O ABC conta com mais de 56 mil pessoas não alfabetizadas, um índice alarmante que reforça a importância da Educação de Jovens e Adultos (EJA) como ferramenta de inclusão. Essa realidade é abordada pela pesquisadora e educadora Izaura Naomi Yoshioka Martins, que lança sábado (11/01) o livro Avaliação Emancipatória na Educação de Jovens e Adultos: um caminho a ser construído da exclusão à emancipação, pela Editora Appris. A obra será apresentada no Centro de Formação Miguel Arraes, em Mauá, e busca fortalecer o debate sobre o papel transformador da educação.
Em entrevista ao RDtv, Izaura destaca o cenário alarmante da EJA no Brasil. Segundo dados do Censo, cerca de 68 milhões de brasileiros não concluíram a educação básica e o analfabetismo ainda atinge aproximadamente 11 milhões de pessoas. Na região, o panorama também preocupa. “2,08% da população ainda não é alfabetizada, o que representa cerca de 56 mil pessoas”, diz. Apesar da demanda, as vagas para a EJA têm diminuído, um ponto crítico para educadores e gestores.
Segundo Izaura, o baixo nível de escolaridade tem impactos diretos no desenvolvimento econômico e social das cidades. “Muitas vezes, existe um estigma de que essas pessoas foram preguiçosas ou não quiseram estudar, mas na verdade fatores econômicos e sociais as impediram de continuar os estudos; para muitos, aprender a ler e escrever é como tirar uma venda dos olhos”, afirma.

Escolaridade x emprego
A relação entre escolaridade e oportunidades de emprego também foi tema da conversa. “Quando analisamos os sites de empregos dos municípios, percebemos que a maioria das vagas com melhores salários exige pelo menos o ensino fundamental completo”, comenta.
De acordo com a docente, para quem não possui essa formação, as opções são limitadas e, em geral, com salários abaixo de R$ 2 mil. “Isso não só restringe a autonomia financeira dessas pessoas, mas também reduz sua participação social e política na comunidade”, afirma.
A professora destaca ainda o perfil predominante dos alunos da EJA. A maioria é composta por pessoas pretas e pardas, de baixa renda, muitas vezes em situação de vulnerabilidade social. Enquanto no passado o público era majoritariamente formado por migrantes nordestinos, hoje há um número crescente de jovens paulistas que buscam a EJA. Essa mudança, segundo Izaura, exige uma análise sobre as falhas no ensino regular que levam tantos jovens a abandonar os estudos.
Diante do cenário, Izaura reforça a importância da EJA para o desenvolvimento regional. “A EJA precisa ser vista como parte essencial do crescimento da região, porque oferece oportunidades não apenas no âmbito profissional, mas também nos aspectos cultural, social e pessoal”. Ela concluiu com uma mensagem enfática: “A educação é um direito que precisa alcançar a todos”, completa.