Grana aposta em medidas ousadas para marcar governo em Santo André

“Eu retomei o que o Celso Daniel nos ensinou lá atrás, que é trabalhar com planejamento estratégico” / Foto: Rodrigo Lima

Ousadia. Este foi o termo utilizado pelo prefeito Carlos Grana (PT) para definir as ações projetadas para o seu governo no comando do Paço de Santo André. A cidade comemora, no próximo dia 8, 460 anos de emancipação. Na avaliação do petista, o munícipe já tem motivos para comemorar. Em entrevista exclusiva ao RD, Grana listou série de realizações feitas desde que assumiu a Prefeitura. Iluminação, limpeza de vias públicas e ações para minimizar os estragos causados pelas enchentes estiveram em pauta. Além disso, o prefeito destacou a retomada de projetos desenvolvidos em parceria com os governos federal e estadual.

O desafio do chefe do Executivo andreense é alçar voo durante o primeiro ano de mandato driblando o déficit no caixa da Prefeitura. O rombo de R$ 110 milhões deixado pela administração anterior levou o grupo governista a contingenciar 34% do orçamento do ano vigente, estimado em R$ 2,4 bilhões (resguardando-se as verbas destinadas a pagamentos obrigatórios). No tocante ao jogo político, o petista trabalha para garantir maioria na Câmara, para encaminhar projetos de interesse do Paço, como a reforma administrativa.

Newsletter RD

O prefeito petista ainda destacou alguns projetos como o Poupatempo de serviços e o Bilhete Único Municipal – projetando, após a conclusão deste último, a criação do Bilhete Único Metropolitano.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista:
 

RD: O senhor está há pouco mais de 90 dias no comando do governo e a cidade comemora 460 anos. Os moradores de Santo André já têm motivo para comemorar essa nova administração?
Carlos Grana: Sim, porque estamos iniciando o governo com ritmo bastante acelerado. Conseguimos encaminhar soluções para questões que estavam muito críticas na cidade, como iluminação, limpeza pública, roçagem. E, rapidamente, conseguimos retomar alguns projetos muito importantes, sobretudo a volta do relacionamento com os governos federal e estadual. A equipe de secretariado está correspondendo à nossa expectativa. Realizamos um planejamento, estabelecendo metas e prioridades para todo o mandato. Creio que a cidade tem o que comemorar agora e pelos próximos quatro anos.

RD: Nos primeiros dias de governo, o senhor teve dificuldades com a questão das enchentes, que acabaram provocando outras situações graves que vão consumir boa parte do orçamento, caso do rebaixamento da ponte na avenida dos Estados. Já há algum encaminhamento para que no próximo ano não aconteça a mesma coisa?
Grana: Passado o período de chuvas, agora é o momento de trabalhar. Temos várias obras em processo de licitação, e vamos procurar fazer com que a cidade não sofra, no próximo ano, o que sofreu neste. Temos em vista que a falta de manutenção dos córregos, bocas de lobo e esgotos também prejudicaram a cidade. Estamos atuando junto ao PAC Saneamento, e vamos investir na área.

RD: Entre as soluções, você indica os piscinões. O governador Geraldo Alckmin, inclusive, anunciou que fará PPP (Parceria Público-Privada), para garantir a manutenção. O senhor fará pressão para que o Estado cumpra seu papel de limpar os piscinões?
Grana: Foi muito bem vindo esse anúncio no último dia 21. Santo André será beneficiada com dois piscinões de grande volume. O principal será o do Córrego Taioca, que também faremos processo de retomada das obras, e vamos fazer o processo de canalização e pavimentação dessa região, não só para resolver o problema da enchente, mas também da mobilidade. Na Avenida dos Estados, vamos aproveitar que a ponte acabou cedendo para construir outra com estrutura mais adequada. A região é importante. Em reunião com Universidade Federal do ABC, o reitor [Hélio Waldman ] nos anunciou um plano de expansão para a área, para evitar a conturbação do trânsito e atrair novos investimentos.

RD: O senhor tem iniciado nesses meses muitas ações com os governos federal e com o estadual. O que, em sua opinião, vai andar mais rápido?
Grana: Temos três projetos que foram aprovados e devem ter início imediato. Um é ampliar a produção de água local. Em 460 anos, Santo André só produz 5% da água que consumimos. Os outros 95%, compramos da Sabesp. Nós conseguimos aprovar um recurso de R$ 89 milhões, que vem do PAC Saneamento. Com isso, vamos ampliar nossa necessidade de produção de água. Será uma estação de tratamento de água próxima ao Clube de Campo, na região do Pedroso. Isso é uma conquista porque nos dará autonomia. O segundo é uma reforma profundo no Corredor Guarará, importante ligação entre o Centro e a vila Luzita. Conseguimos recurso de R$ 103 milhões do governo federal. Entrará em fase de licitação. O terceiro, uma conquista para Santo André, é o recurso do PAC Cidades Históricas. De 44 cidades em todo o Brasil, Paranapiacaba será contemplada. Faremos uma revitalização na vila, que estava um pouco decadente.

RD: Durante a campanha, o senhor prometeu 3 mil habitações populares. Vai conseguir cumprir isso no seu governo?
Grana: Nós já estamos revendo essa meta, porque a necessidade na cidade é bem superior. Hoje, a cidade demanda cerca de 20 mil habitações. Claro que, em quatro anos, não vamos conseguir bater essa meta. Mas junto ao secretário, definimos o objetivo de entregar 5 mil unidades. Nesse aniversário, entregaremos 350 unidades nos conjuntos Juquiá e Londrina. Há outros projetos, estamos em busca de terrenos. Há uma certa dificuldade, porque o custo do terreno na região metropolitana é alto e a iniciativa privada não tem muito interesse.

