Começa nesta quinta-feira (17/02) no ABC uma campanha organizada pelo CRP (Conselho Regional de Psicologia) que destaca a luta antimanicomial e o acesso à saúde mental de forma gratuita através do SUS (Sistema Único de Saúde). A campanha acontece em onze regiões do Estado e o ABC terá projeções nas paredes externas do Teatro Municipal de Santo André, com mensagens sobre o tratamento de doenças mentais e o combate às políticas de internação em manicômios. Para falar sobre o tema o psicólogo e subcoordenador da subsede do CRP a região, Davi Ruivo, participou do RDTv.
Segundo Ruivo a campanha visa incentivar o cuidado com a saúde mental e que esse é um direito conquistado. “O objetivo é buscar informar a população dos direitos e tirar os estigmas, os preconceitos, visando uma tratativa mais saudável e menos amedrontada sobre as questões da saúde mental”, explica. Santo André é a segunda cidade a receber a campanha que teve início em São José dos Campos.
O psicólogo lembra a história recente do país e a luta pelo aperfeiçoamento da legislação em torno do tema. “Muito da nossa história com relação à saúde mental não é falada. Temos histórias tristes de infrações ao direito, à liberdade e violações dos direitos humanos. Antes do SUS a gente tinha atrocidades como foram os hospitais psiquiátricos, uma lógica manicomial em que quando a pessoa era entendida como desajustada, pessoas em situação de rua, ou pessoas dentro da vulnerabilidade de transtornos mentais eram internadas, isoladas e aprisionadas. Temos o holocausto brasileiro no hospital de colônia de Barbacena, onde pessoas foram internadas sem diagnóstico, compreendidas como loucas e muitas delas foram mortas, aproximadamente 60 mil pessoas. Então quando a gente busca trazer a lógica do cuidado em liberdade, isso é compreender o acesso gratuito, via SUS, e desestigmatizar o que se diz de loucura. Porque aquilo que não se trata tem que excluir, segregar ou até mesmo pensar em destruição?”, indaga o profissional.
Davi Ruivo diz que os conselhos de psicologia estão preocupados constantemente em garantir o acesso gratuito à saúde mental. “Existem políticas dentro do SUS, políticas que foram construídas, diretrizes, notas, que inclusive a gente passa pelo desafio de desmontes. A luta é para que essas portarias do Ministério da Saúde não coloquem em risco tudo aquilo que a gente trabalhou e lutou durante tanto tempo que é uma lógica não manicomial”.
A campanha com as projeções nas paredes do teatro de Santo André acontece a partir desta quinta-feira (17) das 19h às 21h. “Esse é um chamamento não só para a categoria de psicólogos e psicólogas, mas também para a sociedade se atentar a cuidar da saúde mental. A lógica manicomial vai contra o nosso conceito de atendimento em liberdade, que não é abrir mão da pessoa, é um cuidado sistemático e multidisciplinar. Ainda temos muito preconceito em relação à saúde mental e isso se combate com informação com conhecimento. A conscientização da sociedade é uma forma da gente diminuir o preconceito e, inclusive, que elas possam identificar que têm direito a um cuidado público. A saúde mental não é um problema só do indivíduo, mas o quanto a sociedade nos afeta e o quanto temos que prestar atenção para esse coletivo”, conclui Davi Ruivo.