Peixes mortos foram encontrados amontoados na Represa Billings no dia 8 de setembro, em uma área que faz divisa com cidades do ABC e da zona leste de São Paulo. Parte do Sistema Rio Grande, responsável por fornecer água a cerca de 4 milhões de pessoas, a represa enfrenta uma crise ambiental, com órgãos competentes que apontam a ação humana e a baixa oxigenação como principais causas da mortandade.
Desde 9 de setembro, equipes de diversas entidades têm coletado amostras da represa para análise, concentrando-se na região entre o Parque Estoril, em São Bernardo, e o Parque Estadual Águas da Billings. Marta Marcondes, bióloga e coordenadora do IPH (Índice de Poluentes Hídricos) da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), é uma das pesquisadoras envolvidas no caso e comenta ao RDtv sobre a situação do rio e as consequências dessa morte em massa para o ecossistema local.
A partir da primeira amostra coletada na região, Marta observa um índice de oxigênio abaixo do padrão, que já indica uma das causas da mortandade dos peixes. Segundo a legislação, o ideal é que o rio tenha um nível de oxigênio superior a 5 mg/L. Anteriormente, o Sistema Rio Grande apresentava 8 mg/L, mas atualmente caiu para apenas 2 mg/L, o que compromete a sobrevivência da fauna aquática.
Outro teste realizado se trata da parte química, que consiste na análise de componentes químicos presentes na água como nitrito, nitrato e amônia.
“Quando analisamos esse fator estava tudo em desconformidade com a lei, portanto, logo definimos a possibilidade que algo aconteceu para que água fosse modificada”, diz Marta. Além disso, está em análise fungos emergentes na região que antes não estavam presentes, bem como o fundo no rio que conta com resquício da substância que contaminou os peixes.
Possíveis causas
Em parceria com a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) e a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), Marta e sua equipe da USCS realizaram as análises e iniciaram a pesquisa para identificar as possíveis causas. A primeira cogitação recapitula o caso em Rio Grande da Serra, em agosto, na qual peixes foram encontrados mortos na região do Rio Grande, que faz divisa com a cidade. Na ocasião, especialistas já especulavam que o suposto material que ocasionou a morte se dirigisse a região do Rio Grande em São Bernardo.
No dia 13 de setembro, Marta foi de barco com sua equipe na região e identificou outro possível fator: poluição atmosférica. Por ser uma região próxima ao Rodoanel Mário Covas, suspeita que pelo tráfego constante de carros e caminhões, a poluição gerada chegou ao rio e impregnou a água.
“Não descartamos que haja a interferência humana nisso. Duas das ocasiões possíveis envolvem o não tratamento de esgoto doméstico e o despejo irregular de resíduos por parte de companhias”, explica Marta. Independente da maneira que o rio se encontra, a bióloga afirma que os processos de tratamento da água são suficientes para reter os poluentes, exceto metais pesados. Deste modo, recomenda que visitantes do Parque Estoril e região não entrem em contato com o rio para evitar possíveis doenças.
Ecossistema
Segundo levantamento realizado pelos órgãos responsáveis pela investigação, foram identificados cerca de 2 toneladas de peixes mortos. Destes, todos da mesma espécie, com no máximo 15 cm de comprimento.
A mortandade desses animais interfere em uma cadeia alimentar que envolve os outros do local, sejam eles aquáticos ou voadores. Para Marta, o caso no Rio Grande cria um deficiência alimentar em seres dentro da água, além de animais voadores que deslizam pelas águas para capturar a sua caça. Os únicos beneficiados com a situação foram as garças, gaviões e urubus, que se alimentam tanto de animais vivos quanto mortos.
Próximos passos
As análises feitas no Rio Grande são realizadas a cada uma semana, sendo as próximas visitas marcadas para sexta-feira (20/9) e sábado (21). Com o retorno, serão coletadas novas amostras do rio para posterior diagnóstico.
Até que a causa não seja identificada, a bióloga aponta passos a serem seguidos para evitar a piora da região, como evitar desmatamento, manter uma análise constante da qualidade da água, e que, caso identifique que a mortandade ocorreu por conta de alguma pessoa ou empresa que despejou indevidamente algum material químico, que seja responsabilizado para evitar novos casos.