Redução do limite de velocidade é necessária, avalia coordenadora de GT do Consórcio

Travessia Segura já gravou novo comercial com mascote (Foto: Pedro Diogo)

O Consórcio Intermunicipal Grande ABC aproveitará  as comemorações da Semana Nacional do Trânsito – 18 a 25 de setembro -, para retomar a campanha Travessia Segura, programa criado em 2011 e que visa conscientizar motoristas e pedestres com o objetivo de reduzir atropelamentos. Em entrevista ao RD, Andrea Brisida responsável pela discussão regional de temas como trânsito e transporte coletivo, por meio do Grupo de Trabalho Mobilidade do Consórcio, defende medidas como a redução do limite de velocidade, adotada recentemente na Capital em meio a muita polêmica.

“Por mais que desagrade a maioria, aquela medida é necessária. Você pegar uma avenida numa área mais central, a 60 km/h, é um risco muito grande, principalmente para os pedestres”, afirma. A coordenadora do GT fala ainda sobre o desafio de expandir ciclovias, a demora para construção da linha 18 e as obras do PAC Mobilidade – que ainda se arrastam, dois anos depois de a presidente Dilma Rousseff ter anunciado verbas federais para a região.

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Como será a Semana Nacional do Trânsito no ABC?
Esse ano o Denatran [Departamento Nacional de Trânsito] foi bem feliz na escolha do tema. Geralmente eles são focados em um assunto específico, como a não utilização de bebidas ao volante e esse ano o tema fala sobre a mudança do trânsito: Seja você a mudança. E eu acho que ele acaba coincidindo muito com todo o trabalho que a gente pensa no Consórcio como um todo, de que a mobilidade não pode ser tratada de forma isolada em nenhum município. É um pouco o que a campanha Travessia Segura já tem trabalhado ao longo desses últimos anos.
A campanha está sendo retomada. Qual a diferença em relação à primeira edição?
Acho que de diferente a gente está mudando um pouco a estratégia publicitária em si. O objetivo não é eliminar a campanha anterior, mas passar por nova etapa. A gente entende que ainda precisa instituir para o pedestre a questão do gesto, que ainda é uma forma do pedestre se sentir um pouco mais seguro. A ideia é que a gente foque nessa etapa da campanha na implementação do gesto do pedestre solicitando a passagem para o motorista. Acho que quando a gente entra em um carro pode ter a sensação que somos superiores a quem está na rua, e não é verdade. O motorista tem de começar a observar que quanto mais devagar a gente anda, mais bonita a cidade fica. Quando a gente está numa velocidade mais reduzida, a gente consegue enxergar coisas na cidade que quando a gente está correndo não enxerga. A pessoa é a mesma quando ela está caminhando e a mesma quando está dentro de um carro. Acho que por isso eu sempre digo que o Travessia Segura é o mais audacioso projeto, porque é muito difícil mudar esse conceito.
De quanto foi a redução de atropelamentos após o início da campanha?
Tivemos uma redução de cerca de 16% no número de atropelamentos no ABC, mas temos uma preocupação além da questão da travessia em si, que é a questão da velocidade, isso também precisa ser considerado. Tivemos casos recentes em São Paulo de motoristas que perderam controle por alguma razão, ou por embriaguez ou excesso de velocidade e atropelaram pessoas no passeio público. A velocidade precisa ser controlada também.
O ABC pensa em implantar redução de velocidade máxima das vias como em São Paulo?
Nós não chegamos a discutir isso ainda no GT (Grupo de Trabalho) Mobilidade, até porque nesse momento o trabalho está muito voltado à finalização do processo de licitação no início dos projetos do Consórcio, do PAC Mobilidade, e a questão da Travessia Segura. Eu acho que essa medida que foi tomada em São Paulo é necessária. Por mais que ela desagrade a maioria das pessoas, ela é necessária. Você pegar uma avenida numa área mais central, a 60 km/h é um risco muito grande. Principalmente para os pedestres. Acho que São Paulo está tendo uma atitude corajosa e não só em reduzir a velocidade, mas o prefeito Haddad está fazendo uma transformação no olhar da cidade com relação às pessoas. Ele está tirando de lado, bem tranquilamente, a prioridade do automóvel e da velocidade e transformando a cidade para as pessoas. Ele está implementando ciclovias em todos os lugares possíveis, criando espaços de convivência maiores, e a redução da velocidade faz com que as cidades se tornem mais humanizadas. Quando você passa numa via que é 30 ou 40km/h, o risco de um acidente é muito pequeno. E as pessoas nesse sentido se sentem mais confortáveis para circular.
Essa redução no limite de velocidade deve ser discutida de forma conjunta entre os prefeitos?
Seguindo toda diretriz que o Consórcio tem trabalhado nos últimos anos, eu aposto em dizer que não há mais nenhum grande projeto de mobilidade que não seja discutido em âmbito regional. Hoje o ABC é uma única grande região de 2,5 milhões de habitantes. Nada do que se passa em São Bernardo não tem reflexo em Santo André ou em Diadema ou em Mauá. Nessa questão, tanto da mobilidade quanto da infraestrutura ou do transporte coletivo, não há mais sentido de a gente trabalhar isso se não for unificado, uma discussão regional.
Por que o ABC não conseguiu expandir a rede de ciclovias na mesma velocidade que São Paulo?
