Kassab deve consolidar imagem para tentar reeleição

Na tentativa de consolidar uma imagem junto ao paulistano, com vistas à reeleição no pleito municipal do ano que vem, o prefeito da capital paulista, Gilberto Kassab (DEM, antigo PFL), tem se empenhado em executar ações de impacto no município, como a lei Cidade Limpa. Porém, também tem sido protagonista de episódios polêmicos, como a irritada reação, sob os gritos de “vagabundo”, no início de fevereiro, contra um trabalhador autônomo que protestava contra essa lei. Obviamente o fato tornou o prefeito mais conhecido dos paulistanos. Mas, por outro lado, mostrou uma faceta delicada na construção da imagem de um político que pretende se reeleger: o descontrole, conforme avaliam especialistas.

Para o cientista político Claudio Couto, professor da PUC-SP, fatos como estes não são bons para a imagem de um político. Ele lembrou que a ex- prefeita Marta Suplicy (PT), atual ministra do Turismo, também foi prejudicada por seu temperamento, quando disputou a reeleição. Quando prefeita, ela discutiu com uma moradora da zona Leste da cidade, após uma grande enchente. As cenas, amplamente veiculadas pela TV, foram muito bem exploradas na campanha eleitoral na qual ela disputou a reeleição, vencida pelo tucano José Serra. “Esse tipo de atitude agressiva pega muito mal para um prefeito. Marta é um bom exemplo disso e mostra o desgaste que atitudes destemperadas podem acarretar na imagem”, ponderou.

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Aliado às atitudes polêmicas e de grande impacto na mídia, como a Lei Cidade Limpa, Kassab tem se preocupado também em lançar pequenas ações administrativas, tal qual um síndico das causas da cidade. Com base neste princípio, o engenheiro e economista de 46 anos, eleito vice-prefeito na chapa de Serra, alçado ao principal posto do executivo municipal depois que o tucano se candidatou e venceu o pleito para o governo do Estado, no ano passado, vem adotando medidas que exigem pouco do orçamento, mas que causam muito barulho, como a proibição de gritos nas feiras livres – recentemente corrigida pelo prefeito, sob alegação de que uma vírgula no lugar errado causou interpretação errônea da ação – e a proibição da Marcha de Jesus, na Avenida Paulista, em contraponto à liberação da Parada Gay, realizada no mesmo local.

Segundo o cientista político Francisco Fonseca, docente da FGV-SP, quem é prefeito da maior cidade do País não pensa em parar por aí. “As pretensões (do político que ocupa este cargo) tornam-se maiores e a do Kassab é se reeleger em 2008”, reiterou. Ele destaca que as pequenas medidas tomadas por um administrador público trazem impacto e repercussão, sobretudo na opinião pública. Claudio Couto também aposta que Kassab pretende se candidatar à reeleição, mas questiona se as ações adotadas até o momento pelo prefeito no sentido de consolidar sua imagem para as eleições do ano que vem podem trazer algum dividendo eleitoral. “Elas (as medidas) podem trazer repercussão, mas não devem estar trazendo ganhos eleitorais”, avalia.

Sangue de barata

Em poucos meses como titular do executivo municipal paulista, Kassab tem se especializado em colecionar episódios polêmicos. Uma semana depois de chamar o autônomo Kaiser Paiva Celestino da Silva de vagabundo, fez um mea-culpa. Pediu desculpas a Kaiser, à cidade e aos brasileiros que viram as cenas de seu destempero, sob alegação de que tinha perdido a cabeça. Mas justificou o ato com o argumento de que reagiu como muitos reagiriam numa situação dessas, porque não tinha “sangue de barata”.

Ainda no contexto da Lei Cidade Limpa, o prefeito se irritou, em entrevista coletiva sobre o tema, com o repórter norte-americano David Harris, do canal CurrentTV. Harris classificou Kassab como um político “de direita”, mas que tinha atitudes comparáveis às experiências de China e Cuba, países comunistas. O prefeito, que não gostou da comparação, revidou, em alto tom: “Sou um político de centro”, alegando, ainda, que o repórter havia cometido um “grande equívoco”.

Um vídeo que foi ao ar no programa “Planeta Cidade”, da TV Cultura, no início deste ano, também deu muita margem à polêmica. Gravado dias depois da tragédia do desabamento da linha 4 do Metrô, que deixou sete mortes, e veiculado no YouTube, o vídeo mostra o seguinte comentário descontraído de Kassab em relação à tragédia: “Tem aquele motel ao lado do buraco do acidente do Metrô que, quando veio o estrondo, imagina a zoeira que foi! Todo mundo saindo dos quartos. A cena deve ter sido uma comédia para quem estava lá, apesar da tragicidade do momento.” Depois da repercussão negativa, o prefeito ainda tentou se explicar, dizendo que tudo não passava de um mal-entendido, resultado do uso de sua imagem “fora do contexto”.

Outra ação criticada no início do ano foi a reinauguração da Praça da Sé com os inusitados “apoios para glúteos”, que substituíram os antigos bancos não apenas nessa praça, mas também nas da República e Dom José Gaspar. O novo layout dos bancos recebeu críticas da União do Movimento de Moradores de São Paulo, que classificou a ação de “política higienista”, porque tais bancos “antimendigos” evitam que moradores de rua durmam nessas instalações.

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