O etarismo, ou preconceito com base na idade, afeta tanto jovens quanto idosos, especialmente no mercado de trabalho. A prática inclui atitudes como a exclusão de candidatos de diferentes faixas etárias em processos seletivos, a falta de oportunidades de treinamento para profissionais experientes e a propagação de comentários depreciativos.
Em entrevista ao RDtv, o médico psiquiatra Cyro Masci discute os efeitos do etarismo, e destaca que a discriminação pode levar à perda de autoestima, ao isolamento social e, em casos mais graves, à depressão. “Há um mito de que pessoas mais velhas não têm capacidade de aprender ou se adaptar, mas isso não é verdade. O cérebro humano possui neuroplasticidade, ou seja, a capacidade de criar novas conexões e aprender ao longo da vida. O que muitas vezes falta é treinamento e orientação por parte das empresas”, afirma.
Segundo o especialista, profissionais mais velhos trazem uma bagagem rica de experiência, resiliência e habilidades interpessoais (soft skills) fundamentais no mercado de trabalho. Por outro lado, os jovens possuem energia, flexibilidade e facilidade para se adaptar às novas tecnologias, mas enfrentam desafios relacionados à postura profissional.
“O preconceito com os jovens também é real. Algumas empresas os excluem por os considerarem inexperientes ou arrogantes, mas a chave está em adotar uma postura de aprendizado, mostrando disposição para evoluir”, comenta Masci.
O etarismo tem consequências graves, como isolamento social e quadros de ansiedade e depressão, especialmente entre mulheres na pós-menopausa, que, segundo o psiquiatra, frequentemente enfrentam sintomas como baixa energia e desmotivação ao procurar emprego. O médico recomenda atividades físicas, mudanças no estilo de vida (incluindo sono de qualidade com disciplina) e, em alguns casos, acompanhamento médico.
Para evitar que o preconceito etário leve ao fracasso emocional ou profissional, o especialista sugere uma mudança de mentalidade. “Em vez de focar nos aspectos negativos de situações desafiadoras, é importante buscar o aprendizado e o crescimento que surgem delas. Nosso cérebro tem uma tendência natural a se fixar no negativo, mas precisamos nos reeducar para enxergar as possibilidades”, diz.
Importância da diversidade
Uma das formas mais eficazes de combater o etarismo no ambiente corporativo é investir em diversidade. Empresas que acolhem pessoas de diferentes idades, ideias e perspectivas criam um ambiente inovador e inclusivo, que beneficia todos os colaboradores. Algumas organizações já adotam políticas para valorizar talentos de todas as gerações, mas ainda há um longo caminho a percorrer.
Masci também destaca a importância do networking para evitar o isolamento social e fortalecer a carreira. “Não se trata apenas de socializar por socializar, mas de entender quem pode agregar valor ao seu desenvolvimento profissional”. Ele ainda sugere a prática de teatro como uma ferramenta para melhorar postura, respiração e confiança, tanto para os mais jovens quanto para os mais velhos. O médico reforça que somos seres sociais e, portanto, precisamos da troca de experiências entre diferentes gerações para evolução pessoal e profissional.