Em meio aos últimos dias do período de convenções, pré-candidatos a prefeito resolveram fazer separadamente o anúncio de quem ocuparia a vice nas chapas. O que chamou a atenção foi aceno feito para os cristãos, principalmente os evangélicos. Protagonistas nas buscas dos votos em 2022, este seguimento virou bola da vez nos últimos dias, com representantes e simbolismos, em busca de apoio para a futura campanha eleitoral.
Em Diadema, três das quatro chapas colocadas até o momento contam com relações diretas com o seguimento cristão. O atual prefeito José de Filippi Jr. (PT) apostou no pastor Rubens Cavalcanti (PV), ligado ao Ministério de Madureira da AD Brás, para ser seu pré-candidato a vice. Inclusive, o anúncio foi feito em um encontro que envolvia apenas os evangélicos da cidade.
No mesmo dia, horas antes, Taka Yamauchi (MDB) anunciou o nome de Andreia Fontes (PL). A conselheira tutelar foi apresentada como cristã e frequentadora da Igreja Internacional da Graça de Deus. O emedebista fez outro aceno, há mais de um mês, quando protocolou o seu plano de governo junto ao “manifesto cristão”.
A terceira chapa vem com o Republicanos e conta com Gesiel Duarte e o Apóstolo Valente. O partido é ligado aos líderes da Igreja Universal do Reino de Deus. Em Mauá, o deputado estadual e pré-candidato a prefeito, Atila Jacomussi (União Brasil), seguiu uma linha parecida ao escolher Ivany Moura (PRD) como vice.
Em Santo André, Gilvan Júnior (PSDB) apostou em Silvana Medeiros (Avante) como vice. A suplente de vereadora é da Igreja Internacional da Graça de Deus. Durante coletiva de imprensa, houve muitas falas sobre Deus, porém, foi negada que a questão religiosa foi a principal para a escolha.
Encontro com pastores, participações em cultos ou em outras atividades das igrejas evangélicas foram comuns durante a campanha. A lei eleitoral não impede que um político frequente um templo religioso, seja qual for. A única proibição é o pedido de voto dentro destes espaços. Segundo o Censo 2022, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), no ABC são 4.143 igrejas e templos.
Análise
O cientista político Nilton Tristão aponta que após a eleição de 2022, ficou evidente o tamanho da força do eleitorado evangélico, principalmente por terem votado de maneira fechada, dentro do contexto de polarização existente na época.
“Qual foi a principal característica da eleição de 2022? Foi o debate abstrato, onde você tem questões que não são palpáveis como a questão do comunismo, se a pessoa defende a família tradicional, a pauta de moral e costumes. Então a eleição foi permeada muito por essas questões mais ligadas a simbologia, principalmente uma simbologia de cunho moral, cristão”, iniciou.
Porém, o especialista que a característica da eleição municipal em ter um debate sobre os problemas do dia a dia da cidade acaba afastando a possibilidade de um novo protagonismo religioso na definição do processo.
“Quando você vai para a eleição municipal, você vai encontrar um outro modelo de debate, que é o modelo ligado as questões concretas, ou seja, o aumento de vagas em creche, melhoria de mobilidade urbana, se o estoque de remédios no posto de saúde está regularizado, a proteção social. Então eu vejo que o debate envolvendo uma posição mais religiosa perde força em âmbito municipal”, seguiu Nilton.