Um olhar e uma piscada podem comunicar com muita precisão o que pessoas com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) querem dizer. Com esse objetivo, alunos da ETEC (Escola Técnica Estadual) Professora Maria Cristina Medeiros, em Ribeirão Pires, desenvolveram um sistema próprio e que acabou premiado no Estado. A ideia do grupo é levar esse software para todos que precisam, de forma mais barata e acessível.
Apelidado de “PisqueAI”, o sistema utiliza a webcam para captar a direção do olhar de uma pessoa para um teclado, identificando cada letra que formará determinada palavra. O objetivo é que o sistema possa ser utilizado por pacientes com ELA e que não contam mais com a possibilidade de verbalizar o que pensam ou o que sentem.
Todo o processo começou com o caso do menino Gianlucca Trevellin, que é portador de uma doença rara chamada AME (Atrofia Muscular Espinhal). “Ele é aluno de uma professora amiga e nossa e ela estava na fase de alfabetização dele. Em uma conversa casual ela falou sobre as dificuldades que tinha para alfabetizar o Gian. Ouvindo essa história essa amiga falou sobre a possibilidade de ajudar a partir da tecnologia”, inicia Raissa Daloia, então estudante da ETEC.
Com o desafio lançado, Raissa se juntou com Pedro Costa e Laura Jeronimo na busca de uma solução que pudesse ajudar Gian, que com 11 anos conta com os mesmos problemas de comunicação de uma pessoa adulta com ELA.
“Quando começamos a discutir sobre essa ideia, de como levar isso a frente, tudo isso foi me deixando muito animada, pois gosto muito de tecnologia. Eu me apaixonei pela tecnologia muito cedo, então ver os caminhos que ela pode de proporcionar, principalmente com uma ideia desse tamanho, me animou muito”, comentou Laura.
Junto com os professores orientadores Cíntia Pinho e Anderson Vanin, o trio procurou sistemas parecidos e realizaram uma adaptação para Gian. Uma das técnicas foi organizar o teclado virtual em ordem alfabética e não como um teclado de computador, assim facilitando o entendimento do paciente ainda em fase de alfabetização.
Com o tempo, Gianlucca passou a formar palavras a partir do movimento dos olhos e pode se comunicar com sua família, sua professora e a equipe que cuida de seu caso.
Além do primeiro objetivo cumprido, o grupo conseguiu mais do que uma boa nota em um trabalho escolar, mas conseguiu outras duas premiações. O sistema conquistou o terceiro lugar no seguimento de Ciências Exatas na 22ª edição da Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace) e o Prêmio Especial do Conselho Regional dos Técnicos Industriais do Estado de São Paulo.
A sequência de prêmios e a evolução na alfabetização de Gian segue inspirando outros alunos da ETEC de Ribeirão Pires. “Os alunos que estão hoje na escola, eles viram tudo isso que aconteceu com esse projeto e ficaram inspirados. Eles trazem novas ideias e algumas muito boas, que já estou separando para saber como fazer nesse ano. Mas eu acho que está vindo muita coisa boa devido toda essa repercussão”, disse o professor Anderson.
Mesmo após o fim do curso, Raíssa, Laura e Pedro querem levar o projeto para frente. A principal ideia é fazer com que ele tenha o menor custo possível, assim criando a possibilidade de levar este tipo de sistema para pessoas que não contam com valores financeiros suficientes para adquirir um software mais sofisticado para se comunicar.