No dia 27 de abril, fortes chuvas atingiram o Rio Grande do Sul e causaram um desastre natural nunca visto na região. Seja por mudanças climáticas ou más estratégias com estruturas, o incidente acende um alerta vermelho para todas as regiões do País, principalmente para o sudeste, assim como explica ao RDtv, Marco Moraes, geólogo, pesquisador de mudanças climáticas e autor do livro ‘Planeta Hostil’.
Entender o que gerou o desastre no RS é fundamental para ter uma noção do impacto em outras regiões. Segundo o especialista, houve diversos fatores que contribuíram fortemente para o ocorrido, sendo o principal deles a “zona de pressão”. Essa região é localizada na faixa central do País, possuiu uma alta densidade de partículas que impediram a passagem da frente fria do sul para o norte, e favoreceu que este movimento estacionasse no sul e com altas chuvas. Além disso, a umidade da Amazônia, que também era canalizada pela zona de pressão, foi deslocada para o sul do País, e potencializou o desastre.
Esse movimento é estudado por Moraes. “Esse tipo de fenômeno acontece na virada do outono para o inverno. Porém, da forma que está acontecendo, percebemos que está mais intensa e constante do que em outras épocas”, explica. O geólogo diz, que além de questões climáticas, fatores locais influenciaram a efetividade das enchentes.
Especificamente o RS, o geólogo comenta que, por conta da posição e latitude, o Estado fica ao encontro de massas tropicais e massas temperadas, sendo estas compostas por células de circulação atmosférica, justificam a intensidade de mudanças climáticas. “A realidade é que não foi por falta de aviso. Além de já sabermos que o Rio Grande do Sul possui essas características, fenômenos climáticos como o El Niño e La Niña potencializam a possibilidade de desastres naturais. Temos que entender que o planeta tem mudado e precisamos saber lidar com isso”, diz.
Dos fenômenos citados, El Niño é caracterizado pelo aquecimento anormal e persistente da superfície do oceano Pacífico na linha do Equador. Já o La Niña consiste no resfriamento das camadas mais superficiais, até aproximadamente 100 m de profundidade, do oceano Pacífico Tropical, na região equatorial próxima ao Peru e Equador.
O pesquisador cita a Floresta Amazônica como um dos bens mais prejudicados pelas alterações climáticas. Segundo Moraes, existe uma falta de coerência, pois por um lado nos aprofundamos em energias renováveis como a solar e eólica, vemos a floresta ser devastada através das queimadas e destruição do solo, o que prejudica diretamente a atmosfera com a emissão de gás carbônico.
Moraes relaciona essas estratégias de sustentabilidade com o ocorrido em RS. Segundo estudos feitos pelo pesquisador, boa parte das cidades do Rio Grande do Sul foi implantada nas planícies de inundação. Essas regiões são conhecidas por serem secas na maior parte do tempo, porém ocasionalmente sujeitas a enchentes. Deste modo, Moraes aponta que, mesmo com este conhecimento, foram instaladas residências, indústrias e rodovias nessas áreas, principalmente pelo fato do fácil acesso, solo fértil e superfície plana. “Este é um exemplo do porquê precisamos ressignificar a definição de ‘área de risco’. Temos de rever os planos de urbanização das cidades, deixá-las com mais capacidade de absorver água, com mais natureza, e conscientizar a população que aquela determinada área não deve ser ocupada”, diz.
Em fevereiro deste ano, Moraes lançou o livro “Planeta Hostil”, que trata sobre mudanças climáticas e possíveis previsões. “O que acontece no sul envolve mais uma questão de refundação do que reconstrução, pelo tanto de dano que o Estado sofreu. Há previsões que a região sudeste sofrerá de alterações climáticas similares, por isso temos de nos precaver quanto antes para evitar grandes prejuízos”, comenta.