Dia Internacional da Mulher: Flores e Consciência

Silmara Conchão é Secretária de Políticas para as Mulheres de Santo André (Foto: Évora Meira)

Há quem acredita que no oito de março as mulheres devem ganhar presentes ou receber flores. Isto faz bem, mas este dia existe, pois, apesar das conquistas, muitas ainda são discriminadas no ambiente de trabalho ou na militância, estão longe dos espaços de decisão política, são exploradas e violentadas sexualmente, moralmente e fisicamente nas ruas e em seu próprio lar. Foram e serão assassinadas pelo fato de ser mulher.

O dia oito de março conhecido como dia Internacional da mulher existe há mais de cem anos, para celebrarmos desde as conquistas históricas até os avanços mais recentes, como, a Lei Maria da Penha, os índices positivos de redução da mortalidade materna e as mulheres conquistando cada vez mais espaços nos bancos escolares. Mas principalmente é o momento de jogarmos luz na condição da mulher na sociedade hoje.

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Fala-se muito em investimentos em obras e infraestrutura, fundamental para vida de toda gente, mas me pergunto: quando será que irão também incorporar em seus planos, metas para as pessoas viverem mais iguais? Como pensar no desenvolvimento econômico e trabalho sem incluir estratégias emergentes para as mulheres conquistarem autonomia financeira? Como planejar políticas de educação e cultura sem considerar que o sexismo e o racismo são produto destas?

Como falar de participação sem dar ênfase no quanto o olhar feminino é importante para a organização das políticas na cidade? Como falar de saúde sem considerar o papel da mulher, pois, quando esses serviços não funcionam são elas as mais afetadas? Como falar de segurança sem levar em conta que a violência doméstica é uma epidemia silenciada? Como falar de sustentabilidade ou meio ambiente sustentável sem tocar em vidas dignas como um direito básico?

A condição da mulher tem sim um lugar importante na formulação das políticas públicas e qualquer projeto sério que deseja a transformação e o desenvolvimento requer uma visão diagnóstica cuidadosa. Sendo assim, é importante refletirmos o papel protagonizado pelas mulheres. A elas compete o cotidiano das ações, são as responsáveis por muitas funções que asseguram com que a rotina da vida diária aconteça da melhor forma possível.

Mesmo com as conquistas das mulheres no mercado de trabalho, são elas que permanecem mais tempo em casa e nas suas comunidades. Sustentadoras e promotoras das redes sociais e do suporte comunitário são, em muitas vezes, a única provedora das famílias.

Elas reconhecem a importância do desenvolvimento local e do meio ambiente para o bem estar das crianças e em geral. São altruístas, em muitas vezes coloca as necessidades dos outros antes da sua própria. Portanto, penso que há ainda muitos espaços a serem alcançados pelas mulheres, como espaços de poder, respeito e de valor na sociedade.

O que está em jogo neste oito de março, não são os presentes ou as flores, e sim uma luta centenária e incansável por direitos e justiça social. Nada mais, e nada menos para ninguém, mas a possibilidade da democracia se tornar realidade e o mundo bem melhor para os homens e igualmente para as mulheres.

Silmara Conchão. Feminista. Socióloga. Professora Universitária e Secretária de Políticas para as Mulheres da Prefeitura de Santo André.

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