A abertura da Consulta Pública nº 144 pela ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), com proposta de estabelecer o rastreamento mamográfico bienal para mulheres de 50 a 69 anos como critério para certificação do programa OncoRede, causa controvérsia entre especialistas e organizações como a Femama (Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama). Segundo as entidades, as medidas representa um retrocesso no combate ao câncer de mama no Brasil.
Em entrevista ao RDtv, o oncologista Ricardo Caponero, presidente do Conselho Científico da Femama, critica a proposta da ANS e destaca a discrepância entre a recomendação e a realidade brasileira. “No Brasil, 40% dos diagnósticos de câncer de mama ocorrem em mulheres com menos de 50 anos, e 22% das mortes acontecem nesse grupo. Adotar o rastreamento bienal, baseado em dados de outros países, ignora as especificidades locais e agrava ainda mais o cenário de mortalidade que, há 10 anos, permanece sem melhora significativa”, diz.
Segundo o INCA (Instituto Nacional do Câncer), o câncer de mama é o tipo de câncer mais frequente em mulheres, após o câncer de pele. Para o Brasil, foram estimados 73,6 mil novos casos em 2024, com risco de 66,54 casos a cada 100 mil mulheres. É relativamente raro antes dos 35 anos, mas acima desta idade a incidência cresce progressivamente, especialmente após os 50 anos.
Realidade brasileira
A proposta da ANS reflete um modelo já aplicado no SUS (Sistema Único de Saúde), onde o rastreamento bienal é oferecido a mulheres acima de 50 anos. No entanto, Caponero alerta para as consequências de expandir esse modelo para a saúde suplementar. “Essa prática até economiza em diagnósticos, mas gera gastos muito maiores com tratamentos tardios. Um diagnóstico precoce é muito mais eficaz e econômico do que lidar com casos avançados”, explica.
O oncologista reforça que a detecção precoce aumenta significativamente as chances de cura, com índices que chegam a 95% quando o câncer é diagnosticado no estágio inicial. Os planos de saúde, segundo Caponero, ainda não se posicionaram formalmente, mas acredita que o impacto financeiro da proposta pode ser contraditório.
Fatores de risco e conscientização
Entre as razões para o aumento de diagnósticos em mulheres jovens, Caponero destaca fatores como obesidade, consumo de alimentos ultraprocessados e sedentarismo. Também alerta para a importância de campanhas mais efetivas para conscientizar a população. “Apesar do movimento do Outubro Rosa, muitas mulheres ainda não realizam exames preventivos regularmente. Precisamos de campanhas que realmente levem à ação e não apenas à conscientização superficial”.
A Consulta Pública da ANS segue aberta até o dia 23 de janeiro, e a expectativa é de que os debates sigam intensos entre especialistas, entidades de saúde e operadoras de planos de saúde.