Entre os dias 4 e 5 de fevereiro, representantes do coletivo a Voz dos Rios, em parceria com membros da Associação Bertioguense de Ecoturismo (Abeco), promoverão uma expedição ao Rio Itapanhaú, em Biritiba-Mirim, divisa com Bertioga, com objetivo de analisar as águas e a qualidade ambiental do entorno. Atualmente, o rio e toda a região vêm sofrendo as consequências de uma obra de transposição executada pela Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), que visa abastecer o sistema Alto-Tiête, responsável pelo fornecimento de água à capital e região metropolitana de São Paulo.
Em entrevista ao RDtv, nesta quinta-feira (03/02), o presidente da Abeco, Raphael Rodrigues, falou sobre a luta da sociedade civil do litoral paulista para obter mais informações sobre a obra e entender os reais impactos que serão causados em toda região. “O licenciamento foi feito de forma muito rasa, com um estudo ambiental muito superficial. Não houve transparência por parte da Sabesp”, afirma Rodrigues. Com a falta de diálogo e o avanço da obra, a associação sentiu a necessidade de criar um sistema de monitoramento do rio, em paralelo às ações da companhia.
É a partir deste momento que a Abeco se aproxima do Coletivo A Voz dos Rios e segue para uma expedição, primeiro pelas águas (com saída da foz) e depois por trilhas, até o local onde se forma o Rio Itapanhaú. “Nosso objetivo é coletar amostras e averiguar quais impactos estão ocorrendo na área. A partir daí, vamos montar um relatório e confrontar com os dados fornecidos pela empresa responsável. Faremos um sistema de monitoramento independente”, explica Marta Marcondes, bióloga e coordenadora do Projeto IPH (Índice de Poluentes Hídricos) da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), durante entrevista.
Com nascente localizada na região da Serra do Mar, o Rio Itapanhaú encontra o Oceano Atlântico por intermédio do Canal de Bertioga, em um percurso de 40 quilômetros, que abriga ecossistemas de mata atlântica, como os manguezais. “Estamos falando do maior rio do litoral paulista, que vai sofrer grandes impactos com essa transposição. Essa ação é feita para cuidarmos do futuro, queremos evitar que haja a redução da água ou a salinização dela, o que prejudicaria a vida do ecossistema que lá habita”, alerta Sandro Nicodemo, diretor da Puzzle Arte e Meio Ambiente. “Trazer essa sensibilização é o papel do nosso Coletivo. Precisamos mostrar que os impactos sofridos por aquela região, serão os mesmos sofridos em outras cidades. Criam-se feridas, que se não dermos atenção, não conseguiremos reverter no futuro”, ressalta.
Segundo Marcondes, a obra de transposição do Rio Itapanhaú fere normas do Código Florestal, que protege encostas, topo de morros, nascentes e beiras de rios. “A mudança ambiental causada no local afeta todo um ecossistema. Essa obra só está sendo feita, porque não são realizadas ações de preservação e manutenção dos nossos mananciais, como a Represa Billings, que se preservada adequadamente é capaz de abastecer toda a nossa região”, explica.
Além dos problemas ambientais, as obras na região podem afetar o turismo e a economia de cidades como Bertioga. “Há pessoas que trabalham com turismo aqui na região. E os turistas gostam de visitar locais bonitos e preservados. Navegar pelo Rio Itapanhaú é como navegar pelas águas do Pantanal. É um local privilegiado e lindo, que está ameaçado”, finaliza Rodrigues.