O arquiteto e urbanista é o profissional habilitado para planejar e organizar ambientes externos, internos e edificações. Com a pandemia, houve o isolamento social e esse momento trouxe à tona a necessidade de mais profissionais com o olhar voltado às cidades e com uma percepção da realidade e necessidade das cidades. Para isso, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo (CAU/SP) estrutura edital que visa incentivar a formação continuada, a qualificação profissional e a atuação do arquiteto e urbanista no setor público, como afirma Catherine Otondo, presidente do conselho, em entrevista ao RDtv.
Catherine explica que a ideia é sensibilizar prefeituras, para que entendam que existe a necessidade de ter o profissional habilitado nos órgão públicos, para pensar na urbanização. “É como a ideia da residência médica. O Conselho vai atuar junto às universidades e levar esse profissional da especialização ou pós-graduação para atuar em projetos que as cidades necessitem. Dessa forma, teremos profissionais com um olhar mais voltado às cidades”, afirma. “A pandemia mostrou que a casa é importante, mas o que a gente olha pela janela, é tão importante quanto”, diz.
A arquiteta ressalta que grande parte dos municípios do Estado não possuem arquitetos no quadro de funcionários. “Mais de 30% das cidades não tem Plano Diretor e não possuem o profissional adequado. E nós precisamos pensar em como articular as coisas da natureza com a vivência nas cidades, com as construções”, explica e reforça que o arquiteto é o profissional que deve pensar, antes de mais nada, a cidade e suas qualidades.
O CAU/SP lançará a abertura de uma linha de fomento para Residência Técnica (RT) em Arquitetura e Urbanismo, ainda para o final deste primeiro semestre. O chamamento público irá selecionar Instituições de Ensino Superior (IES) do Estado que, em parceria com o poder público, desenvolvam e executem projetos de pós-graduações latu sensu, voltados à formação continuada e capacitação de profissionais recém-formados com foco na atuação no setor público.. “Nas graduações já há esse pensamento, esse olhar para as cidades, pois trabalhamos o urbanismo, mas é preciso ter um canal que foque mais nesse tema e ajude o arquiteto a chegar nas prefeituras”, afirma Catherine.
Em parceria com o Conselho, duas instituições da cidade já estudam a oferta de cursos de pós-graduação latu sensu com foco no tema arquitetura e poder público, que é o responsável pelas transformações das cidades. “Estamos estruturando uma especialização, de 13 meses com aulas prático-teóricas e práticas. Ainda está em fase gestacional e contamos muito com o apoio do CAU”, conta Enrique Staschower, professor pesquisador dos cursos de Arquitetura e Administração da Fundação Santo André (FSA).
A USCS (Universidade de São Caetano) também já estuda a oferta de pós-graduação latu sensu. “Vamos nos aproximar da prefeitura da cidade para participar da discussão do Plano Diretor, documento que é pactuado com toda a sociedade e coloca cenários desejados para o desenvolvimento urbano e outras questões”, explica Ênio Moro Jr, gestor do curso de Arquitetura e Urbanismo da universidade, que avalia a ideia da residência como muito positiva. “Poderíamos discutir o processo do plano diretor, dentro do curso, e o resultado seria a minuta para compor o documento”, explica.
Projeto humanista da FSA
A FSA (Fundação Santo André) já trabalha o olhar mais humanista nos profissionais formados no curso de graduação de Arquitetura e Urbanismo. Um exemplo, foi a produção de alunos e docentes do Escritório Modelo, em parceria com a Prefeitura de Santo André, que resultou no projeto de intervenções na rua Carijós, no cruzamento com a rua das Hortências, na Vila Linda. A ideia dos autores foi tornar o munícipe protagonista daquela área e não os carros, como atualmente.
O projeto, criado por cinco alunas do 7º semestre do curso de Arquitetura e Urbanismo da FSA, sob supervisão do corpo docente do Escritório Modelo, foi feito com base no conceito de urbanismo tático e visa melhorias na segurança do trânsito e a integração de pedestres, com ampliação das calçadas, elementos que promovem a diminuição da velocidade dos automóveis, a ampliação da praça existente no local, que recebe área de exercícios e convivência, bem como espaço pet.
O projeto será apresentado a comerciantes e moradores da região. Para isso, o Escritório Modelo fará pesquisa de campo com questionário e apresentará o projeto. Após compilar os dados e promover as adequações solicitadas, a FSA encaminha o modelo final para a Prefeitura. De acordo com o termo de parceria, assinado pela FSA e Prefeitura, no dia 10 de dezembro do ano passado, após a entrega do projeto feito pela Fundação, cabe à Prefeitura avaliar a implantação e o investimento necessário para a intervenção. “A meta é que a implantação tenha início ainda em maio deste ano”, diz o professor.