
A oxigenoterapia hiperbárica, tratamento médico eficaz para diversas condições, ainda enfrenta grandes desafios no Brasil. A começar pela falta de conhecimento dos profissionais de saúde sobre as indicações do método e a ausência de regulamentação pelo SUS (Sistema Único de Saúde), o que restringe o acesso ao serviço apenas a hospitais e clínicas particulares. No ABC, apenas dois hospitais oferecem o procedimento, o Christóvão da Gama (Santo André) e o ABC Prime, em São Caetano.
“O principal entrave que vemos hoje é a falta de familiaridade dos médicos com a oxigenoterapia hiperbárica. Muitos pacientes poderiam se beneficiar do tratamento, mas não são encaminhados porque os profissionais desconhecem as aplicações e eficácia”, explica Carlos Henrique Esteves, médico clínico e hiperbárico da Hiperbárica Zona Sul, em São Paulo.
Outro obstáculo significativo é o custo. Segundo o especialista, como o tratamento não é oferecido pelo SUS, os convênios por vezes limitam a cobertura, de modo que pacientes recorram ao atendimento particular, que varia entre R$ 400 e R$ 700 por sessão, dependendo da clínica e da gravidade da situação.
Histórico
A prática da oxigenoterapia hiperbárica iniciou no Brasil na década de 1920, quando o médico sanitarista Álvaro Osório de Almeida trouxe a técnica após se especializar em Paris, na França. No entanto, foi apenas nos anos 1980 que o tratamento ganhou força, com a implantação do primeiro serviço intrahospitalar por um grupo de médicos pioneiros, incluindo Esteves.
Desde então, a técnica foi normatizada por órgãos reguladores, como a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e o CFM (Conselho Federal de Medicina), mas ainda carece de maior disseminação entre os profissionais da saúde.
Indicações
A oxigenoterapia hiperbárica é indicada para o tratamento de queimaduras, feridas crônicas em diabéticos, infecções cirúrgicas e complicações decorrentes de radioterapia, entre outros. O método, realizado em câmaras monopacientes com oxigênio a 100%, melhora a microcirculação e acelera a cicatrização.
A demanda por esse tipo de terapia varia ao longo do ano. Segundo o médico, no inverno e outono, há aumento significativo de pacientes com lesões crônicas, como úlceras vasculares e feridas diabéticas, devido ao agravamento da circulação periférica. Já em junho, durante as festas juninas, os casos de queimaduras em mãos e braços por fogueiras e rojões também aumentam.
Desafios
Para Esteves, existe uma importância que envolve os pacientes buscarem clínicas com equipes qualificadas. “Nos últimos anos, observamos um crescimento no número de serviços oferecidos, mas nem todos têm médicos habilitados ou seguem rigorosamente as normas técnicas e éticas. É fundamental que o tratamento seja supervisionado por especialistas para garantir a segurança do paciente”, diz.
A longo prazo, o desafio é ampliar o conhecimento sobre a técnica entre os médicos e viabilizar sua oferta no SUS. “Apesar dos avanços desde a normatização nos anos 1990, ainda há muito a fazer. Nossa luta é para que mais profissionais conheçam as possibilidades do tratamento e, principalmente, para que ele se torne acessível a todos os brasileiros”, comenta o especialista.