Desde domingo (03/08) moradores de Diadema estão reclamando de cheiro e gosto diferente na água da torneira, alguns falam em cheiro de cloro, outros falam que tem gosto de barro e vários disseram que passaram mal com diarreia e dores abdominais, após beberem. Coincidência ou não, há uma semana surgiram peixes mortos no Rio Grande, principal afluente do Braço Rio Grande, que é o trecho da Represa Billings onde a água que abastece Diadema, Santo André e São Bernardo é captada pela Sabesp. Tanto para o episódio da mortandade de peixes, como agora para a situação da reclamação dos moradores de Diadema, a companhia de água diz que não há nada de anormal na captação ou fornecimento.
Maria Pereira, moradora de Eldorado, disse que já na madrugada de domingo (03/08) a água estava com gosto ruim. “Tomei por volta da meia-noite e estava com um gosto horrível, no domingo passei o dia com dor de barriga”, contou. A moradora disse que evitou tomar água da torneira nos dias que se seguiram e que nesta quarta-feira (07/08) ao falar com o RD, disse que tomou e não mais sentiu gosto diferente. “Acabei de chegar em casa e a primeira coisa que fiz foi liga a torneira da cozinha para verificar a água e, até então a cor da água está normal, bebi um pouquinho também não está mas com gosto de barro”, comentou.
“Vi muitas pessoas relatando sobre a água, aí me veio um alerta. Semana passada foi meu filho, que estava bonzinho até fazia meses que não sentia diarreia ou dor no estômago, ele tem 13 anos, aí começou com diarreia e dor abdominal leve. Aqui em casa a água passa pela caixa e depois é filtrada”, diz a moradora Samara Dias, do Jardim Inamar. Ela suspeita que o mal estar do filho esteja relacionado à água que ele tenha bebido na escola. Uma semana antes do episódio do filho mais velho a caçula de 9 anos teve crises de vômito. “Eles sempre levam garrafinha de casa com água, porém sabemos como são crianças, tbm pode ter haver com a alimentação na escola”, disse. Samara conta que o filho amanheceu novamente com diarreia nesta quinta-feira (08/08) e que, se não melhorar, vai levá-lo ao hospital.
A menina estuda na Escola Municipal Dr. José Martins da Silva, que fica em Eldorado. A prefeitura de Diadema informou que não recebeu relatos de pais falando de problemas de saúde dos filhos. “A Secretaria de Educação informa que a direção da Emeb Dr. José Martins da Silva não havia recebido até então relatos sobre essa situação. A Vigilância Ambiental, setor da Secretaria de Saúde responsável pela avaliação da potabilidade de água de alguns locais da cidade, da mesma maneira não recebeu nenhuma queixa sobre o caso específico. A Secretaria de Educação se coloca à disposição da família para prestar todos os esclarecimentos necessários sobre a qualidade da água”, diz nota da administração municipal que acrescentou que todos os bebedouros possuem filtro e que a próxima limpeza da caixa de água do colégio está prevista para este sábado (10/08).
Já o irmão mais velho estuda na Escola Estadual Dr. Miguel Reale, no Jardim Inamar. Em nota, a Seduc (Secretaria Estadual de Educação) também disse que não houve relatos de problemas com a água da escola em queixas de alunos com dores abdominais ou diarreia. Informou ainda que é recente a última intervenção na escola em relação a dedetização e limpeza da caixa de água. O colégio, segundo a Seduc tem filtros nas torneiras e a validade vai até o mês de outubro.
Sabesp
Sobre as reclamações de moradores de Diadema, a Sabesp diz que não há nada diferente na distribuição de água para o município. “A Sabesp informa que não foi identificada nenhuma alteração significativa na rede de distribuição de água que atende Diadema. As dosagens de cloro seguem rigorosamente os parâmetros exigidos e amostras coletadas em diversos pontos do município indicam que a água está dentro dos padrões de potabilidade. A Companhia monitora todas as etapas de tratamento e a qualidade da água distribuída aos clientes, sempre de acordo com os parâmetros previstos pelo Ministério da Saúde e realizando análises diárias com rigorosos controles em todo o sistema. A Sabesp esclarece ainda que até o momento os canais de atendimento não registraram reclamações de qualidade de água na região. A Companhia segue à disposição dos clientes e solicita mais informações sobre os locais para que possa ser feita uma melhor avaliação”, informou, em nota.
Sobre os peixes mortos no afluente da Billings, detectado há cerca de 15 dias, a Sabesp também informou na última semana que não há riscos à saúde de quem consumir a água. “A Sabesp não encontrou anormalidades na captação do Sistema Rio Grande. Devido à grande distância do evento apontado – no município de Rio Grande da Serra – em relação à Estação de Tratamento de Água (ETA), não há risco de impacto na água fornecida à população”, informou.
O Rio Grande, segue em direção à Billings sendo um de seus principiais afluentes. Pesquisa do laboratório IPH-USCS (Índice de Poluentes Hídricos da Universidade Municipal de São Caetano do Sul) mostrou que resíduos industriais foram a causa da mortandade de peixes no final do mês passado. Para a bióloga e coordenadora do laboratório, Marta Marcondes, tal concentração de metais pesados vai chegar no braço da represa onde a água é captada e estará diluída, mesmo assim pode fazer mal. “Mesmo com o tratamento de água, esses metais dificilmente vão sair. A concentração não vai ser alta para causar um mal à saúde, o problema é que esses metais pesados são persistentes e acumulativos nos seres vivos e se depositam nos tecidos, nos rins, no fígado e outros órgãos, e isso pode ser um problema futuro de saúde, que só vai se descobrir analisando torneira por torneira para saber a origem”, aponta