Política de cotas é uma máscara do governo, critica diretor do Singular

Para o educador, os colégios particulares não existiriam, caso as escolas públicas estivessem à altura do volume de impostos pagos pela população.

Em entrevista ao RDtv, Paulo Roberto De Francisco, diretor do Colégio Singular, do sistema Anglo, fala sobre as manifestações promovidas por estudantes em todo o Brasil, sobre os impactos das reivindicações no sistema educacional, além do polêmico sistema de cotas. “A adoção às políticas de cotas é mais uma tentativa de mascarar o problema, quando a solução seria investir na educação básica”, afirma. Para o educador, os colégios particulares não existiriam, caso as escolas públicas estivessem à altura do volume de impostos pagos pela população.

O diretor também faz parte das comissões temáticas da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) Santo André, onde preside a de Defesa e Proteção aos Animais e compõe o elenco da Comissão de Segurança da Ordem. Confira os principais trechos da entrevista. 

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RDtv: Qual a sua visão sobre as manifestações em todo o Brasil, inclusive no ABC, que também reivindica melhores condições para a educação?

Paulo Roberto De Francisco: Evidentemente o poder das redes sociais gera uma mobilização muito grande e os jovens estão muito mais por dentro do que acontece pelo mundo. É muita gente apontando os políticos, que muitas vezes fazem coisas erradas e, agora, parece que o copo transbordou. Acho justas essas manifestações quando pacíficas.

RDtv: Os jovens estão mais engajados politicamente?

Paulo: Os jovens estão mais informados e quem sabe despertem uma consciência política que estava latente. Alguns professores questionaram se o assunto das manifestações deveria ser debatido em sala de aula e, quando o fizeram, se surpreenderam com a capacidade de argumentação dos estudantes.

RDtv: Qual a importância dos recursos do pré-sal, 10% do PIB do Brasil voltados à educação?

Paulo: Vamos ser bem realistas: quando teremos o resultado desse pré-sal? Acho que precisamos de ações mais imediatas. A primeira coisa é diminuir o gasto público. Temos 39 ministérios no nosso governo federal, será que a presidente conhece todos? Já mostrou que não. E não é só o ministro. O número de pessoas comissionadas teve um estouro.

RDtv: Uma pesquisa da USCS indicou que 72% dos domicílios da região têm acesso à Internet, patamar muito melhor que a média do Brasil. Você acha que a região tem uma situação diferenciada e isso influencia no conhecimento?

Paulo: Nossa região é privilegiada. E com cenário as coisas podem mudar e serem bem diferentes. Mas é necessária participação de todos. Se cada um fizer a sua parte as coisas serão diferentes. Não tenho dúvida

RDtv: Como membro da Comissão de Segurança da OAB, quais as ações desenvolvidas para contribuir com a segurança em Santo André?

Paulo: A comissão acompanha os gastos da Prefeitura e trabalha em parceria com a ACISA e com a Conseg para trazer soluções em benefício da comunidade. Em 29 de agosto haverá uma palestra sobre como aumentar a seleridade da Justiça na área criminal, pois hoje temos os juizados especiais na área civil. Existe experiência positiva desse tipo no interior, em que o delegado e o escrivão fazem o papel de conciliadores, numa batida de carro, uma briga de marido e mulher, por exemplo. A nossa missão será apresentar a ideia aos delegados da cidade.

RDtv: Quais as próximas ações na Comissão de Defesa e Proteção aos Animais, na qual o senhor preside?

Paulo: Temos ações fixas em parceria com Santo André e com o Centro de Zoonoses para realizar uma vez por mês uma feira de adoção de animais. Temos também a Cãominhada, no Paço Municipal, que será realizada em outubro. Há também palestras e discussão de legislação, além de pessoas que nos procuram para denunciar maus tratos. No geral, fazemos uma composição de forças, de amigos e colaboradores, para tentar fazer castrações, vacinações e busca de rações.

RDtv: Voltando à educação, qual sua visão sobre o sistema de cotas e como o tema é tratado dentro do colégio?

Paulo: Particularmente, acho que a adoção às políticas de cotas é mais uma tentativa de mascarar o problema, sou contra, pois a solução seria investir na educação básica. Bons exemplos temos lá fora. É uma política de mascaramento. Os colégios particulares não deveriam existir, caso as escolas públicas estivessem à altura do volume de impostos pagos pela população. Nós temos de mostrar aos alunos que isso não deve desestimular os estudos. A USP [Universidade de São Paulo] e a Unicamp utilizam o termo política positiva, que não reserva uma quantidade das vagas para as cotas. Ou seja, as universidades públicas federais têm um sistema e as estaduais têm outro. O estudante pode ter até 20% de cota, mas depende do seu desempenho na prova. É notória a diferença nos resultados de um estudante normal do cotista.

RDtv: Como o avanço tecnológico e o acesso rápido às informações pela internet influenciaram na dinâmica de aula?

Paulo: A rede Anglo de ensino trabalha com a filosofia de o professor ser o principal instrumento de aula. A tecnologia é uma ferramenta que, quando bem utilizada, ajuda, mas a prioridade é sempre a aula. A chamada pirotecnia educacional é muito bonita, mas não incentiva o aluno a raciocinar, pegar a caneta, escrever, estudar. Até mesmo as provas de vestibulares se adaptaram a este novo universo, que exige muito mais a capacidade de intelecção do aluno do que quando era a nossa época, de saber usar aquelas fórmulas.

RDtv: O senhor é a favor das provas que medem a qualificação de ensino, como Enem?

Paulo: As avaliações são sempre importantes, mas devem ser bem feitas. Gostava da época do Provão, que classificava as faculdades. Tinham algumas ressalvas. Já o ENEM é como se fosse um carrasco, pois o aluno de escola pública não fica mais de uma hora fazendo prova, daí chega numa avaliação que dura muitas horas no final de semana todo sem preparação e acaba com dificuldades. Nesse aspecto eu acho equivocado. O Enad fazia um equívoco grande, mandava os fracos não fazerem prova.

RDtv: O Singular também oferece cursos extras à comunidade. Como são desenvolvidos?

Paulo: O Singular tem a responsabilidade de formação do cidadão e, evidentemente, a grade de matérias aborda questões sociais como a DPS (Desenvolvimento Pessoal e Social), que discute temas, como drogas, sexo e ética. Temos também o Singular Social, em que o aluno contribui com a Campanha do Agasalho, visitas a asilos, arrecada doações para a Páscoa, Natal etc.

RDtv: O Singular tem cursos profissionalizantes. Alguma novidade neste segmento?

Paulo: Estamos numa região onde o ensino técnico é muito importante, então acompanhamos o mercado. Em 2011 conseguimos uma concessão da Tech University, que trouxe ao Singular o High School Americano, que permite ao aluno retirar o diploma brasileiro e o diploma americano. Com o diploma americano ele tem acesso em diversas universidades.

RDtv: Em período de férias o colégio desenvolve alguma atividade?

Paulo: Algumas unidades têm o período integral durante as férias, outras oferecem plantões de dúvidas, cursos extras optativos e torneio esportivo.

RDtv: Às sextas-feiras acontece uma festa chamada sexta aula. Qual a motivação para o evento?

Paulo: A cada dois meses promovemos a integração de alunos e professores através de um encontro na sexta-feira. A festa acontece desde o tempo em que o período noturno tinha apenas cinco aulas e dura até hoje. As atrações ficam por conta de duas bandas formadas pelos próprios professores. O evento ocorre em São Bernardo, restrito aos alunos e convidados. 

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