São Paulo acabou sendo mais audacioso nesse sentido e tomou uma decisão arriscada. São Paulo decidiu, ao invés de pensar numa infraestrutura um pouco mais ampla, mais segura e mais demorada, fazer ações de implantação imediata. É uma alternativa, uma proposta que tem que ser considerada e respeitada. Se vocês forem analisar mais adiante, quando a gente estiver desenvolvendo os projetos em torno dos eixos, a intenção é onde a estrutura permitir a gente contemple também o sistema de circulação de bicicleta. A própria linha 18 tem uma ciclovia projetada ao longo de toda a linha. Santo André, por exemplo, com os corredores previstos no BID, tem malha cicloviária prevista também. A mesma coisa em São Bernardo.
O Consórcio tentou implantar um programa de ciclofaixas no ABC. Por que não deu certo?
Nós lançamos duas vezes o chamamento público. Num primeiro momento lançamos o da ciclofaixa de lazer e depois da ciclofaixa de lazer com as bicicletas de aluguel, para ver se conseguia atrair um pouco mais de público. Acho que a grande diferença entre os projetos de São Paulo, que têm uma relevância grande, e a nossa região é a questão da publicidade exterior. Em São Paulo, você ter sua marca registrada numa bicicleta de aluguel ou ciclofaixa vale ouro. Aqui os investidores olham pela cidade e pensam: “Vou gastar R$ 10 milhões [custo do projeto de ciclofaixas em um ano] ou vou gastar R$ 10 milhões em outdoor, busdoor, painéis eletrônicos e abrigos de ônibus?”
A política de prioridade à bicicleta e ao transporte público veio para ficar?
Certamente. É a gente começar cada vez mais a se convencer de que a cidade não é dos automóveis, é das pessoas. Esses elementos todos são muito polêmicos. Quando você tem um viário restrito, quando não há condições de fazer um alargamento e você decide tirar uma faixa dos automóveis e fala que vai passar bicicleta ou transporte coletivo é uma decisão muito dura, mas é uma decisão que precisa ser tomada. Ninguém está dizendo que as pessoas não devem ter automóvel, mas eu tenho que saber o quanto custa esse automóvel para mim. A minha ida ao centro da cidade, por exemplo, ela vai ter de ser considerada um estacionamento privado. Vou ter de pagar para ir para o centro da cidade com meu carro. Agora se eu for a pé é outra história…
Em agosto completaram dois anos do anúncio de verba para mobilidade feito pela presidente Dilma no ABC. Não está demorando demais para começarem as obras?
Dá uma sensação de que o tempo passa muito rápido e a gente não consegue acelerar. Todos os processos de financiamento, de obtenção de recursos, são morosos mesmo. Todas essas obras que foram anunciadas aqui pelo governo federal estavam em um estágio ainda muito incipiente naquela época [agosto de 2013, quando Dilma veio ao ABC]. Tinha uma ou outra que estava um pouco mais avançada. Rio Grande da Serra acabou sendo o primeiro, que saiu na frente mesmo. O prefeito [Gabriel Maranhão] se dedicou a isso, se comprometeu a fazer projeto executivo e acelerou na frente de todo mundo. A gente conseguiu já ter a primeira obra em Rio Grande da Serra e na sequência devem sair as demais cidades.
Houve cortes nas verbas federais para mobilidade? 
As informações que nos passaram é que tudo o que está já garantido, já assinado no PAC, não terá corte de recursos. Apesar desse cenário econômico muito complicado, o que tem chegado para nós é que não estão acontecendo bloqueios de recursos ou de financiamentos. A gente não tem nenhuma razão para temer que esses recursos não venham.
Qual o tempo que foi percorrido desde o anúncio da verba?
O anúncio foi feito em agosto de 2013 e os convênios foram assinados em julho de 2014. É esse trâmite burocrático que complica bastante. Fizemos um esforço enorme de fevereiro a abril de 2013 quando a [então] ministra [do Planejamento, Miriam Belchior], recebeu formalmente o plano. A presidente anunciou a primeira etapa em agosto, mas de lá até a formalização dos convênios demorou muito tempo. E hoje a regional do ABC da Caixa tem uma grande quantidade de empreendimentos e projetos de recursos destinados. Então eles atendem os sete municípios e mais esse grande Plano Regional do Consórcio. A gente às vezes fala, “poxa, vai pra Caixa e fica muito tempo, demora muito”. Eles têm uma quantidade grande de projetos e uma quantidade limitada de técnicos. Ninguém faz mágica.
Quando a linha 18 deve sair do papel?
Nossa, essa pergunta eu adoraria fazer para o governador Geraldo Alckmin… Nós estamos acompanhando bem de perto todas as etapas do desenvolvimento do projeto. O prefeito [Luiz] Marinho está colocando pressão. A ideia é que a gente consiga iniciar, mas a expectativa é que não comece antes de janeiro ou fevereiro do ano que vem. Como ainda depende desse recurso de financiamento que o Estado está pleiteando para começar a desapropriação, a gente não consegue obra sem esse processo em andamento. O governo do Estado culpa o governo federal pela falta de financiamento para bancar as desapropriações. Se fosse exclusivamente recurso do PAC, poderia até fazer algum sentido. Mas tem uma parte do recurso que é sim do governo do Estado. Poderia antecipar isso para acelerar, mas é uma questão de vontade política. Depende da caneta.

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