
Se engana quem acredita que a conjuntivite ocorre apenas no verão. Segundo o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, diretor executivo do Instituto Penido Burnier e membro do CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia), gripes e resfriados, mais frequentes no outono e inverno, funcionam como gatilhos para o aumento dos casos.
Outro fator de risco típico dessa estação é o ressecamento da lágrima, responsável por proteger a superfície ocular contra agressões externas. O problema atinge duas mulheres para cada homem.
Um levantamento dos prontuários do hospital aponta que, entre abril e maio, o número de diagnósticos de conjuntivite viral subiu de 48 para 54 — alta de 12%. Queiroz Neto explica que a conjuntivite é uma inflamação da conjuntiva, membrana transparente que recobre o globo ocular. “Durante o frio, a permanência em ambientes fechados e pouco ventilados facilita a proliferação de vírus, como o adenovírus, associado ao resfriado, e o influenza, principal causador da gripe. Essas cepas estão por trás da maioria dos casos de conjuntivite viral no inverno”, diz.
A conjuntivite viral é altamente contagiosa e uma das principais causas de afastamento do trabalho ou da escola. No inverno, a contaminação dos olhos ocorre por meio do ducto lacrimal — que liga olhos e nariz —, por gotículas de espirro ou tosse, e pelo contato das mãos com superfícies contaminadas, como teclados compartilhados, corrimãos, interruptores de luz e bancadas.
Conjuntivite alérgica também aumenta no frio
Ainda de acordo com o especialista, a redução da produção lacrimal no inverno também favorece o aumento de casos de conjuntivite alérgica, muitas vezes provocada por cosméticos, maquiagem, cílios postiços e alongamento de cílios. “Atendi recentemente uma paciente com extensão de cílios e uma conjuntivite alérgica severa”, relata. Segundo ele, a cola e os resíduos de maquiagem acumulados nas pálpebras podem ter causado o problema.
A higiene ocular, especialmente antes de dormir, é essencial. “As glândulas localizadas nas bordas das pálpebras produzem a lágrima e podem ser bloqueadas se a maquiagem não for totalmente removida”, comenta. No inverno, o uso de lentes de contato exige atenção redobrada para garantir o conforto ocular. Levar sempre um colírio lubrificante sem conservantes é uma forma eficaz de prevenir lesões na córnea.
Sintomas e tratamento
Entre os sintomas da conjuntivite viral estão olhos vermelhos, lacrimejamento, coceira, sensação de corpo estranho, queimação, fotofobia, visão embaçada e secreção viscosa que pode colar as pálpebras pela manhã. A conjuntivite alérgica apresenta sintomas semelhantes, mas sua secreção costuma ser aquosa.
O tratamento inicial, tanto para a forma viral quanto para a alérgica, inclui compressas frias com gaze e água filtrada. O uso de óculos escuros em ambientes externos também traz alívio. No entanto, na maioria dos casos, é necessário aplicar colírios anti-inflamatórios sob orientação médica. “A escolha do colírio depende do tipo de inflamação e sua suspensão precisa ser gradual”, explica o oftalmologista. Já nos casos alérgicos, o uso de colírio antialérgico é fundamental para conter a coceira — hábito que, se persistente, pode provocar astigmatismo e até evoluir para ceratocone.
Como prevenir
- Para evitar a conjuntivite, Queiroz Neto recomenda:
- Lavar as mãos após tocar objetos manuseados por outras pessoas;
- Usar álcool em gel com frequência e manter um frasco no local de trabalho;
- Evitar compartilhar produtos de beleza, toalhas, fronhas ou colírios;
- Suspender o uso de produtos que causem desconforto nos olhos;
- Lavar os olhos caso entre em contato com qualquer substância irritante;
- Higienizar pincéis e esponjas de maquiagem logo após o uso;
- Não usar água boricada nos olhos, pois pode agravar a irritação;
- Evitar exposição direta ao ar-condicionado, tanto quente quanto frio.