ABC - sábado , 7 de dezembro de 2024

Gasolina ultrapassa os R$ 6 na região e preocupa consumidores e varejistas

Preços dos combustíveis em posto de Ribeirão Pires, dentro da média da região. (Foto: Amanda Lemos)

O aumento dos combustíveis anunciado pela Petrobras em 8 de julho, na casa dos 7,11% para as distribuidoras, já foi integralmente repassado ao consumidor pelos postos nas duas últimas semanas. A medida fez com que a gasolina passasse a custar acima dos R$ 6 na maioria dos postos e tanto consumidores como os donos de postos estão preocupados.

Quem utiliza o carro como meio de transporte ou como fonte de renda, como motoristas de frotas ou motoristas de transporte por aplicativo, é o mais prejudicado, pois assumem um custo maior que não é repassado ao consumidor ou tomador de serviços e vê sua margem encolher. Caso de José Roberto Vilas Boas, motorista de aplicativo há seis anos que diz que a alta do preço da gasolina está “espremendo” ainda mais os já pequenos ganhos de quem passa o dia fazendo corridas através das plataformas. “A nossa vida já não é fácil, a gente se sente na ponta de uma pirâmide invertida aguentando uma enorme carga. A gasolina pesa demais no nosso orçamento e as plataformas não colaboram repassando isso  a quem deveria, o consumidor. Além do combustível temos o desgaste do carro e o nosso próprio desgaste, se a margem encolhe como vamos arcar com isso?”, indaga.

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Para Vilas Boas, o ideal seria que a plataforma pagasse ao menos R$ 2 por quilômetro rodado, mas paga R$ 1,4. “Numa corrida de R$ 13 se gasta R$ 5 só de combustível, então a gente se vê numa sinuca”, diz o motorista que diz tentado em colocar combustível mais barato em alguns postos que ele não conhece, porém quando pensa na consequência de estar usando um combustível ruim, desiste e se apega à razão. “Quando a gente coloca uma gasolina ruim, o carro responde na hora. Há dois meses tive um prejuízo, então não me arrisco mais, o ideal é ter um posto fidelizado, aquele que você confia, mas tem que pagar o preço dessa qualidade, não adianta lamentar o preço é algo que não está no nosso controle”, lamenta.

Outro motorista de aplicativo, Hygor Cardoso, também reclama da margem de lucro encolher por causa de mais um aumento no preço da gasolina. Ele conta que tenta buscar o equilíbrio entre os preços. “Eu procuro abastecer sempre no mesmo posto, assim o carro não sente muita diferença, quando não dá eu procuro um posto de bandeira conhecida e onde não esteja tão barato, porque o barato pode custar caro, não adianta pagar barato agora, porque depois vem a conta”, diz ele referindo-se ao gasto com mecânico pelos danos causados pelo produto de má qualidade colocado no tanque. “Mas assustou esse último aumento. E teve posto que nem esperou trocar o estoque e aumentou logo de cara”, completa. Tanto Cardoso quando Vilas Boas, preferem abastecer com gasolina por conta do rendimento do veículo.

Para o presidente do Regran (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do ABCDMRR), Roberto Leandrini, o dono do posto é quase sempre alvo das críticas dos consumidores, porém eles também trabalham com um margem muito pequena. “O varejo queria vender mais barato e assim vender mais, mas a gente é obrigado a repassar. Para nós a gasolina teve um aumento de R$ 0,20 e tivemos que repassar, porque senão a gente fica sem capital de giro. Além disso temos uma enorme concorrência com os postos que vendem produto de origem duvidosa. Na região o preço está na casa dos R$ 6,29 até R$ 6,39; gasolina a R$ 4,99 não é gasolina, não é um posto sério. Quem vende produto de primeira linha está vendendo acima de R$ 6 o litro e o consumidor tem que ficar esperto para não pagar barato e depois ter que fazer o motor do carro”, explica. O etanol está sendo vendido entre R$ 4,80 e R$ 4,90 de acordo com o sindicato dos postos.

Como exemplo, em Ribeirão Pires, na manhã desta terça-feira (23/07) o posto na rodovia Índio Tibiriçá, a gasolina era vendida a R$ 6,09 e o etanol a R$ 4,19.

O ABC, segundo Leandrini, tem cerca de 280 postos e 40% deles estariam vendendo produto ruim, seja por fraude no produto ou por fraude no volume vendido através de alteração nas bombas. “A gente denuncia para a ANP (Agência Nacional do Petróleo), mas eles têm poucos fiscais, falta estrutura para fiscalizar. Entre a gente denunciar e eles virem fiscalizar é um oceano de distância”, diz o presidente do Regran.

Na pesquisa semanal da ANP, realizada na semana de 7 a 13 de julho, portanto já dentro do efeito do aumento mais recente, apontava preços de R$ 4,79 até R$ 6,59 para a gasolina e de R$ 2,99 até R$ 4,69 o preço do etanol. O que mostra que nem todos os postos aplicaram o reajuste imediatamente.

Para o empresário, dono de posto de combustível, Wagner Souza, o aumento de preços favorece os postos que vendem produto de má qualidade, porque o consumidor acaba mais atraído pelo preço, sem avaliar que o produto pode causar danos ao veículo, ou, na melhor das hipóteses, apenas comprometer o rendimento do carro. “Quem trabalha de forma correta, está vendendo a gasolina a R$ 6,19, mas tem posto que vende produto ruim, feito com nafta e acrescido de alguns solventes e vendem como gasolina e bem mais barato, o posto que vende a R$ 5,59 tem produto adulterado, ou ganha na litragem da bomba ou sonega impostos, quem perde é sempre o consumidor. Eu diria que, de dez postos, cinco não prestam”, comenta.

Se o consumidor não deixa de abastecer o carro para as atividades que mais precisa, pode deixar de usar para outras coisas, como o lazer. Para Souza, quando o combustível começa a pesar mais no bolso a primeira coisa que o consumidor corta é o passeio. “Ele corta aquela ida à praia, fica mais em casa e preserva o combustível no tanque para o trabalho. Por outro lado, o impacto do aumento é mais na primeira semana, depois o cliente se acostuma, porque na maioria das vezes não tem como fugir, se ele precisa vai ter que abastecer”, completa o varejista.

 

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