Ex-secretária de Mauá é presa após depoimento

Em meio a protestos de populares, a ex-secretária de Finanças de Mauá Valdirene Dardin foi presa ontem (30) no Fórum de Mauá após prestar depoimento à Justiça. Ela foi levada para o CDP (Centro de Detenção Provisória) de São Bernardo, onde deverá ficar em uma cela especial por ter formação superior em Matemática. A ex-secretária estava foragida desde 20 de setembro, quando o juiz da 6ª Vara de Mauá, Dirceu Brizola, decretou sua prisão preventiva. Os advogados de defesa tentaram revogar a prisão, mas não tiveram sucesso. “Entendi que havia indícios para mantê-la presa. Não houve qualquer fato novo que alterasse o posicionamento anterior”, disse Brizola.

Valdirene Dardin foi denunciada pelo Ministério Público por supostamente ter retirado R$ 230 mil de uma das contas da Prefeitura de Mauá entre 2003 e 2004, durante a administração do ex-prefeito Osvaldo Dias (PT). No interrogatório de pouco mais de uma hora, a ex-secretária chorou ao negar as acusações. Depois reconheceu as assinaturas na autorização dos saques como sendo semelhantes a sua, mas disse não se lembrar de ter firmado os documentos.

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O advogado de Valdirene, Leonardo Musumecci Filho, entrará com pedido de habeas corpus no Tribunal de Justiça somente na segunda-feira (3). “A defesa trabalhará incessantemente durante todo o fim da semana para colocar a Valdirene em liberdade”, afirmou Musumecci, ao lembrar que o recurso levará de dois a três dias para ser apreciado pelos desembargadores. O advogado preferiu não comentar o conteúdo do depoimento de sua cliente, e disse apenas que “a defesa orientou a dizer a verdade”.

Para o Ministério Público, a prisão da ex-secretária foi uma resposta positiva à investigação que reuniu provas que convenceram o Poder Judiciário. Na avaliação da promotora Adriana Soares, uma das responsáveis pela denúncia, o depoimento de Valdirene não trouxe novidades. “Foi uma reprise do que tinha falado anteriormente. Também não conseguiu dar explicações a nada”, comentou Adriana, que espera a condenação dos culpados.

Depoimento

Valdirene Dardin tem 38 anos, é casada e não tem filhos. Antes de ingressar na carreira pública, lecionava Matemática em escolas de Mauá. Ontem (30), em seu primeiro depoimento como ré em um processo criminal, chorou e classificou como “mentirosas” as declarações do gerente do banco Santander Banespa em Mauá, Silvio Francisco Catarino, que confirmou ao Ministério Público ter levado pessoalmente dinheiro – acondicionado em sacolas – para a ex-secretária em seu gabinete. Catarino também disse em depoimento que em pelo menos duas ocasiões a ex-secretária esteve pessoalmente na agência para realizar os saques.

A ex-secretária negou que a movimentação e aplicação financeira fossem de sua exclusiva responsabilidade, como disse em depoimento ao Ministério Público uma ex-funcionária da Prefeitura citada apenas como Ivete. Segundo Valdirene, Ivete trabalhava na Tesouraria e tinha ciúmes por não ter assumido a Secretaria de Finanças, apesar de ser filiada ao PT.

O desfalque na conta da Prefeitura de Mauá foi descoberto pela equipe do prefeito interino Diniz Lopes (PL), que fez representação ao Ministério Público e determinou instauração de processo administrativo. A conta era utilizada exclusivamente para pagar rescisões trabalhistas. Se for confirmada a responsabilidade da ex-secretária, o prefeito interino entrará com ação judicial contra a ex-secretária pedindo ressarcimento aos cofres públicos.

Quando o desfalque se tornou público em meados de julho, Valdirene divulgou uma nota à imprensa na qual insinuou ter mais informações sobre possíveis irregularidades ao declarar que “os escândalos do mensalão e da cueca milionária pareceriam conto de fadas”. Ontem, em seu depoimento, a ex-secretária disse que assinou o documento, mas disse que não concordava com o teor da nota e nem tinha autorizado a divulgação.

O processo sobre o desfalque na Prefeitura de Mauá terá prioridade perante aos demais casos em tramitação porque já possui uma ré presa. Por isso, o depoimento com cinco testemunhas de acusação foi marcado para a próxima sexta-feira (7).

Populares esperavam por detenção no Fórum da cidade

Depois de 10 dias foragida, a ex-secretária Valdirene Dardin foi pontual e chegou no Fórum de Mauá no horário marcado para o depoimento: às 13h. Muito abatida, ela desceu do carro com dois de seus advogados que fizeram escolta até a sala de audiência. Foi uma forma de evitar aproximação de populares que aguardavam a passagem da ex-secretária como um espetáculo. “É pontual. Chegou no horário”, comentou um funcionário público que preferiu não se identificar.

Apesar da insistência dos jornalistas, Valdirene não falou com a imprensa. A principal dúvida é saber o destino dos R$ 230 mil retirados dos cofres públicos. Há suspeita de que o dinheiro serviu para o financiamento de campanhas eleitorais do PT ou para pagamento de propina aos vereadores de Mauá durante a legislatura passada. Nenhuma das hipóteses foi confirmada pela investigação feita pelo Ministério Público, principalmente porque a ex-secretária nega que tenha sacado os recursos.

Após a confirmação da prisão de Valdirene, dezenas de pessoas começaram a se aproximar da porta do Fórum de Mauá de onde saem os presidiários. Todos queriam ver a ex-secretária algemada, o que não foi possível ver, pois ela saiu em uma viatura da Polícia Civil. Mesmo assim, os populares não pouparam adjetivos de baixo calão. Alguns se aproximaram do carro e diziam: “devolve o sacolão, Valdirene”, em referência às sacolas de dinheiro que teriam sido retiradas do banco Santander Banespa.

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