Índice de leitura no ABC é 2,36 livros/ano, aponta Inpes

Espaços destinados à leitura recebem média 62,7 mil visitantes / mês (Foto: Marciel Peres)

O índice de leitura nos sete municípios do ABC é de 2,36 livros por ano, número superior à média do País, onde os demais brasileiros leem 1,5 livro/ano. O resultado é de levantamento do Inpes (Instituto de Pesquisa da Universidade Municipal de São Caetano) ao ouvir 1.050 entrevistados no primeiro semestre de 2011. Se for levada em consideração a população com mais de 18 anos no ABC (1,8 milhão) – foco da amostragem – e multiplicá-la pelo índice, a conclusão é de que neste ano serão lidos quase 4,5 milhões de livros.

Entre as mulheres da região, o índice salta para 3,04 livros/ano. Já entre os homens, o recuo é de 1,67 livro/ano. O perfil socioeconômico é um dos principais fatores de impacto.  Entre os entrevistados classificados como classe A, o hábito de leitura atinge o patamar de 4 livros por ano. Na classe B, o número cai para 2,85. Entre os elencados na C, o índice se assemelha ao nacional (1,59). O pior desempenho é verificado justamente nas classes mais baixas D/E, que não atinge um livro por ano (0,79).

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Por cidade (veja tabela), São Bernardo lidera com 3,22 livros/ano. São Caetano, que deveria liderar por conta do perfil econômico, aparece na sequência com 2,83 livros/ano devido à grande quantidade de idosos. Dos sete municípios, só Mauá e Rio Grande da Serra apresentam índices abaixo da média nacional.

Religião
O segmento religioso lidera a procura. Entre os entrevistados que declaram ter o hábito de ler, 29,1% citam o gênero como preferido (não são classificados neste item livros sagrados, como a Bíblia). Para se ter ideia da diferença, na segunda colocação aparece o gênero ficção, com 9,8%.

A porcentagem de entrevistados que afirma ter hábito de leitura cresceu nos últimos anos na região. Em 2002, apenas 29,8% declaravam que liam. Já em fevereiro de 2011 o índice saltou para 47,4%, um incremento de 59,6%. No Brasil, em fevereiro deste ano, apenas 26,1% afirmaram ter o hábito de leitura.

Quando o assunto é jornal e revista, a curva é decrescente. Em 2002, 48,2% declararam não ter o hábito de ler jornal. Em fevereiro deste ano, o número saltou para 59,8%. Nas revistas, o quadro é pior: 54,4% (em 2002) e 65,1% (2011). “O principal fator que contribui para o resultado é a Internet. A pesquisa considera o jornal e revista enquanto meio físico (desconsidera a leitura via Internet)”, explica Leandro Prearo, coordenador do Inpes.

Bibliotecas reúnem 1,1 milhão de títulos
O ABC possui 43 bibliotecas públicas, com aproximadamente 677 mil livros à disposição de 2,5 milhões de habitantes. Somado às produções oferecidas na rede municipal de ensino, o montante sobe para 1,1 milhões de títulos. Os espaços destinados à leitura recebem média 62,7 mil visitantes por mês e oferecem, além de empréstimo de exemplares, cursos e contação de histórias. A variação na procura muda conforme o município e a Internet nem sempre é a justificativa para queda.

Entre as 16 bibliotecas de Santo André, o destaque é a biblioteca Nair Lacerda, no Centro, que oferece 172,4 mil livros. É mais da metade do acervo (268,6 mil exemplares) no município, com 8,5 mil visitantes por mês. A média de frequentadores dos demais espaços no município é de 23,9 mil pessoas por mês.

São Bernardo tem seis bibliotecas e 175,6 mil volumes. Em média, 278 mil pessoas visitam os espaços anualmente e são realizados cerca de 166 mil empréstimos neste período. O local mais procurado é a biblioteca Monteiro Lobato, no Centro, que recebe até 81,1 mil pessoas por ano e tem 39,8 mil exemplares.

