
Moradora de Ribeirão Pires, que preferiu não ser identificada, entrou em contato com o RD para relatar problemas enfrentados no tratamento ortodôntico das filhas na clínica OdontoCompany, no Centro da cidade. Segundo a mãe, o atendimento tem enfrentado constantes atrasos e cobranças indevidas, o que tem gerado insatisfação. Conta que já gastou mais de R$ 11 mil no tratamento, que dura mais de sete anos.
De acordo com a munícipe, as filhas utilizam aparelho ortodôntico há mais de sete anos e, durante esse período, a previsão de conclusão do tratamento tem sido sucessivamente adiada. Inicialmente os especialistas da clínica informaram que o tratamento duraria no máximo três anos, porém até hoje não foi concluído.
“Eu passo lá desde 2018 com as minhas filhas. Eles me disseram que elas iriam usar o aparelho de dois a três anos no máximo, já faz sete anos. Toda vez que eu pergunto quando que vai finalizar o tratamento, eles falam que será no meio do ano. Aí chega o meio do ano e dizem que serão mais dois meses, e assim vão postergando”, conta.
A moradora relata que para finalizar o procedimento é necessário que o especialista dê alta ao paciente, porém existe uma cobrança adicional de R$ 300 imposta pela clínica para a finalização do tratamento.
A munícipe também questiona a qualidade do serviço prestado, que na sua visão não condiz com a demora para a finalização do tratamento. “Quando a gente vai lá fazer a manutenção, eles só trocam a borracha. Quando eu usava aparelho e fazia a manutenção, voltava com dor, porque o dentista apertava o aparelho, o que faz parte do processo. Agora, eles só trocam a borracha”, afirma.
Outro caso de insatisfação
Janaína Kelis é outra moradora que teve problemas com a clínica. A munícipe conta que procurou a Odonto Company em busca de tratamento. “Mas lidei com série de problemas que envolveram atrasos, erros nos procedimentos e cobranças indevidas”, relata.
Janaína fechou contrato no início de 2023 para realizar um tratamento completo, que inclui canal, cirurgia de tracionamento do canino e manutenção mensal do aparelho. No entanto, desde o início, houve dificuldades na marcação de consultas. “Me agendaram umas cinco vezes para fazer a cirurgia e, no mesmo dia, inventaram algo, como o equipamento quebrado ou o dentista doente. Por duas vezes seguidas, disseram que um dentista pegou covid e não deu tempo de avisar os pacientes”, diz.
“Após meses de espera, fui atendida por um profissional sem experiência comprovada em área de cirurgia, que aplicou anestesia e me deixou sozinha por uma hora na maca. Quando voltei, ele disse que estava tirando dúvidas com outro dentista e que não tinha preparo para fazer a cirurgia, pois estava próximo do nervo do nariz. Pediu para eu retornar na semana seguinte”, explica. Sem confiança no atendimento, ela optou por realizar o procedimento em outra clínica. “Foi onde descobri que o meu tratamento ortodôntico estava sendo feito de maneira incorreta”, afirma.
Além dos problemas clínicos, Janaína também envolveu dificuldades financeiras com a empresa. “Mesmo depois de quitar o valor total do contrato — que ultrapassou R$ 7 mil —, a clínica continua cobrando supostas faturas em aberto. Ligavam de vários números e enviavam mensagens insistindo que havia pendências, mesmo eu mandando os comprovantes de pagamento”, contou Kelis.
No caso de Janaina, a paciente conta que quebrou seu contrato com a Odonto Company, pagou uma multa de R$ 120 e posteriormente buscou outro profissional da área odontológica para lidar com seu caso. Em três meses ela já havia realizado todos os procedimentos necessários. “Em três meses em outra clinica a doutora conseguiu resolver tudo. Eu preferi não esquentar a cabeça e seguir em frente”, conta.
A reportagem do RD tentou contato com a empresa, mas até o fechamento desta matéria não obteve retorno. O espaço segue aberto para manifestação.
Direitos e medidas legais
A advogada especializada em direito da saúde, Renata Valera, orienta que a primeira medida do paciente é solicitar à Odonto Company o prontuário odontológico das filhas da reclamante. “Elas têm direito de acesso a todas as anotações, radiografias e demais registros feitos ao longo do tratamento”, explica. Com o documento em mãos, é possível procurar outro dentista para obter uma segunda opinião formal sobre a real necessidade da continuidade do tratamento.
A advogada alerta que não há um tempo exato para o tratamento ortodôntico, pois cada caso varia. Contudo é essencial analisar o prontuário e buscar uma segunda opinião de um profissional independente, a fim de tirar dúvidas.
No que diz respeito as duas pacientes, caso fique comprovado que houve negligência ou prolongamento injustificado do tratamento, a paciente pode buscar reparo de diversas formas:
- Registrar reclamação formal no Conselho Regional de Odontologia (CRO), que pode investigar possíveis falhas profissionais.
- Buscar o Procon para tentar acordo administrativo e, se necessário, solicitar reembolso ou rescisão do contrato.
- Ingressar com ação judicial e pleitear indenização por danos materiais e morais.
“O Código de Defesa do Consumidor (CDC) garante que serviços de saúde sejam prestados com qualidade e transparência. A clínica tem a obrigação de fornecer informações claras sobre o andamento do tratamento. Se isso não ocorrer, a paciente pode exigir providências”, diz.
Se a demora no tratamento resultar em prejuízos físicos, emocionais ou financeiros, afirma a advogada, a paciente pode pleitear indenização. “Se houver sofrimento psicológico, angústia excessiva ou gastos indevidos, ela pode ingressar com uma ação buscando reparação”, esclarece Valera.
O que fazer agora?
A advogada recomenda que as pacientes reúnam todas as provas, incluindo prontuários, recibos e comunicações com a clínica. “Com uma avaliação independente e documentação robusta, elas podem buscar seus direitos junto aos órgãos competentes”, completa.