A Universidade Federal do ABC (UFABC) lança no próximo dia 7 de outubro, no campus São Bernardo, o Centro de Estudos da Favela (Cefavela), um órgão que realizará levantamento sobre os dados e aspectos sociais, econômicos e urbanísticos das favelas brasileiras. Ao RDtv, o professor Jeroen Johannes Klink, que dirige este Centro e coordena o Laboratório de Estudos e Projetos Urbanos e Regionais (LEPUR), apontou a necessidade de um aprofundamento sobre as mudanças destes locais e os avanços necessários para uma melhor qualidade de vida destes moradores.
A proposta conta com apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), dentro do âmbito do Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão do Conhecimento. O estudo, inclusive, já foi iniciado na favela de Heliópolis, em São Paulo, que conta com cerca de 200 mil moradores.
O principal motivo para a pesquisa é que, apesar de todo o avanço na política nacional de urbanização de favelas, velhos problemas persistem, e também os problemas aumentam. “O crescimento das favelas, por exemplo, de 2010 para 2022, no Brasil, a população favelada cresceu 40%. Para vocês terem uma ideia, de mais ou menos 11,5 milhões de pessoas para 16 milhões de pessoas. Velhos problemas persistam, novos problemas surgem. Então, o principal ponto de partida da criação do Centro é, primeiro, entender, gerar conhecimento sobre o fenômeno da favela, dimensionar, qualificar o crescimento das favelas, espacializar”, inicia o professor.
Segundo ponto, diz Klink, é entender a dinâmica imobiliária emergencial de novos agentes como narcotráficos, milícias nesses espaços e também aquilo que foi questionado, dar subsídios concretos para a elaboração de políticas públicas de urbanização de assentamentos precários e favelas. “Portanto, subsidiar o aperfeiçoamento das políticas que já foram implementadas. Isso, inclusive, numa perspectiva internacional, comparando com outras cidades brasileiras, mas também situando a experiência trajetória como urbanização de favelas no Brasil numa perspectiva latino-americana e também internacional, comparando com experiências principalmente na Índia, África do Sul”, diz o pesquisador.
Para Klink, a proposta é ambiciosa, pois articula a geração de conhecimento, a criação de novos conhecimentos sobre o fenômeno das favelas, mas também estabelecer parâmetros que podem ser usadas pelo poder público para a melhoria destes locais, principalmente aqueles que ainda contam com falta de infraestrutura, por exemplo. Outro ponto é levar este conhecimento para a população em geral, inclusive explicando essa realidade em escolas de Ensino Médio, e também na imprensa.
O Cefavela conta com algumas dimensões. A primeira voltada para políticas públicas, a segunda que busca entender as dinâmicas territoriais, ou seja, a dinâmica do mercado imobiliário informal, suas infraestruturas, os novos agentes.
“As favelas são muito diferentes, as favelas do sudeste, as favelas do nordeste têm características, inclusive centro oeste e norte, são muito diferentes. Então, uma dimensão chave desse projeto, desse Centro, vai ser exatamente criar novos métodos, metodologias, análises estatísticas de georreferenciamento para exatamente dimensionar, qualificar as múltiplas dimensões de precariedade habitacional”, conclui Klink.