Contraventor é preso na Colômbia por assassinato de suposto concorrente no Rio

Três acusados de participar da morte do contraventor Alcebíades Paes Garcia, o Bid, em fevereiro de 2020 no Rio de Janeiro, foram presos na sexta-feira, 28, e neste sábado, 29. Acusado de ser o mandante do crime, o contraventor Bernardo Bello foi preso na sexta-feira em Bogotá, na Colômbia, em operação realizada pelo Ministério Público do Estado do Rio (MP-RJ), pela Polícia Civil do Rio e pela Interpol (polícia internacional) do Brasil e da Colômbia. Os outros dois foram presos no Rio na manhã deste sábado.

Na madrugada de 25 de fevereiro de 2020, Bid saiu do sambódromo do Rio de Janeiro e chegava à casa da namorada, na Barra da Tijuca (zona oeste do Rio), quando foi morto a tiros de fuzil. O atirador estava em um carro preto parado em frente ao condomínio para onde Bid se dirigia. Quando o contraventor chegou, transportado de van e acompanhado de seguranças, foi alvo dos mais de 20 tiros. Os demais ocupantes do veículos saíram ilesos.

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Segundo o MP-RJ, o mandante do crime foi Bernardo Bello, que disputava com Bid o controle sobre pontos de jogo do bicho no Rio. Bid administrava as bancas controladas pela família desde que seu irmão Waldemir Paes Garcia, o Maninho, foi assassinado, em 2004. A prisão de Bello foi decretada pela juíza Tula Mello, do 1º Tribunal do Júri do Rio de Janeiro, e concretizada em Bogotá com a ação conjunta do Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e da Coordenadoria de Segurança e Inteligência (CSI) do MP-RJ, da Delegacia de Homicídios (DH) do Rio de Janeiro e da Interpol brasileira e colombiana.

Neste sábado foram presos no Rio Thyago Ivan da Silva e Carlos Diego da Costa Cabral, que foram contratados como seguranças de Bid para a ida ao sambódromo e na verdade, segundo o MP-RJ, eram informantes e aliados de Bello. Além de informar a localização da vítima, eles teriam abandonado a função de vigilantes para a qual haviam sido contratados.

Também teve a prisão decretada, mas estava foragido até a publicação desta reportagem, Wagner Dantas Alegre, segurança de Bello e apontado como autor dos disparos de fuzil calibre 5,56 que mataram a vítima. Ele seguia sendo procurado pela polícia.

Outros dois acusados tiveram a prisão decretada, mas já estavam detidos desde julho de 2020, por outros crimes. Leonardo Gouvêa da Silva, conhecido como Mad, e seu irmão Leandro Gouvêa da Silva, chamado de Tonhão, teriam monitorado a vitima pelo menos desde setembro de 2019.

Segundo a polícia, pelo menos Mad e Tonhão são integrantes do Escritório do Crime, grupo de matadores de aluguel que foi comandado por Adriano da Nóbrega, o capitão Adriano, morto na Bahia em fevereiro de 2020, durante confronto com policiais militares daquele Estado. O Escritório do Crime estaria ligado ao assassinato da vereadora Marielle Franco, ocorrido no Rio de Janeiro em março de 2018.

Resposta. O advogado de Bernardo Belo, Fernando Augusto Fernandes, divulgou nota em que afirma que seu cliente estava viajando pelo exterior com os filhos menores de idade e foi preso retornando ao Brasil. “Ele é inocente dos fatos que lhe imputam e vale informar que sempre esteve à disposição das autoridades brasileiras”, afirma a nota. O advogado afirma que vai impetrar habeas corpus para tentar libertar Bello.

Histórico. Bid integra uma família de contraventores que há quase duas décadas têm conflitos entre seus integrantes. Ele é filho de Waldemir Garcia, o Miro, que na década de 1980 controlava cerca de 250 bancas de jogo do bicho no Rio, e irmão de Waldemir Paes Garcia, o Maninho. Este foi morto em 28 de setembro de 2004, aos 42 anos, quando saía de uma academia de ginástica em Jacarepaguá (zona oeste do Rio), acompanhado pelo filho, Waldemir Paes Garcia Júnior, o Mirinho, então com 15 anos. O adolescente saiu ileso.

Na época, Maninho era o administrador das bancas de jogo do bicho que o pai tinha – o negócio já havia crescido para 1.500 bancas e 7.000 máquinas caça-níqueis, segundo estimava então a polícia. Abalado com a morte do filho, Miro morreu 34 dias depois, aos 77 anos, de infecção pulmonar. Pai e filho tinham uma estreita ligação com a escola de samba Salgueiro – Miro presidiu a agremiação de 1988 a 1993, ano em que a escola venceu o desfile na Sapucaí com o enredo “Peguei um Ita no Norte”, e quando morreu era o presidente de honra; Maninho era o presidente do Conselho Fiscal e patrono da escola, quando foi morto, e seu velório ocorreu na quadra do Salgueiro, com a presença de celebridades como os ex-jogadores de futebol Renato Gaúcho e Edmundo.

Com a morte de Maninho, Bid passou a controlar os negócios da família, mas logo começou a briga familiar pelo controle do império. Poucos meses depois, uma das filhas de Maninho, Shanna Harrouche Garcia, casou-se com José Luiz de Barros Lopes, o Zé Personal, que era personal trainer de Maninho, e o casal passou a disputar com Bid o controle dos pontos de jogo do bicho.

Em janeiro de 2008, Shanna foi acusada por Bid (tio dela) de invadir sua fazenda e fazer ameaças. O caso foi levado à polícia.

Em 2009, Zé Personal foi apontado como responsável pelo assassinato de Rogério Mesquita, ex-administrador do haras de Maninho e supostamente aliado de Bid. Dois anos depois, Zé Personal, então com 39 anos, foi assassinado enquanto se consultava com um pai de santo na Praça Seca (zona oeste).

Em abril de 2017, Mirinho, que nunca foi investigado por envolvimento com o jogo do bicho e se apresentava como jogador de pôquer, foi sequestrado na Barra da Tijuca. Os criminosos pediram R$ 100 mil, que foram pagos. Após receber o dinheiro, os criminosos mataram Mirinho.

Em 8 de outubro de 2019, Shanna sobreviveu a uma tentativa de assassinato. Ao parar em frente a uma galeria no Recreio dos Bandeirantes (zona oeste) para ir a um salão de beleza, ela foi alvejada, mas se recuperou.

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