A pandemia da covid-19 trouxe consigo novas maneiras na forma de ensinar e aprender, do ensino fundamental ao superior. Em levantamento do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), no ABC houve uma mudança significativa na qualidade do ensino fundamental ao médio desde 2019, potencializado principalmente pelas diferentes condições socioeconômicas entre as sete cidades da região, que oferecem possibilidades de uma melhor educação para alguns e condições precárias para outros.
Realizado a cada dois anos pelo INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), o IDEB é usado para identificar os municípios com maior desenvolvimento educacional e os mais atrasados. O coordenador do Observatório de Educação da USCS (Universidade de São Caetano), Paulo Sérgio Garcia, comenta ao RDtv que o ABC mantém tradicionalmente as mesmas posições. Municípios como São Caetano, São Bernardo e Santo André ocupam o topo da tabela quando se trata de desenvolvimento nas escolas há cerca de 10 anos, mesmo com a pandemia.
Segundo o levantamento, de 2019 para 2023, no ensino fundamental I (primeira à quinta séries), todas as cidades tiveram perdas na nota do IDEB, puxadas por Mauá que encolheu 0,6 ponto. No ensino fundamental II (sexto ao nono ano), Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra tiveram melhora discreta em suas notas, de 5,4 para 5,5 e de 5,0 para 5,1, respectivamente.
No ranking do ensino médio, Diadema, Mauá e São Bernardo também tiveram melhora sutil em relação a 2019, mesmo que no comparativo com 2021 houve queda de índices. “Vale considerar que o IDEB representa uma parcela da qualidade do ensino, pois não capta toda condição educacional de uma escola, que além de ter matérias fora Língua Portuguesa e Matemática possuem projetos internos que favorecem o aprendizado do aluno”, comenta Garcia.
Entre os fatores que contribuíram com a queda dos índices, as condições socioeconômicas chamam atenção do professor por simbolizar discrepância que acontece na região, a qual consegue oferecer em um só município, escolas estruturadas e qualificadas, e instituições de ensino que carentes desses mesmo fatores.
“Essa questão pode ser caracterizada como discriminação social, pois há estudos que mostram como condições de renda e a formação e ocupação dos pais dos alunos influenciam diretamente no seu desempenho escolar”. Uma dessas pesquisas, realizada pelo próprio Observatório da USCS, revela que candidatos que obtiveram maior nota no ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) na prova de ciências naturais, entre 2009 a 2018, possuíam famílias com boa condição financeira e formação acadêmica. Garcia reforça que não significa que tenha uma relação de causa e efeito, mas que são razões consideradas em pesquisas futuras, como o IDEB.
O pesquisador comenta, ainda, que o poder público não deve focar o investimento somente no ambiente escolar, mas em outras esferas que complementam a qualidade de vida do aluno, que consequentemente favorece no seu aprendizado. “Com a verba pública destinada à educação, devemos pensar em qualificar gestores educacionais e professores, bem como investir em melhores estruturas na região onde as escolas estão situadas. Espero que os gestores e as secretarias de cada cidade busquem estratégias para contornar esses dados e possam oferecer uma educação mais sólida e construtiva para os jovens do ABC”, completa.
Veja o resultado da apuração do IDEB para o ABC: