ABC - sábado , 12 de outubro de 2024

Obra da ISA CTEEP causa danos em residência e deixa família desamparada em S.André

Família afirma não ter recebido o apoio necessário por parte da empresa (Foto: Reprodução)

Uma família de Santo André enfrenta um drama há meses que a deixou desamparada física e psicologicamente. O problema começou com uma obra da ISA CTEEP, concessionária de transmissão de energia, que causou graves danos estruturais à residência. Apesar das preocupações expressas pelos moradores, a obra prosseguiu e culminou na interdição do imóvel, que agora representa um risco para a vida dos ocupantes.

Graziele Paiva, advogada e moradora da casa, conta que tudo começou em novembro do ano passado, com obra em um terreno em frente à sua casa que, já no primeiro dia, resultou na queda de um muro no escadão. Preocupada com a proximidade da obra, Graziele diz que contatou a ISA CTEEP e esta assegurou que a construção não afetaria a residência e que a escavação seria movida para o meio do terreno.

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No entanto, uma tubulação de água rompeu, encharcou o solo e causou mais danos. Mesmo com a gravidade do problema, a Defesa Civil, acionada pelo casal, inicialmente não interditou o imóvel e permitiu que a família continuasse na residência.

Em maio deste ano, a empresa iniciou novas operações no terreno ao lado da casa de Graziele. Um mês depois, a família já enfrentava a interdição do imóvel. “Pedi que nos realocassem, pois a casa começou a se deteriorar e as rachaduras, que eram pequenas, cresceram. Não tínhamos condições de arcar com os custos financeiros”, explica. Apesar do pedido, a Defesa Civil informou que a situação ainda não era considerada grave o suficiente para uma mudança imediata.

Pedido de cobertura de aluguel

Preocupados com a segurança dos três filhos pequenos, Graziele e o marido, Pedro, solicitaram à empresa a cobertura de um aluguel para a família até que a obra fosse concluída e a casa pudesse ser reavaliada. No entanto, sem resposta da empresa e com a rápida deterioração do imóvel, o casal foi forçado a arcar com os custos do aluguel de uma nova residência.

Nos registros é possível ver as rachaduras nas paredes da residência (Foto: Divulgação)

Após semanas de deterioração, a Defesa Civil interditou o imóvel. Graziele, no entanto, criticou a realocação oferecida pela ISA CTEEP, que, na sua opinião, foi demorada e mal planejada.

A empresa disponibilizou um voucher para um hotel em São Bernardo, sem cobrir despesas com alimentação e transporte. “Questionei sobre a alimentação, pois não tínhamos condições e não tinha uma cozinha, e disseram que não pagariam nada além do hotel”, comenta.

Ainda de acordo com a moradora, a família ficou realocada por uma semana, com uma mala, até que conseguissem locação definitiva. Além disso, o cachorro da família, de grande porte, teve de permanecer na casa interditada, pois o hotel não aceitava animais.

Durante o período no hotel, a obra continuou e a casa foi cada vez mais afetada. Como a garagem era o único local interditado, o casal pediu que os trabalhadores retirassem a madeira do portão para que pudessem pegar seus pertences. “Eles retiraram o bloqueio, mas como continuavam com a escavadeira ao lado e a casa balançava, o engenheiro disse: ‘Saiam agora, vocês não vão conseguir tirar suas coisas'”, explicou Graziele. Indignada, ela pediu aos trabalhadores que parassem para que pudessem retirar seus itens: “Eles pararam a máquina e começamos a tirar as coisas, mas nada estava embalado, pois não tivemos tempo antes da interdição, então jogaram tudo na rua”, desabafou.

Imagens das câmeras de segurança mostram os móveis da família na via, em frente a casa (Foto: Reprodução)

Cobrança de energia elétrica

O casal está inconformado com a falta de apoio recebido. Graziele e Pedro afirmam que não tiveram contato com a empresa nem com relação às intervenções judiciais que iniciaram. Outra situação que os deixou indignados foi a cobrança contínua da conta de luz, mesmo após o relógio e o cavalete terem sido danificados pela inclinação da casa.

Graziele, que morava na casa há 14 anos, onde se casou e criou os três filhos, viu-se sem um lar da noite para o dia. Conta que o impacto psicológico e físico foi devastador, e ela e o marido chegaram a adoecer devido ao estresse contínuo. Além disso, os móveis planejados da cozinha e do quarto, que não puderam ser retirados antes da interdição, foram perdidos.

Empresa diz que é caso isolado

Questionada sobre a situação da família, a ISA CTEEP informou, por meio de nota, que a obra em questão faz parte do empreendimento Interligação Elétrica Riacho Grande, destinado a ampliar o fornecimento de energia elétrica para a região. A empresa explica que os trabalhos estão sendo executados por uma empreiteira contratada e que, devido às condições do solo e às características do imóvel, houve impacto apenas nessa residência, onde as atividades já foram concluídas, sem risco aos imóveis vizinhos. A ISA CTEEP ressaltou que se trata de um caso isolado e que as medidas cabíveis estão sendo tomadas.

Em resposta às declarações da ISA CTEEP, Graziele expressou preocupação com as ações da empresa. “Até agora, tudo o que eles fazem na fase processual é para nos prejudicar”, diz. “Eles não só se manifestaram na ação principal dizendo que não é responsabilidade deles e tentaram transferir a responsabilidade para outra empresa contratada, como também recorreram da decisão liminar sobre o aluguel para se isentar da responsabilidade”, desabafa.

Graziele destaca que a empresa solicitou que o julgamento não fosse virtual e insistiu em fazer uma sustentação oral, o que, segundo ela, demonstra o uso de “todas as armas jurídicas possíveis contra a família”.

Responsabilidade civil

Marcelo Marques, membro da Comissão de Direito Tributário da OAB de Santo André, esclarece a situação ao RD: “Essa questão envolve a responsabilidade civil da empresa. Se ficar comprovado que a obra causou os danos ao imóvel, a ISA CTEEP tem o dever de indenizar os moradores na proporção dos prejuízos”, comenta.

Sobre a liminar que obriga a empresa a cobrir o aluguel da nova residência do casal, Marcelo explica que o casal tem duas opções: buscar a reparação diretamente com a empresa ou recorrer ao judiciário. “Se a liminar já foi concedida, a ISA CTEEP é obrigada a cumprir a decisão judicial. Caso contrário, a empresa pode enfrentar penalidades, como multas ou até a penhora de suas contas, para garantir que a decisão seja cumprida,” destaca Marques.

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