
Na maior parte do ABC os editais que vão escolher os artistas para espetáculos promovidos pelo poder público, estão abertos, mas artistas ouvidos pelo RD relatam diminuição da atividade cultural na região. Quem vive da cultura encontra dificuldade de acessar os editais e ficam impedidos de disputar em outras cidades pois as aberturas são restritas a moradores da mesma cidade.
Para o músico e ator Jean Buenolevar, de Mauá, há muita dificuldade de comunicação, quando se fala de editais. Ele diz que não tem como ficar acompanhando todo edital que a prefeitura publica então, as oportunidades ficam restritas. “Como não tem muita divulgação esses editais ficam restritos a grupos e poucas pessoas”, diz o artista que divide o seu dia entre apresentações e a faculdade de Pedagogia, que cursa na USP (Universidade de São Paulo).
Vivendo exclusivamente da sua arte, Buenolevar diz que gosta de se apresentar nas ruas. “A arte não traz só grana, ela traz valores que dinheiro nenhum paga, mas seria bom se a gente tivesse mais oportunidades, e se pudéssemos participar de editais em outras cidades, pois, em geral, os editais são restritos a moradores da cidade”, diz.
Tânia Dandara, ativista social e coordenadora do grupo de percussão feminino, Batuque Abayomi, de Diadema, disse que a mudança de gestão fez os projetos culturais pararem e que ainda aguarda que a prefeitura se manifeste sobre como vai conduzir a agenda cultural. “Em Diadema não tem nada aberto para os artistas da cidade, até as oficinas culturais foram reduzidas porque disseram que vão reformar os centros culturais. O que resta é a cultura promovida pelos movimentos sociais, porém somos impedidos de usar as áreas públicas. Se pudesse a gente participaria de editais em cidades vizinhas, mas geralmente eles restringem para quem é de fora”, aponta.

A coordenadora do grupo de percussão diz que um dos espaços que usava para ensaios e apresentações no Centro Cultural Casa do Hip Hop agora foi destinado a outra atividade, também conta que a cultura que ocupa os espaços públicos é paga. “Todas os espetáculos no Teatro Clara Nunes são pagos, vamos ter o espetáculo Moana, onde a meia entrada custa R$ 70. Como os pais que têm dois ou três filhos vão participar? Essa é uma cultura excludente. Ainda estamos esperamos o que vai acontecer com a cultura nos próximos quatro anos”, diz Tânia.
O dançarino, coreógrafo, músico e um dos percursores da cultura Hip Hop no país, Nelson Triunfo, começou sua carreira em Diadema, e também se entristece ao saber que as atividades da Casa do Hip Hop, uma referência nacional no segmento, está com sua atividade reduzida. “Nunca vi isso tiraram até as oficinas. Eu não moro mais na cidade, hoje vivo em São Paulo, mas tenho contato constante com o pessoal e sei que está meio parado por lá”, resume.
Editais
A prefeitura de São Bernardo abriu edital de ocupação dos espaços públicos por movimentos artísticos. As apresentações integram o Mapa Cultural e são feitas em parques, praças, entre outras áreas. No chamamento (nº 05/2025), publicado em abril, artistas, bandas, mestres de culturas populares e tradicionais, grupos ou coletivos podem se inserir, inclusive, em eventos públicos, a exemplo do recém-lançado ‘Som no Paço’. Diferentes expressões artísticas e culturais são aceitas: teatro, dança, música, artes circenses, arte de rua, cultura indígena, cultura cigana, cultura tradicional, entre outras atividades.

Podem participar da iniciativa agentes culturais com atuação ou residência em São Bernardo – pessoa física ou jurídica. Para inscrever proposta ou projeto no ‘Viva SBC’, os interessados podem acessar o site mapacultural.saobernardo.sp.gov.br/. É necessário ter idade a partir de 18 anos. A inscrição não implica em contratação e a seleção é feita de acordo com a disponibilidade de agenda dos espaços e propostas de uso das áreas indicadas.
A prefeitura de São Caetano tem editais abertos e outros para serem lançados nos próximos dias. “A Secretaria Municipal de Cultura de São Caetano tem dois editais abertos e mais três com previsão para serem publicados nos próximos dias, estes com inscrições a partir de 14 de maio”, diz no paço sancaetanense. São oportunidades para oficinas culturais no contraturno escolar, para intervenções artísticas de diversas linguagens em parques além de outros para reforma de espaços culturais. A remuneração dos artistas varia e a prefeitura diz que são de acordo com os praticados no mercado. Para a área de Cultura São Caetano previu R$ 10,5 milhões no ano passado e executou R$ 12,5 milhões, para este ano está previsto no orçamento o montante de quase R$ 11 milhões. No ano passado, segundo a prefeitura, 414 mil pessoas participaram de eventos culturais na cidade.
Em Ribeirão Pires há um edital aberto para inscrições de artistas para áreas de música, artes visuais, artes cênicas e atividades artísticas lúdicas e interativas para desenvolvimentos em palcos, espaços adaptados e circulação por solo, caricatura ao vivo, confecção de máscaras e ações similares e intervenções livres de rua, circo, trupe de palhaços e cortejos. O período de inscrições teve início em janeiro e segue até dezembro de 2025. A prefeitura diz que no ano passado promoveu 110 eventos com quase 300 mil visitantes. O edital está disponível no site: https://turismoribeiraopires.com.br/chamamentos/.

A prefeitura de Mauá informa que, no momento, não tem editais abertos para a área cultural. Mas quem quiser pode se inscrever em site o que facilita ingresso quando as oportunidades surgirem. “Para participar de editais, é necessário que o artista esteja inscrito no Mapa Cultural: mapacultural.maua.sp.gov.br, o que facilita a comunicação oficial. O orçamento da Secretaria de Cultura para 2025 é de R$12,479 milhões, acrescido de R$2,6 milhões referente à Política Nacional Aldir Blanc. No ano de 2024, foi de cerca de R$11 milhões. Projeta-se um público na área de Cultura em torno de 150 mil pessoas”, enumera o paço mauaense.
As prefeituras de Diadema, Rio Grande da Serra e Santo André não responderam até o fechamento desta reportagem.