ABC - quinta-feira , 2 de maio de 2024

Mulheres: preconceito ainda é realidade no meio político

Anos de luta em diversos setores da sociedade ainda não foram suficientes para extinguir o preconceito contra as mulheres. No cenário político a situação não é diferente. Além das dificuldades para vencerem eleições, se manter no poder e conquistar o respeito dos companheiros é um trabalho árduo.

Dos 106 vereadores que atuam nas Câmaras da região, apenas nove são mulheres: Heleni de Paiva (PDT), Maria de Souza, a Loló (PT) e Dinah Zekcer (PTB) em Santo André, Irene dos Santos (PT), Cida Ferreira (PMDB) e Maria Regina Gonçalves (PV) em Diadema, doutora Julieta (PSB) em São Bernardo, Cássia Rubinelli (PSB) em Mauá e Elza da Silva (PT) em Ribeirão Pires. São Caetano e Rio Grande da Serra não contam com nenhuma representante feminina.

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“Os partidos não respeitam a figura feminina, mas, por outro lado, algumas mulheres também não se fazem respeitar. Temos de romper barreiras pela nossa inteligência, não pelo nosso rebolado”, comenta a parlamentar de Santo André, Heleni de Paiva. Segundo a vereadora, se a candidata não tiver condições financeiras compatíveis ao seus adversários homens, ela será colocada de lado. “Além de tudo, muitas delas são vistas como faz-tudo dentro do partido. Não é assim que deve ser”, completa.

Mãe de dois filhos, advogada e professora, Heleni defende a idéia de que as mulheres interessadas em seguir a carreira política deveriam ter um curso especial de sobrevivência. “Só assim elas veriam como é difícil ser mãe, dona-de-casa e política ao mesmo tempo, e aprenderiam como lidar com a falta de respeito que sofremos”, comenta.

Questionada se pretende ser candidata a prefeita de Santo André, a parlamentar assegura que isto não está em seus planos. “Amo ser vereadora. Gosto de ir ao mercado e ouvir as pessoas, saber do que estão precisando. Aliás, esta é uma sensibilidade que só as mulheres têm”, esclarece.

Região possui duas representantes na Assembléia Legislativa

Assim como nas Câmaras, na Assembléia Legislativa a representatividade da mulher também é pequena. Duas delas são da região: Vanessa Damo (PV) e Ana do Carmo (PT). “Das 94 cadeiras, apenas 11 são ocupadas por mulheres”, lamenta a deputada estadual Vanessa Damo (PV-Mauá). Para ela, apesar da participação feminina na política ainda ser tímida, as mulheres buscam cada vez mais seu espaço.

“As mulheres fazem a diferença na política quando o assunto é atuação junto à população”, comenta. Assim com a vereadora de Santo André, Vanessa acredita que o respeito deve ser conquistado e merecido. “A mulher tem de provar que está em um determinado cargo por competência. Só assim conseguirá ser vista de igual para igual pelos homens”, completa.

A deputada lembra ainda que quando se fala na lei de cotas que prevê o mínimo de 30% de candidatas mulheres em cada partido, há um equívoco. “Na verdade, essa lei diz que pelo menos 30% das vagas devem ser preenchidas por um dos sexos. Como os homens são a maioria absoluta na política, essa cota automaticamente é destinada para o público feminino”.

A outra mulher que representa o ABC na Assembléia é a deputada estadual Ana do Carmo (PT – São Bernardo), que divide a mesma opinião das demais. “A discriminação existe, principalmente para aquelas deputadas ou vereadoras que assumem que ainda atuam como donas-de-casa, que não possuem discursos bonitos nem roupas sofisticadas”, argumenta. Para Ana do Carmo, persistência e honestidade são as palavras-chave para obter sucesso e respeito no meio político.”Todas têm capacidade para chegar onde quer. O importante é nunca desistir de defender seus direitos”, completa.

A atual coordenadora da Macro Região ABCD do PT, Maria Inês, ex-prefeita de Ribeirão Pires, também lamenta que a participação das mulheres esteja muito aquém do desejável e do potencial. “Acredito que, em médio prazo, as mulheres passarão a ocupar seu espaço na política e na vida pública em geral.”

Por ter conquistado a mais alta posição no poder Executivo municipal, Maria Inês comenta que só assim é possível melhorar, efetivamente, a vidas das pessoas. “Vemos as transformações ocorridas na cidade como conseqüência de nosso trabalho. Revolucionamos também na forma de gestão, na participação dos cidadãos”, lembra orgulhosa.

Do outro lado

Apesar de estar do outro lado, o vereador de São Caetano Horácio Neto (PSol) acredita que a cidade perde ao não ter nenhuma representante feminina nesta legislatura. “Isso é causado principalmente porque os partidos não dão as mesmas condições para ambos os sexos”, acredita. A única mulher que ocupou uma cadeira na Câmara da cidade nos últimos anos foi a primeira suplente do PSol Vera Severiano, que substituiu Neto.

O parlamentar acredita que a aprovação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que prevê o aumento do número de vereadores nas cidades, ajude a transformar esse quadro. “Esta é uma forma de estimular a participação e a eleição de mulheres”, acredita. “Por mais que nós, homens, lutemos por causas femininas, nunca conseguiremos ter a mesma força do que se elas estivessem à frente destas lutas”, finaliza.

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