O show do cantor Roberto Carlos marcado para a noite desta sexta-feira, 19, em que completou 83 anos, foi cancelado pela Prefeitura de São Paulo. A decisão oficial foi informada por volta das 16h30. “Nós cumprimos a determinação de impedir um evento que não garantia a segurança para as pessoas, conforme avaliação do Corpo de Bombeiros e técnicos da Prefeitura”, disse o prefeito Ricardo Nunes (MDB). “Infelizmente não tinha como autorizar devido ao risco para as pessoas.”
O centro de convenções onde Mercado Pago Hall seria inaugurado com a apresentação. O espaço foi projetado para receber até 8,5 mil pessoas, mas para a abertura foram reservados pouco mais de 3 mil ingressos (que custavam até R$ 1.650 cada).
Mesmo após o cancelamento, a Allegra Pacaembu, responsável pelo local, ainda afirmava que o show ocorreria normalmente até enviou um e-mail para as pessoas que compraram o ingresso, dizendo que a apresentação estava confirmada. Às 17h45, no entanto, a concessionária recuou e informou o cancelamento.
“Precisamos ter a segurança, sempre, como prioridade. Diante dos laudos emitidos pelos Bombeiros e pelo próprio Contru (órgão de edificações), seria uma irresponsabilidade manter o show”, afirmou anteriormente o prefeito.
Quais os problemas
Oficialmente, a Prefeitura alegou que há irregularidades como saídas de emergência obstruídas e não concluídas; sinalização de rotas de fuga inexistente; escadas pressurizadas inoperantes; portas das saídas de emergência sem barras antipânico; sistema de detecção de incêndio inoperante; sistema de controle de fumaça deficiente; diversos extintores faltantes; quebra de compartimentação em diversos locais; e piso irregular e inacabado, por causa de uma obra. Havia dúvida ainda em relação a documentação e acessibllidade.
O laudo do Corpo de Bombeiros, por sua vez, afirma que nem “sequer foi apresentado Projeto Técnico para Ocupação Temporária em Edificação Permanente (PTOTEP), contendo as devidas medidas de segurança contra incêndio, destarte em total desconformidade com o contido no artigo 27 do Regulamento de Segurança contra Incêndio das Edificações e Áreas de Risco no Estado de São Paulo”.
Ciente dos problemas, a Promotoria de Justiça de Habitação e Urbanismo solicitou que a Prefeitura adotasse todas as medidas administrativas cabíveis para que sejam proibidas quaisquer realizações de eventos no espaço Pago Hall, no segundo subsolo da Arena Pacaembu.
“Com base nisso, a Subprefeitura da Sé notificou a empresa responsável pelo espaço de que não deverá realizar o evento e que deverá adotar todas as medidas para que não haja prejuízo ao público e aos munícipes, comunicando a não realização do show e todas as providências que adotará para cumprir o determinado pela municipalidade”, informou a Prefeitura.
A frustração dos fãs
Na porta da Arena Pacaembu, o sentimento era de frustração. Por volta das 18h, o público que ainda não sabia do cancelamento da apresentação começou a chegar para o show.
O comerciante Leonildo Fabiano, de 73 anos, só soube do cancelamento ao chegar ao estádio. Ele veio de Campinas, no interior de São Paulo, acompanhado pela mulher, Cecília de Mello. “Acho uma falta de respeito muito grande. Com tantas formas de comunicação que existem hoje, a empresa não avisar nada… É desagradável”, disse ele, ressaltando que espera por uma nova data. “Estou no fim da vida. E o Roberto também. Quero ver mais um show dele.”
A cirurgiã dentista Luciana Oliveira, de Indaiatuba, além de frustrada, estava assustada com a notícia de que a casa não oferecia segurança. Essa seria a primeira vez dela em um show do Roberto. Pagou R$ 1.650 para ficar na frente. “A maioria do público do Roberto é de idosos. Se acontecesse um incidente lá dentro, como essas pessoas iriam correr, sair?”, indagou. Ela considera pedir a devolução do dinheiro. “Depois disso, fiquei com medo de voltar aqui”, afirmou.
O casal Lucas e Mina Aliberti chegou ao Pacaembu por volta das 18h50 e também só soube do cancelamento ao ser abordado pela reportagem do Estadão. Eles trouxeram os pais de Lucas, Renata e Jorge, que moram em Piracicaba e só saberiam que assistiriam ao show quando descessem do carro. “Era uma surpresa. Dissemos para eles que iríamos a um encontro na igreja.”
Histórico de problemas
O antigo Estádio do Pacaembu foi concedido à Allegra Pacaembu pelo prazo de 35 anos. Desde junho de 2021, porém, o local está em obras.
A previsão inicial era de que, em janeiro a nova arena recebesse a final da Copa São Paulo de Futebol Júnior. A Federação Paulista de Futebol (FPF), que organiza o torneio, chegou a confirmar que o jogo seria disputado no Mercado Livre Arena Pacaembu. Mas, como as obras ainda não haviam terminado, precisou rever o local. Alegando “falta de segurança”, a federação transferiu a final para a Neo Química Arena, do Corinthians.