédito, visando uma retração na demanda. Ao mesmo tempo, o Real apresentou uma significativa desvalorização nos últimos meses, em grande parte explicada pela trajetória do capital estrangeiro no mercado financeiro internacional em direção aos países centrais, especialmente EUA. Esta alteração cambial, em médio prazo, deverá provocar efeitos positivos sobre a exportação, aumentando a demanda interna, e tornando as importações mais caras, o que pode impactar sobre os preços internos.

Outro engessamento do governo está na baixa capacidade discricionária na execução da política fiscal. Os elevados gastos correntes com a máquina do Estado, somados às obrigações financeiras do governo, implicam em uma limitada capacidade de investimento público. Em um cenário em que a perspectiva de crescimento econômico tem diminuído – o FMI acabou de revisar para baixo a projeção de crescimento mundial para 2013 – e inflação elevada, se tona difícil impulsionar os fluxos privados de investimento. Somam-se ainda no Brasil as deficiências de infraestrutura, a falta de uma diretriz progressiva à política industrial e a definição do modelo de desenvolvimento, entre outros fatores.

Diante de todas as condições que estão postas no cenário atual, a economia brasileira continuará presa ao “voo da galinha”. Nos falta maturidade para enxergar que somente com políticas sólidas de longo prazo conseguiremos transformar possíveis potenciais em realidade; e a coragem para assumir o desafio. Ninguém se torna o maestro ou o solista de uma orquestra sem muita dedicação, investimento, e preparação ao longo do tempo.

Sandro Renato Maskio é professor de Economia e coordenador de Estudos do Observatório Econômico da Universidade Metodista de São Paulo, e professor de Economia da USCS.
 

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