A Vila São Pedro, maior comunidade de São Bernardo, abriga mais de 28 mil moradores e figura como a terceira maior favela do Estado de São Paulo, segundo dados do Censo de 2022. Em um território marcado pela vulnerabilidade social, os agentes comunitários de saúde da UBS São Pedro exercem um papel fundamental: conectar a população aos serviços oferecidos pelo SUS e garantir o acesso efetivo ao cuidado.
Em entrevista ao RDtv, a coordenadora da unidade, Cíntia Barbosa dos Santos, e a agente comunitária Maria Aparecida Santos Fabiano detalham como a atuação próxima às famílias, tanto nas ruas quanto dentro das casas, fortalece a rede pública de saúde e gera impactos concretos em acolhimento e qualidade de vida.
O trabalho dos agentes vai muito além do atendimento pontual. No cotidiano, eles identificam e acompanham casos prioritários, como pessoas com diabetes, hipertensão, tuberculose, além de gestantes, crianças com vacinação em atraso e indivíduos em situação de vulnerabilidade.
As ações envolvem visitas domiciliares, orientação sobre o uso correto de medicamentos, estímulo à participação em grupos de escuta e reforço para que os moradores compareçam às consultas agendadas. Com presença constante e vínculo direto com a comunidade, os agentes são, muitas vezes, a porta de entrada para o cuidado e prevenção em saúde.

Por morar na própria comunidade, Maria Aparecida conta que muitos vizinhos procuram ajuda informalmente, pedem informações sobre exames ou questionam sobre retorno médico. “O vínculo natural com os moradores facilita a escuta e fortalece a confiança, permitindo que os agentes atuem como ponte entre a UBS e o território”.
Ao identificar dificuldades no tratamento, o agente leva a situação para a equipe técnica da UBS. Médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem também realizam visitas domiciliares quando necessário. Os agentes não prescrevem medicamentos, mas orientam sobre o uso correto e acompanham a adesão ao tratamento, especialmente em casos de doenças infecciosas, como tuberculose.
“Certa vez, uma mulher usuária de drogas me pediu ajuda após passar mal na rua. Após conversa, aceitou acolhimento em uma clínica e, posteriormente, retornou à UBS para agradecer”, comenta Maria, em uma das histórias como agente comunitária. Em outro caso, uma jovem gestante que evitava o pré-natal foi localizada após mudança de endereço. Por conhecer a paciente desde a adolescência, Maria estabeleceu diálogo e a levou à unidade. A criança nasceu com baixo peso, mas hoje se encontra saudável e matriculada em uma escolinha. A UBS também acionou o serviço social para acompanhar o caso.
Organização do cuidado por território
A UBS São Pedro mantém uma média de 36 agentes comunitários de saúde, número ajustado conforme a densidade populacional da região. De acordo com Cíntia Barbosa, cada UBS tem um número próprio de agentes, calculado com base no total de famílias, domicílios e moradores.
As ações são organizadas a partir de diagnósticos territoriais baseados nas chamadas linhas de cuidado: saúde materno-infantil, pacientes acamados, doenças transmissíveis e crônicas. “A equipe identifica quem precisa de atendimento mais frequente e planeja as visitas com base em critérios de risco e vulnerabilidade. Há pacientes que recebem visita semanal, outros a cada quinze dias ou mensalmente. A prioridade segue o princípio da equidade, atendendo com mais intensidade quem enfrenta mais dificuldades”, explica a coordenadora.
Além da atuação em campo, os agentes participam de formações contínuas, já que a coordenação oferece educação permanente para mantê-los atualizados em relação às diretrizes do SUS (Sistema Único de Saúde). As capacitações abordam temas como doenças transmissíveis, saúde da mulher e doenças crônicas, e, além disso, parte da equipe também passa por treinamento para realizar ações como aferição de pressão arterial, ampliando a atuação para além da escuta e do cadastramento.
“Qualquer morador pode solicitar a visita de um agente comunitário. A atuação, no entanto, também ocorre por iniciativa da própria UBS, que organiza programações semanais para monitorar famílias, mesmo sem solicitação direta”, comenta Cintia, reforçando que o trabalho não se limita ao cuidado de quem já está doente, e inclui também a prevenção como parte essencial da estratégia.
Para Maria Aparecida, o compromisso com a saúde pública é o que sustenta o dia a dia. Segundo a agente, o vínculo com a população, o conhecimento do território e a escuta qualificada fazem toda a diferença. “É preciso gostar do que faz e entender que somos muitas vezes o primeiro contato do morador com a saúde pública. Nosso papel é mostrar que o SUS funciona, que ele é um direito, e que cada pessoa tem valor”, comenta.