Irmãos Daniel pedem teste para detectar mentiras em acareação

A acareação entre o chefe do Gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, e os irmãos do prefeito assassinado Celso Daniel, João Francisco e Bruno Daniel, se transformou em um festival de acusações sem provar a existência de caixa dois na Prefeitura de Santo André. Em várias ocasiões, os ânimos dos depoentes se exaltaram. O assessor disse que os irmãos estavam sendo usados politicamente, provavelmente pela oposição. João Francisco, por sua vez, pediu a Carvalho acabar com a “palhaçada” e o desafiou ao teste de polígrafo, para detectar quem estava mentindo.

A convocação para acareação na CPI dos Bingos foi uma tentativa de esclarecer depoimentos divergentes prestados anteriormente. Ontem (26), João Francisco e Bruno voltaram a dizer que ouviram do próprio assessor a confissão de que teria levado para o deputado federal José Dirceu (PT) malas de dinheiro extorquido de empresários do setor transporte que operavam na cidade. “Não se trata de invencionice ou imaginação forte. Há evidências de um esquema de arrecadação totalmente compatível ao que relatou”, disse Bruno.

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Na época (em 2002), Carvalho era secretário de Governo de Santo André e Dirceu presidente nacional do PT. O destino dos recursos seria o caixa dois do PT para financiamento de campanhas eleitorais. O assessor confirmou os encontros com a família Daniel, mas negou que tenha levado dinheiro. “Não levei dinheiro nenhum a José Dirceu”, afirmou Carvalho.

O assessor tentou comover os irmãos e os parlamentares que acompanhavam a acareação com a revelação de que Celso Daniel teve uma filha com a pedagoga Ivone Santana que não era reconhecida pela família. “O único apartamento que o Celso deixou está alugado, e hoje Ivone mora precariamente, porque teve de devolver o apartamento que havia financiado”, disse Carvalho. Bruno contestou e disse que é necessário um rito processual com realização de exame de DNA para comprovar que a adolescente é mesmo filha de Celso Daniel.

Ivone reivindicou a paternidade de Celso Daniel para sua filha Liora, de 19 anos, oficialmente registrada em nome de Michel Mindrizs, com quem foi casada. O processo corre em segredo de Justiça no Fórum de Santo André, e Ivone apresentou à família Daniel apenas um laudo feito por laboratório particular. Quando Celso Daniel morreu, em janeiro de 2002, o processo ainda não havia sido instaurado, e o espólio do prefeito ficou sob a responsabilidade da mãe, Maria Clélia Daniel.

?Acusações são cortina de fumaça?, diz Bruno

Da Redação

O assessor Gilberto Carvalho acusou João Francisco de fazer lobby em favor da família Gabrilli, que detém concessão de uma linha de ônibus em Santo André, e de sua filha Ana Carolina, que também é oftalmologista, como o pai. “Não me arrependo de ter feito isso, e não foi crime nenhum. Fui, sim, à Prefeitura de Santo André, nunca neguei. Só não tive êxito”, afirmou João Francisco, que disse estar defendendo interesses de uma empresa que estava sendo achacada pelo esquema de corrupção. Já a filha não pôde ser contratada porque não tinha dois anos de experiência, como era exigido.

Outro assunto levantado por Carvalho na acareação foi a relação entre os irmãos Daniel e o prefeito assassinado. Segundo o assessor, João Francisco não foi em nenhuma das posses de Celso Daniel. “O que me espanta é a distância que vocês tinham do Celso. Não aceitaria depoimento daquela empregada que disse ter visto sacos de dinheiro no apartamento dele. Quem conheceu o Celso sabe que ele nunca faria isso”, afirmou Carvalho, em tom enfático.

Na opinião dos irmãos, o distanciamento não tem nenhuma relação com o real motivo da acareação, ou seja, descobrir se existia ou não esquema de caixa dois em Santo André e se isso teria motivado a morte do prefeito. Bruno disse que o comportamento do assessor era uma forma de jogar uma cortina de fumaça sobre o que consideram mais importante: esclarecer os fatos. “Dizer que Celso tinha uma filha ou que o João era lobista ou não é jogar uma cortina de fumaça sobre o que é realmente interessante: a morte do Celso”, comentou.

A acareação começou às 12h30 e durou mais oito horas, tempo que para muitos parlamentares que acompanharam a sessão foi perdido porque não trouxe nenhum esclarecimento sobre o caso.

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