O Banco Central do Brasil publicou em dezembro do ano passado uma resolução conjunta para que medidas sobre educação financeira sejam tomadas por instituições que contam com autorização do BC para funcionar. Ao RD Momento Econômico – Debate desta sexta-feira (19/01), os especialistas apontaram que ainda há algumas falhas que não foram cobertas pela resolução e que há muito o que avançar para conseguir levar informações corretas para os mais diversos tipos de público.
Para o presidente do CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas) de São Caetano do Sul, Alexandre Damásio, a medida do Banco Central coloca nas mãos dos principais cobradores de dívidas, os bancos, a responsabilidade de ensinar à sua maneira os seus correntistas, principalmente aqueles que estão inadimplentes, o que pode gerar controvérsia.
“Você vai colocar o lobo para cuidar do carneiro. Ou nós vamos entender que o banco realmente não quer ninguém inadimplente, que todo mundo não caia em pegadinha de juros, que tenha essa educação financeira? E aí tem outro fato interessante, faz aí a educação financeira e coloca no site etc., mas a pergunta é ‘para que?’. Qual espécie ou qual tipo de educação financeira que precisamos entregar?”, questiona Damásio.
O grande ponto para os especialistas é que cada tipo de público precisaria de uma ação de educação diferente. Por exemplo, jovens em idade escolar e que ainda não são economicamente ativos precisam de um tipo de ação de educação. Pessoas com dívidas com o Poder Público ou mesmo com a Iniciativa Privada precisam de um outro modelo. Aposentados, que contam com um comportamento financeiro diferente também precisam de algo especializado.
O delegado no ABC do Corecon (Conselho Regional de Economia), professor de Economia na USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul) e especialista do Procon-SP, Vinicius Oliveira Silva, também aponta a dificuldade para a realização da fiscalização desta medida, pois qualquer tipo de material que seja disponibilizado, independente de qualidade, já cumpria a resolução.
“A lei ficou vaga, ficou muito aberta. Se ela for muito aberta, fica difícil de você cobrar só da lei. O que temos hoje são as instituições financeiras com informação disponíveis nos sites, alguns sites específicos para isso. Mas o cidadão que tem pouco acesso, inclusive a internet, tem bastante dificuldade de acessar esse conteúdo. Não vou desmerecer esse conteúdo, tem conteúdo interessante e bom, mas tem muita gente que não tem nem internet para acessar isso daí. Então deveriam ter feito uma lei direcionada para todo o tipo de usuário financeiro”, explica.
Silva também aponta que a falta de uma liderança para coordenar essa medida também atrapalha nesse entendimento sobre educação financeira. O próprio Corecon, segundo o delegado, poderia fazer esse trabalho, mas até o momento não houve a possibilidade de conversas com autoridades sobre esse assunto.
A principal preocupação está com o aumento da inadimplência. Apesar dos diversos mutirões para acordos sobre as dívidas, muitos ainda contam com a falta de entendimento de que precisam cumprir os acordos e não ter novos problemas. Porém, sem uma educação financeira adequada, os especialistas apontam que o problema não é resolvido de fato.