Levantamento feito pelo Repórter Diário aponta que pelo menos 15 vereadores eleitos ou reeleitos no último dia 6 de outubro para a próxima legislatura nas Câmaras do ABC estão ligados diretamente ou têm atuação muito próxima ao segmento religioso. Há que se destacar, porém, que nem sempre o trabalho desenvolvido nas mais variadas denominações significa a garantia dos votos necessários para ocupar uma das 150 cadeiras que vão compor os Legislativos das setes cidades a partir de 1º de janeiro.
Como exemplo, pode-se destacar dois nomes que pertencem a uma das mais influentes igrejas neopentecostais, a Universal, no mundo político do País: os pastores João Gomes, de Diadema, que buscava o quarto mandato consecutivo, e Valdeci Santos, de Mauá, que tentava o segundo. O RD procurou os dois e outros dos eleitos, mas não obteve retorno até o fechamento desta reportagem.
Ainda que os dois tenham ficado pelo caminho na disputa que os levaria a novos mandatos, o mapeamento do RD mostra que o segmento evangélico liderou o ranking de eleitos para a próxima legislatura, com nove dos 15 nomes listados pelo jornal. A figura de maior destaque certamente é o bispo da Universal, João Batista (Republicanos), eleito para cumprir seu quarto mandato na Câmara de São Bernardo com 4.254 votos.
João Batista é o 12º entre os 28 que garantiram uma cadeira no maior Legislativo do ABC. Outros dois eleitos que sabidamente têm forte ligação com a igreja, mas a Católica, são os reeleitos Julinho Fuzari (Cidadania) e Jorge Araújo (União Brasil).
Lacuna deixada pelo Estado
Cientista político, mestrando em ciências sociais e membro do grupo de estudos sobre Segurança, Violência e Justiça da Universidade Federal do ABC (UFABC), Carlos Augusto Pereira de Almeida não vê com bons olhos o envolvimento de neopentecostais com a política. Mas avalia que a ligação entre segmentos religiosos e políticos ainda é muito forte na região, sobretudo com integrantes de partidos de centro-direita e direita, e que a ascensão da igreja, principalmente as pentecostais, está relacionada ao fato de que ocuparam espaços nas comunidades com ações e atividades sociais que o Estado não ocupou.
Almeida conta que percebeu nos últimos resultados que há uma tendência de partidos mais conservadores, de centro-direita e principalmente direita, de terem conquistado mais cadeiras do que a oposição, que é a esquerda. “A gente não vê muito esse movimento de ligação de igrejas com partidos com o pessoal mais de esquerda, mas sim com os da direita. Essa é uma tendência que já vem de muitos anos, dessa ascensão do neopentecostalismo, e essa incorporação do neopentecostal das igrejas evangélicas com o meio político”, comenta.
Com relação à não-reeleição de nomes que têm posição de destaque no segmento religioso ao qual pertencem, como os casos dos pastores da Universal de Mauá e Diadema, o cientista político avalia que se deve levar em conta o surgimento de novas igrejas pentecostais, com atuação mais destacada nas comunidades. Esse movimento, considera, permite o aparecimento de novas lideranças e, consequentemente, o aumento na disputa por espaços nos quais se inclui a representatividade política.
O professor lembra que nos anos 1990, e até meados de 2010, essas igrejas eram poucas, mas com um rebanho muito grande de fiéis. Hoje, tem uma porção de igrejas, e cada vez mais surgem novas. “Então, teoricamente, o que nós temos é a percepção de que aumenta o número de lideranças nessas pequenas comunidades evangélicas, e há maior competitividade entre elas. Então, tínhamos alguém da Universal que tinha um rebanho muito grande de fiéis dentro da igreja, mas aí a Universal foi perdendo força para outras pequenas igrejas mais próximas da comunidade. Assim ele acaba perdendo fiéis para outros líderes que vão surgindo, o que impacta também nas trocas nos Legislativos. É a disputa pelo fiel, e aquele que tiver mais fiel, provavelmente vai ter mais poder e mais chance de galgar espaços públicos de relevância”, raciocina.
Segundo Almeida, esse movimento não implica na diminuição de candidatos ou na redução do quadro de eleitos ligados ao segmento religioso, que na maioria das vezes integra partidos de centro-direita ou direita mais conservadora, com visão mais ligada aos costumes religiosos, dos mandamentos evangélicos.
“E não é bom para a política, para o discurso, misturar religião com política, tendo em vista que a religião tem um papel social muito importante, mas as pautas discutidas em uma Prefeitura devem levar em consideração os problemas, as questões para serem resolvidas dentro do município. E aí a visão mais centralizada na questão conservadora, desses grupos evangélicos, acaba dificultando muito a discussão política”, pontua.
Lista religiosos eleitos nas Câmaras
Santo André – Carlos Ferreira (evangélico) e Pedrinho Botaro (católico).
São Bernardo – Bispo João Batista (Republicanos-Universal) e Jorge Araujo (União-católico).
São Caetano – Edson Parra (evangélico) e Cicinho (evangélico).
Diadema – Orlando Vitoriano (católico), Josa (matriz africana), Eduardo Minas (evangélico) e
Gel Antônio (católico)
Ribeirão Pires – Pastor Sandro Campos (evangélico), Anderson Benevides (evangélico) e Edmar Aerocar (católico).
Rio Grande da Serra – Marcos Costa – Tico Vereador (evangélico), Fubá (católico).