Na última sexta-feira (08/11), durante celebrações da primeira semana de Kizomba, uma atividade em particular chamou atenção de quem passava pela Biblioteca Municipal de Diadema: acontecia ali um curso gratuito de pintura de Mandalas Africanas, um elemento milenar cujo significado se traduz em estar de bem com a vida e com o que nos rodeia.
Francislene Maria Periquito, 46, do Inamar, foi a idealizadora do curso. “A ideia foi não só resgatar essa arte ancestral africana, mas incorporar a elas imagens das mulheres pretas mais empoderadas da história do Brasil,” explicou. “Na tradição Iorubá, essa arte de transferir ideias a superfícies circulares serve como homenagem e como amuleto de sorte, são verdadeiras imagens de proteção. Aqui, escolhemos que estas mulheres nos protejam”.
As mandalas foram pintadas sobre representações de Conceição Evaristo, Teresa de Benguela, Dona Ivone Lara, Marielle Franco, Carolina Maria de Jesus, Dandara dos Palmares, Tia Ciata, uma mãe de santo que foi figura importantíssima para o surgimento do samba. Foram ensinadas técnicas e cores da pintura tradicional africana e, ao final, as participantes puderam assinar suas obras e levá-las consigo.
Denise Thiago dos Reis, 55, escolheu pintar a mandala de Carolina de Jesus. “Ela foi uma mulher além do tempo, batalhadora e que lançou luz sobre questões como o racismo e a miséria de um ponto de vista inédito até então, que é o da moradora de favela, mãe solo, buscando seu sustento do lixo. E, ainda assim, ela se educou e educou seus filhos. Esse resgate é muito importante porque o negro geralmente é invisível. E ela conseguiu se fazer ser vista. Esse é o legado. Eu estou aqui apenas dando um pouco em troca.”
Para Francislene, a história foi sempre muito rápida em celebrar os brancos, mas muito pouco fez pelas mulheres, ainda mais as pretas. “A mensagem é que nós podemos também ser guerreiras, como essas mulheres pretas foram. Lutar, vencer e receber homenagens como os grandes nomes do nosso país,” arrematou.