Em São Caetano há duas bibliotecas, além da Banca do Saber, no Bosque do Povo, que tem 2 mil exemplares. A Paul Harris tem cerca de 30 mil livros e a Dona Ester Mesquita 20 mil. Em média 13 mil pessoas visitam os espaços por mês. Já a biblioteca municipal Monteiro Lobato, em Rio Grande da Serra, conta com 13,2 mil livros e recebe em média 200 usuários por mês.

Ribeirão Pires tem a biblioteca Olavo Bilac, com 45 mil títulos. Cerca de mil pessoas visitam mensalmente o espaço, que emprestou 600 livros no período. A maior parte dos frequentadores é de jovens em cursos universitários ou técnicos. Mauá conta com seis bibliotecas, sendo uma central e cinco ramais – acervo de 28,7 mil livros e média de visitação de 1,5 mil pessoas por mês na biblioteca Cecília Meireles, no Centro.

Já Diadema disponibiliza 93,9 mil livros em 10 bibliotecas, 36 mil somente no espaço Olíria de Campos Barros, na Vila Conceição. Neste primeiro semestre, já foram emprestados 8,2 mil títulos.

Frequentadores
Glaucia Lanzone, gerente de Bibliotecas de Santo André, diz que a média de frequentadores nas unidades é estável, mas o perfil do usuário mudou. Até a década de 1990, 90% dos usuários iam fazer pesquisas escolares. “Hoje, as pessoas buscam lazer, dados específicos ou estudo voltado a concursos públicos”, comenta. As obras mais procuradas são best sellers, clássicos da literatura brasileira e livros de autoajuda.

Comunidade
Inicialmente destinada a alunos da FSA (Fundação Santo André), a Biblioteca Comunitária Príncipe de Gales passou a atender a comunidade do entorno da Vila Príncipe de Gales há cinco anos. O espaço oferece 34,9 mil títulos e tem 1,1 mil inscritos. Passam pelo local cerca de 10 mil pessoas por mês. A biblioteca fica na avenida Príncipe de Gales, 821.

Academia de Letras aceita novos membros em São Caetano

Com 30 anos de história completados neste dia 11 de agosto, a Algrasp (Academia de Letras da Grande São Paulo) está com inscrições abertas para quem deseja ocupar uma das 23 cadeiras da instituição, que tem sede em São Caetano.  Para se candidatar, basta ter ao menos uma obra publicada.

“O candidato deve se apresentar na Academia, preencher formulário e trazer a obra em questão. Uma comissão irá avaliar os trabalhos e escolher o novo membro”, ensina Gioconda Labecca, presidente da Algrasp. Embora pouco conhecida do público, a Academia promove concursos literários frequentes, palestras e recitais.

A associação ainda mantém acervo com obras dos membros, para consulta gratuita pela população. “Infelizmente não sabemos qual o número dos livros disponíveis, já que perdemos muitas das obras numa inundação em nossa antiga sede”, conta. Para a presidente, o maior obstáculo para divulgação do trabalho da entidade é a falta de interesse pela leitura.

Falta de incentivo atrapalha escritores

Membro da Academia de Letras da Grande SP desde 2004, o jornalista Hildebrando Pafundi, morador de Santo André, já publicou quatros livros. As obras, no entanto, foram editadas por conta própria. “Temos muita dificuldade em conseguir patrocínio de uma editora para publicar nossos livros”.

Pafundi também reclama da falta de divulgação de trabalhos dos escritores locais. “O ideal é que as prefeituras do ABC fizessem feiras de livros como a Bienal de São Paulo. São Bernardo fez uma recentemente, mas para grandes editoras”, revela.
A paixão pela escrita começou com a produção das matérias jornalísticas, mas foi em 2000 que Pafundi começou a publicar contos. “Em 2004 publiquei meu primeiro livro: Tramas e Dramas da Vida Urbana”, conta. Quatro anos mais tarde, o escritor se aventurou pelas histórias infantis, com o livro Janela da Liberdade e Outras Histórias. “Escrever para o público infantil é muito mais difícil, pois temos de voltar à infância”, brinca Pafundi, que planeja publicar outros dois livros ainda este ano.