RD: Outra promessa de campanha é o Bilhete Único, que seria implantado na cidade em 90 dias. Já houve discussão na Câmara e com o empresariado do setor. Como que está esse projeto? O munícipe vai poder desfrutar do Bilhete Único em tão pouco tempo?
Grana: Isso é um desafio antigo que não conseguiu ser implementado. Nós estamos num processo que amadureceu logo nos primeiros dias de governo. Tivemos reuniões com as concessionárias que realizam o serviço de transporte coletivo na cidade e eles pediram, em 20 de fevereiro, 90 dias para concretizar o projeto. As empresas darão contrapartidas, com ônibus novos, vários tipos de cartões, novas catracas, digitalização do sistema. Criaremos a base para num segundo momento, teremos o Bilhete Único Metropolitano, integrando corredores municipais com metrô, trólebus e trem.

RD: Outro tema que está sendo discutido até mesmo na Câmara é a Operação Delegada, e a Segurança também foi tema durante a eleição. O senhor é a favor ou contra a Operação? É possível implantar em Santo André?
Grana: É um tema que precisa ser aprofundado. Me preocupa que você está ampliando a jornada de trabalho do policial militar, que já deveria ter jornada menor por conta da periculosidade da sua profissão. Por outro lado, a remuneração do profissional está aquém das suas necessidades, e por isso eles acabam recorrendo ao bico. Nós temos a nossa Guarda Civil Municipal que nos honra muito com seu trabalho. Tivemos algumas ações de combate ao crime na cidade, ainda que constitucionalmente ela não tenha essa atribuição. Mas o debate está aberto. Só não quero tomar essa decisão de forma isolada da região. Acho que é um assunto que a gente tem de levar para o Consórcio Intermunicipal, porque a polícia militar funciona de forma regionalizada no ABC.

RD: No início do governo, a Câmara de Santo André acabou elegendo um presidente que não é de sua base de aliados [Donizete Pereira, do PV]. Não digo que houve uma cisão, mas um embate entre Executivo e Legislativo. O episódio até culminou na formação do G12 [grupo de 12 parlamentares que despontam como oposição]. Como pretende aumentar sua base de sustentação?
Grana: Eu não tive atuação na eleição para a presidência porque não acho adequado um prefeito recém eleito interferir na formação do comando da Câmara. Eu acompanhei e tinha preferência clara pelo vereador Montorinho (PT), mas respeito a autonomia da Casa. O debate sobre a base aliada e de oposição, tenho encarado com naturalidade. Meu papel no começo de mandato é apresentar iniciativas de governo. A cidade não quer saber se eu tenho apoio de nove ou de 12 vereadores. A cidade quer saber se o governo tem bons projetos. Minha intenção é trabalhar com os 21 vereadores. Na hora de decidir sobre projetos, eles estarão ao lado da cidade.

RD: No início do governo, o senhor anunciou que faria uma reforma administrativa, criando novas secretarias e outras ações. Como está essa questão?
Grana: A nossa ideia é de fazer uma reforma geral. Inicialmente, tínhamos um desenho. Hoje, percebemos que isso precisa ser readequado. Achei por bem ter cautela.

RD: Recentemente, o senhor fez um planejamento de governo junto ao secretariado. Já dá para sentir os efeitos desse planejamento?
Grana: Sem dúvidas. Eu retomei o que o Celso Daniel nos ensinou, que é trabalhar com planejamento estratégico. Há tarefas que são das secretarias e autarquias que são cotidianas, mas um governo não pode se limitar a isso. Precisamos definir o que queremos para a cidade nos próximos 20, 30 anos. Temos as prioridades dos segmentos, mas definimos 16 desafios para o governo. Entre eles, entregar mais moradias, aumentar nossa capacidade de produção de água, garantir 100% de saneamento na cidade, melhorar a mobilidade urbana, trabalhar a questão da segurança, do combate ao crack. A partir dessas metas, as secretarias definirão seus trabalhos.

RD: O senhor ainda não escolheu um líder de governo. Qual a razão disso?
Grana: Essa decisão eu devo tomar em conjunto com os vereadores. A tendência é que seja alguém de um partido aliado, e não do PT. Precisamos governar de forma mais ampla.

RD: Umas das bandeiras do seu antecessor no Paço, Aidan Ravin (PTB), foi a Saúde, tema recorrente em todos os debates na última disputa eleitoral. O que o senhor viu em relação ao setor quando assumiu o governo, e quais mudanças já foram feitas?
Grana: Nós ampliamos imediatamente nossa rede de urgência. Nós recebemos cinco unidades de ambulâncias do SAMU do governo federal, e devemos receber mais seis até o final do mês. Também discutimos com os profissionais da Saúde a ampliação da rede preventiva, como o programa Saúde da Família. Já ampliamos o atendimento no Hospital da Mulher, com mais uma sala de cirurgia para a reconstituição de mamas, que era demanda na cidade. E vamos atuar no tratamento psicossocial, em parceria com o governo federal, aumentando a rede de atendimento. Teremos uma espécie de república de recuperação de drogados, com duas centrais de atendimento para adultos e jovens. Além disso, ampliamos a lista de medicamentos gratuitos, com seis novos remédios que serão distribuídos para a população. Nossa equipe tem feito esforço para atingir nossa meta, que é humanizar a Saúde Pública em Santo André.

Receba notícias do ABC diariamente em seu telefone.
Envie a mensagem “receber” via WhatsApp para o número 11 99927-5496.

Compartilhar nas redes