Desde 24 de julho que pescadores e moradores das margens do rio Grande, que abastece a Represa Billings, denunciam a mortandade de peixes. Ainda não se sabe o que tem causado a morte dos peixes. Equipes da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) e do laboratório do IPH-USCS (Índice de Poluentes Hídricos da Universidade Municipal de São Caetano do Sul) estiveram no local para colher amostras de água e peixes mortos para análise. O local fica próximo à indústria química Unipar, que emitiu comunicado em que nega responsabilidade sobre o acidente ambiental.
A situação foi denunciada por pescadores ao MDV (Movimento em Defesa da Vida do ABC), cujo presidente, José Soares da Silva, esteve no local e se aproximou da área onde os peixes mortos se acumulam nas margens. “A gente não consegue enxergar exatamente onde tudo isso começa, mas sabemos que os peixes vem de Rio Grande da Serra, das nascentes, em direção a Unipar. Então é preciso apurar o que está acontecendo”, disse.
Silva diz que o MDV aguarda parecer técnico para tomar providências. “Primeiro precisamos saber o que é que está matando os peixes, estamos aguardando os laudos. Com eles podemos cobrar providências dos órgãos de fiscalização, buscar o Ministério Público, ou tomar outras providências, o ideal é que não fosse por via judicial porque isso demora e as pessoas continuam consumindo peixes do rio. Então tem que ser feito algo muito rápido para alertar quem pesca no rio para não consumir esses peixes até que se saiba o que está acontecendo”.
O temor é que o que está matando os peixes chegue até o braço do Rio Grande, em São Bernardo, onde a Sabesp capta a água que abastece grande parte da Região Metropolitana, incluindo a maior parte do ABC. Em nota, a companhia informa que não detectou anormalidade. “A Sabesp monitora constantemente a qualidade da água captada para tratamento e não encontrou anormalidades na captação do Sistema Rio Grande. Devido à grande distância do evento apontado em relação à Estação de Tratamento de Água (ETA), não há risco de impacto na água fornecida à população. A Companhia monitora todas as etapas de tratamento e a qualidade da água distribuída aos clientes, sempre de acordo com os parâmetros previstos pelo Ministério da Saúde e realizando análises diárias com rigorosos controles em todo o sistema”.
Para a ambientalista, bióloga e professora da USCS, Marta Marcondes, a mortandade de peixes mostra que algo muito errado está ocorrendo. Peixes e água colhido no trecho afetado estão no laboratório do IPH-USCS para análise, que já começou a ser feita e o laudo deve sair até o fim desta semana. “Essa já é uma área que estudamos desde 2010 e de lá para cá já é a quarta vez que isso acontece. Estamos esperando que a Cetesb também emita laudo para confrontar com o que nós obtivermos. Em uma das outras crises encontramos no intestino dos peixes fragmentos de Pellets, um tipo de plástico fragmentado, que os peixes engoliram e acabaram morrendo. A Unipar sempre nega que qualquer poluente saia das suas instalações, mas coincidentemente sempre acontece no mesmo lugar”, diz a professora.
“Das outras vezes nós denunciamos para a Cetesb, para o Ministério Público e acabou não dando em nada, mas o fato é que algo errado está ocorrendo por lá”, continua Marta que, durante o processamento dos materiais colhidos no Rio Grande, já identificou a baixa quantidade de oxigênio na água. “Uma coisa que verificamos foi a baixa taxa de oxigênio no local da coleta, a água está com um teor de Oxigênio Dissolvido abaixo do que preconiza a legislação, ou seja, 2,4 mg/L, o ideal e que permite a vida aquática é acima de 5 mg/L”, aponta.
A Unipar foi procurada para comentar o assunto, mas não se manifestou. Em documento encaminhado ao seu Conselho Comunitário Consultivo, a empresa negou despejo de qualquer tipo de poluente no Rio Grande. “Tomamos conhecimento nesta sexta-feira, 26 de julho, sobre um episódio de mortandade de peixes no Rio Grande. A Unipar faz análises periodicamente e não tem verificado nenhuma anormalidade. Em função do episódio, repetimos as análises nessa data e não foi encontrada nenhuma anormalidade relacionada a Unipar. Além disso, temos uma rede de monitoramento interno com alarmes que detectam, imediatamente, qualquer variação na água pluvial que deixa a fábrica em direção ao Rio. Neste mesmo dia 26 e após as verificações internas, recebemos a Cetesb e representantes da Secretaria de Meio Ambiente de Rio Grande para ação de coleta de amostras de água do Rio. Não poupamos esforços para ajudá-los a recolher amostras para averiguação em diversos pontos do rio. E continuaremos a apoiar os esforços para análises”.
A EMAE (Empresa Metropolitana de Água e Energia), que é o órgão do Estado responsável pela Billings, foi procurada, mas não respondeu até o fechamento desta matéria.