Aposta na tecnologia
Como forma de driblar o alto custo da edição de um livro, o advogado e funcionário público Sebastião Gomes decidiu buscar na tecnologia a solução para publicar suas obras. São três livros no formato e-book (abreviação para electronic book, ou livro eletrônico, disponibilizado em mídia digital).

O livro de poesias O Importante é o Amor já está disponível no site www.autoreslivres.com.br e as outras duas obras, Sonhos e Paixão e A Mulher Sobre o Homem, estarão online no mês que vem. “Como é muito difícil publicar livros e não encontrei incentivo, paguei um preço alto para publicar a versão impressa. Foram R$ 4,4 mil para mil exemplares. No formato e-book, o valor caiu para R$ 291”, revela Gomes.

Sebos oferecem mais de 700 mil títulos

Os adeptos da leitura que buscam preço mais acessível para manter o hábito encontram no ABC ao menos 66 sebos. Juntos, possuem mais de 700 mil títulos para venda. Maior sebo da região, o Pacobello possui três unidades em Santo André, com 200 mil livros no total. “Vendo cerca de 150 livros por dia, sendo que cerca de 20% é da venda pela Internet”, afirma Eduardo Pacobello, dono da rede.

Para Luiz Rossetti, proprietário do Sebo de Mauá, também com unidade em São Caetano, o ABC possui bom público consumidor de livros usados e, por isso, vale investir em atrativos. “Aqui o consumidor pode comprar e depois que ler trazer para trocar por outro com 50% de desconto na compra de outro livro”, diz.

Entre os livros mais vendidos se destacam os da linha espírita, literatura e infanto-juvenil. As lojas virtuais são as maiores aliadas dos sebos. “Os clientes geralmente pesquisam a disponibilidade no site do sebo ou na loja virtual associada, e depois vem pessoalmente pegar a obra”, conta Pacobello.  

E-books
A disponibilidade de livros virtuais, os e-books, está cada vez maior, o que gerou queda de venda em sebos e livrarias convencionais, segundo os lojistas. Hoje, os livros podem ser lidos via smartphone ou tablets e possuem como grande vantagem o preço, bem mais baixo.  Um livro virtual pode ser comprado a partir de R$ 8.

“A saída é informatizar cada vez mais o acervo”, afirma Pacobello, ao acreditar que os e-books democratizam a leitura. Um dos maiores portais de livros usados do País, o Estante Virtual, tem a maioria dos sebos do ABC cadastrados e 7 milhões de livros on-line em todo o País.

Fala Povo

“Sempre gostei muito de ler. Comecei a frequentar biblioteca em julho e fugi da leitura obrigatória da faculdade; agora escolho os gêneros”. Renata Coelho, estudante de Pedagogia, moradora de Santo André.

“Fui incentivado a ler desde pequeno. Lembro que brincava de estudar junto com meus irmãos e contar as histórias dos livros que já tinha lido”. Bruno Almeida, estudante, morador de Rio Grande da Serra.

“Aproveito o caminho até o trabalho ou do trabalho para casa para ler alguns livros. Geralmente prefiro os que tratam do tema religião”. Bárbara Teodoro, promotora de vendas, moradora de São Bernardo.

“O último que li foi a Coletânea de Orientações, mas não tenho preferência, leio de tudo um pouco: jornais, revistas e livros”. Bárbara Manuel, vendedora ambulante, moradora de São Bernardo.

“Gosto muito de ler e tenho hábito da leitura desde os 10 anos de idade. Hoje os de minha preferência são os livros de autoajuda”. Viviane Maria, teleoperadora, moradora de São Bernardo.

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