
Pesquisa realizada por Beatriz Benedito, analista de políticas públicas do Instituto Alana e uma das palestrantes do II Seminário Afro Sawabona Shikoba, que aconteceu nesta sexta-feira (24/11), no auditório da Secretaria de Educação de Diadema, no Centro, mostra que a cidade é exemplo em educação antirracista.
O encontro, voltado a educadores do município e pesquisadores de relações étnico-raciais, faz parte da Kizomba – Festa da Raça, ampla programação preparada pela Prefeitura de Diadema que ocorre ao longo de novembro em toda a cidade para celebrar o Dia da Consciência Negra (20/11).
Segundo Beatriz, Diadema, “uma inspiração para todo mundo que gosta de políticas públicas”, é um dos municípios, de acordo com sua pesquisa, em que houve uma boa implementação da lei 10.639, que inclui no currículo a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira. “Os professores e gestores dos municípios muitas vezes têm compromisso com essa legislação, mas queremos ver isso estruturado em políticas públicas, como acontece aqui em Diadema”, afirma Beatriz.
Segundo ela, o estudo apontou que as cidades em que essa educação antirracista está implementada de maneira ampla têm alguns pontos em comum, como equipes específicas voltadas para isso, orçamento para implementar as políticas, leis municipais de caráter antirracista e uso de materiais didáticos que enfoquem as relações étnicos-raciais.
Segundo a secretária de Educação, Ana Lucia Sanches, também presente ao Seminário, o programa Diadema de Dandara e Piatã é apenas uma das iniciativas da Prefeitura no sentido de implementar uma política educacional antirracista.
O programa, implementado desde 2022 na rede de Diadema, tem o objetivo de valorizar histórias e culturas historicamente invisibilizadas, utilizando, por exemplo, o jogo Mancala Awelé e o Jogo da Onça como caminho de vivência curricular. Além dos jogos, o programa utiliza brincadeiras, leituras e atividades culturais, o que ajuda a engajar os estudantes. Tudo isso é trabalhado durante uma hora por semana com os alunos da rede por professores selecionados e formados especificamente para isso.
“Decidimos implementar um programa de efetiva execução em que as crianças tivessem o direito de ter aula, durante uma hora por semana, com um professor especialista, assegurando, assim, a informação correta e adequada. Na sequência fomos aperfeiçoando a nossa política, e a criação do Nerer nasceu da constatação de que precisávamos de mais gente para elaborar e implementar essa política educacional”, afirma.
O Nerer, Núcleo de Educação para as Relações Étnico-raciais, congrega os profissionais da educação, a Coordenadoria da Igualdade Racial e lideranças do movimento negro. Trata-se de mais uma ferramenta para pensar e elaborar políticas públicas que atuem nas relações étnico-raciais.
Para Ana Lúcia, o objetivo de tudo isso é “abrir todas as portas, todas as janelas, e garantir oportunidades iguais e todos e todas”.
Elly Bayó, professora mestranda, outra das palestrantes, afirma que é preciso “pronunciar as existências negras, decolonizar olhares, currículo e vida. Se a gente não revolucionar, não tem educação antirracista”.
Por fim, a professora Nínive Weza, abordou a pesquisa que realiza sobre cosmogonias africanas – ou seja, mitos de criação de origem dos povos – no ensino de Ciências. Segundo ela, o trabalho junto às crianças com essas cosmogonias de origem africana são outra forma de valorizar a cultura negra, desde que se considerem os aspectos culturais e históricos que envolvem esses mitos.
Também esteve presente ao evento a Coordenadora de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (CREPPIR), Márcia Damaceno.