ABC - domingo , 9 de fevereiro de 2025

Nata verde sobre a Billings reflete novo episódio de poluição por esgoto

Moradores flagraram água com coloração verde bem intensa na represa, na altura do Jardim das Orquídeas. (Foto: Reprodução)

Em mais um episódio de coloração nas águas da Billings neste ano, moradores do Jardim das Orquídeas, em São Bernardo, foram surpreendidos esta semana por um verde bem definido, na represa, o que foi publicado em redes sociais e alguns sugeriram até que tinta fora jogada no reservatório. A ambientalista, bióloga e coordenadora do IPH-USCS (Índice de Poluentes Hídricos da Universidade Municipal de São Caetano do Sul), Marta Marcondes, explica que essa coloração é resultado de um processo de eutrofização, que é a proliferação de microalgas, por conta da presença se esgoto sem tratamento.

“Essa situação já vista muitas vezes em outros pontos da represa chama atenção no Jardim das Orquídeas porque demonstra que ali pode estar sendo despejada grande quantidade de esgoto sem tratamento e toda essa matéria orgânica causa o aumento destas microalgas”, analisa a bióloga.

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O nível mais baixo das águas, apesar das chuvas do último mês, pode ter contribuído também para a maior intensidade deste fenômeno. “Temos mais chuvas, mas ainda assim elas não são suficientes para diluir todo o esgoto. Esse tipo de situação não é para ser comum e precisa ser analisado de onde vem toda essa matéria orgânica, ainda mais nesta região onde costumamos ter uma melhor qualidade da água”, analisa.

A pesquisadora do IPH-USCS explica que a eutrofização acontece quando o processo de decomposição de matéria orgânica na água é acelerado por despejo de resíduos da agricultura ou de esgoto sem tratamento. “Com o calor que está fazendo o oxigênio diminui e favorece a proliferação dos micro-organismos que não dependem de oxigênio para viver, ou seja, só ficam vivos bactérias micro-organismos e esses produzem toxinas que matam peixes, que fazem mal para a nossa pele se houver contato”.

O ano de 2024 foi de várias notícias de problemas relacionados à poluição na Billings, reservatório que abastece 1,8 milhão de habitantes nas cidades de Diadema, São Bernardo e parte de Santo André. Em agosto, no Rio Grande, curso de água que deságua no Braço do Rio Grande onde a água é captada pela Sabesp para abastecimento, uma enorme quantidade de peixes mortos surgiu boiando em uma área que pertence ao município de Rio Grande da Serra. O IPH-USCS concluiu que resíduo químico com grande concentração de metais pesados foi a causa da morte dos peixes. No início do ano outro episódio de mortandade de peixes foi registrado na represa e em setembro o RD noticiou também coloração avermelhada, também na região do Rio Grande.

“Eu avalio que 2024 não foi um ano bom para a represa e o que mais preocupa é que nesta época a Billings era para estar muito cheia e não está, o que mostra que choveu muito pouco e também não houve nenhum investimento na preservação dos mananciais. Eu penso que os novos governandes devem, como lição de casa, repensar como é que vão lidar com os mananciais, porque não adianta só pensar em centro logístico se a gente não tiver água”, completa a ambientalista e professora da USCS.

Procurada a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) explicou a composição do material que causa a nata verde, dando como exemplo a Região do Bororé, na zona Sul da Capital, bem longe do Jardim das Orquídeas onde ocorreu o fenônemo. A companhia também não disse quais providências serão tomadas. “Na região do Bororé, constatou-se na última amostragem, em 04/12/24, que o gênero Microcystis, um tipo de cianobactérias de água doce, foi o principal responsável pelos eventos de florações, formando densas natas verdes. As cianobactérias são organismos microscópicos, parecidos com microalgas, e as florações são caracterizadas por elevada densidade desses organismos, podendo provocar alteração da coloração, consistência e odor da água”, diz a nota da Cetesb.

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