
Nesta segunda-feira (19/08) a Casa Neon Cunha, de apoio à população LGBTQIA+ em situação de vulnerabilidade passou a funcionar 24 horas por dia, inclusive com abrigo para quem não tem moradia. A capacidade para abrigo é de 16 pessoas. A casa foi aberta em 2018 e a proposta sempre foi a de garantir todo o atendimento social necessário, porém só os recursos da iniciativa privada não eram suficientes. Esse novo passo só foi possível com a conquista de importantes emendas parlamentares.
Dos oito projetos apresentados em busca de recursos públicos, cinco foram aprovados, totalizando o investimento de 2,19 milhões, sendo o primeiro investimento público recebido pela organização, que já assinou projetos com a Organização Internacional do Trabalho, Organização das Nações Unidas, além de marcas como a Alicerce, Ambev, Instituto Renner e MBOOM.
“A gente sempre imaginou realizar esse sonho, da pessoa ter ode ficar, ter um acolhimento e promover a humanidade”, disse Paulo Araújo, gestor da Casa Neon Cunha ao falar do momento importante para a história da casa, única na região. Além das 16 vagas para pernoite, a casa oferece cerca de 60 atendimentos diários com alimentação, assistência psicossocial e de programas educacionais. A baixa das doações chegou a fazer a casa fechar as portas em fevereiro.
Os deputados e deputadas responsáveis pelo investimento por meio das emendas parlamentares são os federais Erika Hilton (PSOL), Sâmia Bomfim (PSOL) e Alfredinho (PT) e a deputada estadual Ediane Maria (PSOL). O maior investimento foi direcionado pela Deputada Federal Erika Hilton no valor de R$ 1,4 milhão. Ela visitou a casa em junho de 2023, recebeu projeto encaminhado pela direção da Casa e o projeto foi aprovado. “Essa nossa conquista vem para mostrar porque os gestores públicos também não fazem isso. Outras cidades já têm uma coordenadoria LGBT, São Bernardo ainda não tem. Temos capacidade técnica, reconhecida nacionalmente, então a prefeitura que quiser pode nos procurar para uma parceria”, diz Araújo.
O gestor da casa disse ainda que o trabalho de aproximação com a iniciativa privada e com os parlamentares vai continuar. “Tivemos emendas de deputados do PT e do PSol, mas queremos receber todos aqui, mostrar o trabalho. A pauta LGBT não é da esquerda ou da direita é da população”, completa.

O assessor do Conselho LGBT da Prefeitura de Santo André, e fundador da ONG ABCDS (Ação Brotar pela Cidadania e Diversidade Sexual), Marcelo Gil, disse que é importante o trabalho da Casa Neon Cunha crescer para servir de exemplo para outras entidades e administrações públicas. “Importante que possam fazer com que aconteça política pública em São Bernardo. Eles podem ter emendas parlamentares, que é um projeto muito importante para população LGBT de alta vulnerabilidade, só que é por um tempo determinado, é importante saber que eles vão ter que cobrar o governo local, fazer políticas públicas como as demais cidades estão fazendo, como tem o ambulatório de saúde Trans, que já está saindo em Mauá, como tem em Santo André e Diadema. Agora é a oportunidade da Casa Neon Cunha fazer a política na cidade, que possam cobrar política pública do município. Estamos em um momento muito sério, que é o período eleitoral e agora eles têm que se colocar presentes”, destaca.
Para a advogada Juliana Alves de Oliveira, militante de direitos humanos e antidiscriminatórios, e presidente da Comissão de Diversidade Sexual e de Gênero da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) subseção de São Bernardo, essa nova fase da Casa Neon Cunha representa o cuidado integral que a população LGBT tanto precisa. “A importância da Casa Neon é que ela vem para ser não só um albergue, não só um abrigo, mas sim um espaço comum, uma casa para todas essas pessoas. Pensando na vulnerabilidade em que essas pessoas estão submetidas, em situação de rua, em situação de violência, em uso de substâncias, isso tudo decorre da falta de oportunidade embasada no preconceito, então uma casa como essa é de extrema importância para a comunidade principalmente para as meninas trans e para as travestis que estão em situação de rua. Tenho certeza que será , mais que um local, será um lar para essas pessoas. É imprescindível ela funcionar 24 horas porque não tem como se promover uma segurança parcial. Como que a pessoa toma um banho e se alimenta e depois tem que voltar para as ruas no frio? O resguardo e bem estar tem que ser pleno, por inteiro”, disse a advogada.