Está vivo e se recuperando bem no Hospital das Clínicas, em São Paulo, Aparecido Rogério da Silva, de 48 anos, que se acidentou na Anchieta, no sábado (20/07), diferente do que a Secretaria de Segurança Pública informou, no dia 23/07, de que a vítima não tinha resistido aos ferimentos. Silva foi atingido por uma linha com a sustância cortante, conhecida como cerol, no pescoço quando estava em uma motocicleta. A SSP admitiu o erro e pediu desculpas à família da vítima.
“A Polícia Civil esclarece que o homem atingido no pescoço por uma linha de pipa, na tarde do último sábado (20), permanece internado no Hospital das Clínicas. O piloto da motocicleta já foi identificado e prestou depoimento à autoridade policial do 1° Distrito Policial de São Bernardo do Campo, que segue realizando as demais diligências visando a identificação do autor do crime e esclarecimento dos fatos. A Instituição pede desculpas à família da vítima por qualquer informação incorreta anteriormente divulgada”, disse a pasta estadual.
Baseado na informação oficial emitida pela SSP o RD chegou a divulgar que Aparecido não teria resistido aos ferimentos, mas em conversa com a reportagem a irmã da vítima, Regiane Aparecida da Silva, contou que ele se recupera de forma surpreendente. “Meu irmão é um milagre, ele cortou a jugular, e acidentes assim costumam ser fatais, mas ele está bem, se recuperando, já está falando e se alimentando sem sonda. Ele me contou que estava consciente o tempo todo. A sorte é que tudo aconteceu em frente a uma base da Ecovias, e eles fizeram os primeiros socorros e acionaram o helicóptero Águia da Polícia Militar para o socorro que foi muito rápido”, disse. A família tem a expectativa de que Aparecido deixe o hospital nos próximos dias para terminar a sua recuperação em casa. “Meu irmão já está até brincando com os filhos”, comemorou Regiane.
Cuidados
A hemorragia intensa pelo corte no pescoço é a causa da maioria fatalidades ocasionadas pela linha com cerol e porta-voz do Corpo de Bombeiros explica como se prevenir e como agir em caso de acidente como esse. A perda de sangue intensa que ocorre quando artérias de maior calibre são cortadas, como as do pescoço, torna difícil o êxito no socorro das vítimas. De acordo com a tenente Olívia Perrone do Comando do Corpo de Bombeiros, saber o que fazer nesta hora pode ser a diferença entre a vida e a morte da vítima de acidente. Entre não mexer na vítima evitando lesões na coluna, e a hemorragia, o mais importante é conter a perda de sangue. “Quando o acidente acontece o serviço de emergência deve ser acionado imediatamente, mas ao mesmo tempo deve-se conter o sangramento com um pano limpo e fazer uma suave pressão para estancar a hemorragia. Importante evitar o contato com o sangue. Essa providência é simples mas pode evitar a morte. Também é importante não retirar o capacete, mas desafivelar para ajudar a pessoa acidentada a respirar melhor”, orienta.
Nos centros urbanos os motociclistas andam mais relaxados em relação às linhas de pipa, até porque nestes locais, conforme explica a tenente dos Bombeiros, a arquitetura urbana não é favorável à prática de empinar pipas, mas nas periferias, onde a atividade é mais comum, por ser uma atividade de lazer barata para crianças e adolescentes, o risco é maior. A prevenção, diz a oficial, é usar a antena corta pipas, um dispositivo telescópico como as antigas antenas de carro que tem um ganho na extremidade e uma lâmina que corta a linha antes que essa atinja o condutor ou o passageiro da moto. Ciclistas também podem usar.
Não há um número oficial de acidentes fatais causados pelo cerol nas linhas ou de operações visando combater quem produz ou vende este material, mas os Bombeiros relatam todo o cenário que encontram no momento do atendimento, como testemunhas e outras informações relevantes e isso é passado para a Polícia Civil. “Fazemos isso para auxiliar a mapear os pontos mais críticos com estatística. Também fazemos uma campanha nas escolas, que podem ser públicas ou privadas, para onde levamos o programa Bombeiro na Escola que visa conscientizar os estudantes sobre o perigo e explicar que o uso do cerol é crime, e quem for pego comercializando ou empinando um pipa com linha cortante pode ser enquadrado no artigo 132 do Código Penal que trata do tema: “Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente”, explica. A pena, prevista neste artigo é de detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave. Se ocorrer uma lesão corporal o crime previsto aumenta a pena. Se a vítima morre, aí o enquadramento pode ser por homicídio.
Para a tenente, não há outra forma do motociclista se prevenir senão usando a antena corta pipas. Não há outro equipamento de proteção, nem mesmo uma jaqueta mais grossa que possa evitar que a linha atinja o condutor ou passageiro. “Tem casos que a linha chega a cortar o capacete que é feito de um material muito duro. Quando a linha enrosca em outras partes do corpo também causa muitas lesões, mas os cortes no pescoço são os mais graves, por isso recomendo fortemente que se use a antena, quase como um item obrigatório”, completa.