Ribeirão Pires ganhará espaço dedicado às vítimas da covid-19, o Memorial do Renascimento. As obras foram iniciadas nesta segunda-feira (9/5), em terreno localizado entre as ruas João Domingues de Oliveira e Euclides da Cunha, na região central, principal área de comércio. A Prefeitura investirá R$ 290 mil na construção da praça, com bancos, paisagismo e escultura de borboleta, que simboliza o renascimento.
O ponto, que antes abrigava a feira-livre às quintas-feiras, vai se tornar uma praça em homenagem aos moradores que perderam a vida pela doença, bem como aos profissionais da saúde que se dedicaram aos cuidados da população. Com o memorial, a administração também celebra a cidade que superou as dificuldades impostas pela pandemia. A Prefeitura prevê a finalização da revitalização em 30 dias.
O início das obras gerou expectativas em diversos moradores, que torciam para a chegada de um novo empreendimento comercial. Em grupo de Facebook que reúne munícipes, um post traz a foto das obras e questiona: “O que será? Shopping? Galeria? Outra loja famosa?”, indaga. Muitos moradores se posicionaram na torcida para que a cidade recebesse uma nova loja e aumentasse as opções de compra. “Bem que poderia ser um Armarinhos Fernando. Muito ruim ter que ficar indo em Santo André ou São Bernardo”, escreve um dos integrantes do grupo.
Logo, a informação foi esclarecida. Outra postagem trouxe a notícia divulgada pela Prefeitura sobre o início das obras da nova praça e a iniciativa dividiu opiniões. Morador do bairro Pilar Velho, Diego Galiote, de 30 anos, afirma que a ideia é boa, mas no momento a cidade tem outras prioridades, que impactam o cotidiano dos moradores. “A avenida Benjamin Batista Cerezoli, no Pilar Velho, é de terra e o esgoto é a céu aberto, não tem calçada para pedestres e está sem iluminação, o que dificulta andar a noite”, reclama.
Claudio Cascardi, de 57 anos, morador do bairro São Caetaninho, também entende o que motiva a obra, mas afirma que a cidade necessita de incentivo ao comércio local e a vinda de novos empreendimentos comerciais, bem como melhorias no transporte público. “Não que as vítimas não mereçam toda homenagem, mas creio que Ribeirão Pires necessita de várias outras obras. As linhas de ônibus que não atendem os municípes, ainda circulam em horário de pandemia. Falta comércios de grandes lojas, um shopping para os jovens não terem que ir para outras cidades”, afirma.
Associação Comercial
A presidente da Aciarp (Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Ribeirão Pires), Eliete Vieira, afirma que a entidade não foi consultada sobre o projeto e não sabe se o local contará com espaço para a realização de pequenas feiras ou atividades culturais, que tragam moradores dos bairros ao centro comercial. “Ainda não sabemos como poderemos aproveitar o espaço a favor do comércio da cidade. Teremos que esperar a entrega da obra e depois estudar o que poderá ser feito para movimentar o comércio e fortalecer a economia”, afirma.
Eliete entende que a praça promoverá a revitalização da região central da cidade, fato que já traz melhorias ao comércio no entorno. “Quem entra na cidade, passa pelo portal e tem que passar por esse local em que estará a praça. É um acolhimento melhor aos visitantes, com certeza. Podemos apresentar propostas da Aciarp para que possamos nos apropriar do espaço e ajudar o comércio”, planeja a presidente. “Temos que pensar em projetos e propostas integradas para atrair os moradores dos bairros ao centro. Somente assim o comércio local vai crescer. Tem que ter gente nas ruas do centro”, pontua.
Em nota, a Prefeitura afirma que o memorial será apenas um espaço de contemplação e não serão realizados nenhum tipo de evento no local. “O espaço, certamente, vai valorizar a região central, sobretudo, a área comercial, uma vez que a prefeitura vai entregar um espaço totalmente revitalizado, onde, hoje, existe apenas um terreno em desuso. Além disso, o memorial fará parte do roteiro turístico da Estância, o que vai atrair mais gente para o centro”, escreve.
Homenagem às vítimas e familiares
Para quem perdeu um ente querido, vítima da covid-19, a proposta de ter um memorial na cidade traz um sentimento de acolhimento e ameniza a dor e a saudade. Camila Michelli Silva Barros, de 27 anos, perdeu a mãe Rosemar Silva Seixas Barros, há um ano e meio. Conhecida como Mara, a mãe de Camila, era funcionária pública e faleceu aos 60 anos, em dezembro de 2020.
Moradora do bairro Santa Luzia, Camila celebra a inciativa, que traz de volta a memória daqueles entes queridos que foram embora por conta da doença. “Ter um memorial é um ato de respeito com as pessoas queridas que tínhamos na nossa vida. Eu fico muito feliz e eu sei que todo mundo que a conhecia vai olhar e lembrar dela”, conta. “Significa muito pra mim que perdi minha mãe. Deixa o coração quentinho em ver que pensaram em uma forma de homenagear pessoas tão queridas, que não estão mais aqui”, afirma.